28 abril 2007

Alprazolam: o "vá para fora cá dentro" da minha mente!

Alprazolam.
Nome sem nexo, que não diz nada a não ser uma sentença.
Que raio é Alprazolam?
Nos dias de hoje, em meia dúzia de cliques consegue-se saber tudo, inclusive que Alprazolam é o princípio activo de muitos ansiolíticos, presente também no Xanax.

Eu ando a tomar o genérico do Xanax??

Por estúpido que pareça, saber disto deixa-me ainda mais ansiosa. Mas não o suficiente para me passar dos carretos, como de costume.

Passadas quase duas semanas de tratamento, decidi fazer um ponto da situação: quando antes me stressava por tudo e por nada e, muitas vezes, sem saber porquê, agora deixo-me apenas embalar nas ondas de uma serenidade generalizada. Claro que continuo com picos de nervos, mas sinto-os como os apitos dos barcos ao longe na costa. Estou tão deliciada a curtir a onda que nem dá para me preocupar.
Cada dia que passa é mais um dia de férias que dou ao meu coração, à minha cabeça e ao meu sistema nervoso.
Um dia de férias, cheio de sol, com água quentinha de fazer tomar banho até engelhar os dedos das mãos e dos pés.
Alprazolam não é a minha cura milagrosa. É tipo férias no Algarve, em pleno Verão, em boa companhia, em que os únicos ataques de suores se devem apenas às vagas de calor, e as crises de pânico só por não ter posto o protector solar no peito dos pés (!).

20 abril 2007

Tou pirada!!!

Bate leve, levemente
Como uma coisa ruim
Será álcool?
Será gente?
Porra, nem a coca bate assim!
Fui ao médico:
Era ansiedade.

Eu sempre tive pancada, não é de agora. Agravou-se com a faculdade e piorou com o ano curricular do mestrado, em que estive a leccionar em 3 escolas de 3 distritos diferentes no mesmo ano lectivo.

Lá fui eu, toda convencida que mais umas caixinhas de Valdispert fariam o jeito. O calmante é natural mas já só me fazia efeito aos 6 por dia (não stressem, porque é fraquinho!). Quando contei os ataques de pânico, as tendências anti-sociais e os sintomas psicossomáticos, a médica fez aquela cara que os adultos costumam fazer às crianças antes de lhes darem uma colher de óleo de fígado de bacalhau. Lembram-se? É do estilo: "Tem de ser!"
Receitou-me um ansiolítíco e quando eu perguntei se era preciso fazer desmame, a médica estava mais preocupada em frisar que daqui a 3 meses até posso vir a aumentar a dose.

Cheguei a casa e chorei, claro. Ninguém gosta de saber que tem um sistema nervoso parassimpático (sim, que de simpático não tem nada), sobre o qual não se tem qualquer controlo racional, que pode desencadear sintomas embaraçosos como suar excessivamente e originar enormes manchas vermelhas no peito (a ponto de os alunos pensarem que tinha sido um escaldão, vejam bem!!).
"Tens de te mentalizar que tens de viver com isso" dizia ela. "Isso" são as pancadas do meu sistema. Máximo dos máximos posso adormecê-lo um bocadinho, mas não é coisa que se cure.
Boa!

Apesar de tudo, estou a ver os próximos 3 meses como umas férias para os meus nervos. São 3 meses em que poupo o meu coraçãozinho de bater descontroladamente fora das aulas de ginástica. Em que me vão dizer: "O quê? Ainda não fizeste o Projecto Curricular de Turma? Estás despedida!" e eu vou estar demasiado zen para entrar em paranóia com isso.

O meu problema com a ansiedade é eu pensar a 100 à hora e escalar de desgraça em desgraça. Quando penso que tenho alguma coisa para fazer, logo me ocorre que não tenho tempo, que talvez não consiga fazê-lo, que não tenho capacidades, e que as minhas chefias me vão questionar por isso, e que eu vou passar a vergonha de lhes dizer que não consigo dar conta do recado, e que elas me vão despedir e dizer "não serves para nada", e que eu assim não vou conseguir arranjar outro emprego, e que vou morrer à fome.
Agora com os comprimidinhos só tenho é sono, por que ainda estou na fase de adaptação e quando penso que tenho alguma coisa para fazer... faço-a, porque nem tenho cabeça para me pôr a pensar em mais do que isso.
É um descanso!!

Tenho três meses pela frente de time out. Que delícia! Poder viver sem ter a perspectiva de fim do mundo no horizonte dos meus dias!
:)

12 abril 2007

E as ervas daninhas crescem...

Descobri esta semana o que já andava a desconfiar há algum tempo. O blog é um programa de entretenimento (pessoal) e não pode ser um muro de lamentações, onde entalo religiosamente os papelinhos dos meus cochichos.

Depois de ter sido descoberta no início do ano lectivo pelos meus alunos no Hi5, coisa que já nem me lembrava de me ter registado, fiquei muito céptica em relação à minha exposição no mundo virtual.

