O estômago ressoa... a televisão do vizinho também. Oiço o meu dedilhar no teclado com um episódio qualquer do House como paisagem.
Estou chateada, pois 'tá claro que estou chateada.
Há quem goste de cães, e há quem prefira gatos. Há quem veja as Donas de Casa Desesperadas ou quem não perca um Dr. House.
Eu sou pelos cães e pelo Dr. House. Sou daquelas pessoas que acham os cães absolutamente adoráveis por estarem incondicionalmente lá para nós, e que rejeitam a identificação do típico desinteresse dos gatos com algum traço de personalidade vincada. Conheço pessoas que são como os gatos, ou como eu os vejo. Fingem ser importantes para aparentarem personalidade. Ainda estou na dúvida se conheço pessoas como os cães. Estar lá, incondicionalmente, sempre, é uma tarefa difícil. Bom, posso dizer que conheço pessoas como a minha Sissi, que quando está nas suas gravidezes psicológicas não me liga nenhuma. Fora isso, é uma querida!
Arrumo as pessoas em prateleiras. As que gostam de cães, as que gostam de gatos, as que se parecem com cães, as que se parecem com gatos, as que lutam pela vida, as que baixam os braços e esperam que ela aconteça, as que reclamam, as que agradecem, as que vivem o momento, as que passam os momentos todos a pensar em viver uma vida decente...
As prateleiras estão organizadas em altura, mas para quem as ocupa a altura é apenas uma condição de diferença e não de hierarquia. Eu só gosto de saber onde tenho as coisas.
Eu própria, gosto de me arrumar em prateleiras, mesmo que isso não passe de uma simples presunção da minha parte.
Neste momento, estou em arrumações, a acertar as coisas, a encontrar a prateleira certa para alguns e para mim.
E depois de hoje, do dia de ansiedade, dos pensamentos soltos e revoltos, das memórias inapagáveis, só quero ocupar a prateleira das meninas com umas sandálias brancas.
Lindas, claro!
As sandálias, por supuesto.
Vá, pronto, e as meninas também!
Podem pensar que me sobra a presunção, que eu, presumida, prefiro pensar que me falta a modéstia.
;)
30 junho 2007
25 junho 2007
A minha turma é liiiiiinnda!!
O cheirinho a marchas ainda está no ar e o orgulho e bairrismo fazem-se sentir no meu coraçãozinho de professora. A Gala dos Finalistas de 9º ano decorreu no sábado passado e o pensamento que mais electrocutou os meus neurónios foi:
A minha turma é liiiiiiiiiinnda!
A