Isto até parece piada - eu que me escarrapacho toda nos cochichos - mas é um facto que tudo o que aqui digo pode ser lido por qualquer pessoa. E assim podia acontecer inofensivamente, se não houvesse pessoas com más intenções, e essas bem podem utilizar os meus cochichos como arma de arremesso.

Isto para dizer...
Isto para dizer tanta coisa, que não pode ser dita nestes termos.

Lembro-me dos cadernos e diários gráficos que carregava na faculdade, onde desabafava o que me ia na alma fosse onde fosse. Escrevia sem acanhamento, porque aquelas palavras destinavam-se só aos meus olhos. Dizia tudo de uma maneira pura, sem censuras, a cru.
O blog permite apagar, fazer um preview, acertar o parágrafo e os espaços... mas nunca num blog vou poder manchar as letras com lágrimas, como antigamente o fazia. Pequenas bolas que desbotam a tinta da caneta, desfocando as palavras acabadinhas de escrever.
Eu falava para mim: o literal "one woman show".
Ralhava comigo e dizia: "Ana Sofia, vê se aprendes!"
Odeio que me chamem por Ana Sofia, e no entanto é assim que me chamo, claro, quando ralho comigo!

Isto para dizer...
Isto para dizer que me apetecia escrever muita coisa, numa forma muito específica, mas ao pensar nas consequências, no que pode acontecer... Afinal isto é público. Quando Sócrates emendou o documento para a sua biografia não sonhava que ele hoje estaria escarrapachado nos jornais, não é? Eu, graças a Deus e a alguma réstia de sanidade, não sou primeira-ministra. Mas ser professora, à minha escala, reflecte a mesma visibilidade. Sou alguma espécie de autoridade, e as autoridades conservam-se com uma determinada imagem recatada, contida, por vezes grandiosa. Qualquer gaffe custa-nos a reputação. Porque os miúdos serão sempre miúdos e eles vivem dessas coisinhas, onde por momentos se sentem a dominar.

Isto para dizer...
que não disse nada e já disse demais.

Não me posso queixar de nada, mas a minha cabeça tortura-me com as mais ínfimas coisas. Consigo infernizar a minha própria vida e vivê-la com uma intensidade já patológica. Mas há tantas coisas, daquelas pequeninas, que apetece escrever, mas que só a mim pertencem e fazem sentido. Não posso, por isso, fingir que neste blog escrevo só para mim. Não nego que nos meus caderninhos também não escrevia só para mim. Muitas das vezes dirigia-me ao leitor, como se fosse alguém diferente da minha pessoa (!).

Isto para dizer...
Isto para dizer que as papoilas, no verde, remam contra a corrente. A papoila é uma flor que traduzida em pessoa, estaria descalça, de saia vermelha ao vento. A papoila alta e esguia tem um ar altivo, quase arrogante. Quando olho para elas entre o verde da paisagem vejo flores despeitadas, que contra tudo e todos se erguem desempoeiradas (como adoro este termo!) sem pedir autorização nem desculpa a ninguém.

Olho para as papoilas todos os dias e apetece-me ficar ali com elas, a bambolear-me, e a chatear as ervas daninhas por não ceder na cor.
Gostava mais de ser papoila.
Não sou.
E as ervas daninhas crescem...

07 abril 2007

Levanta-te e anda!

Esta era a frase que me ocorria quando tirei a foto, algures perdida entre Segura e o Rio Erges, no Parque Natural do Tejo Internacional.
As caminhadas no concelho de Idanha-a-Nova, refrescam-me o espírito e põe-me fresquinha para a última etapa lectiva, já prestes a começar.

Foram 20 km no fim de semana passado e ontem a afamada subida à serra da Arrábida. Já tenho os pecados todos pagos para o resto do ano!

Apesar do esforço, o que é facto é que stress é palavra que desapareceu do meu dicionário. E uma nova força de vontade toma conta de mim, para pôr mãos ao trabalho.
Que se lixem as preocupações, os receios, as hesitações. Há coisas maravilhosas neste mundo e nós nem damos por elas.
Parar para choramingar no caminho, a dizer coisas como: "Doem-me os pés, especialmente os dedos grandes e o mindinho do lado esquerdo!"; "Doem-me os glúteos por causa da aula do Diogo!"; "Está a chover a potes e nós não conseguimos achar uma árvore para nos abrigar!"; "Tenho fome e a comida acabou!"; "As vacas não têm cerca e estão a olhar para nós!"; "Quero tomar um banho!"; "Esqueci-me do bastão de caminhada no carro!"... são tudo coisas que não valem de nada. Choramingar para quê? Vamos ter de acabar a jornada e parar no caminho só nos vai atrasar mais.

Por isso, e porque eu choramingo por tudo e por nada (por ter fome, ter sede, ter sono, ter dor de cabeça, ter frio, por estar mal disposta, por as pilhas da máquina fotográfica terem acabado...) aqui fica a minha liçãozinha do dia:

Levanta-te e anda!
;)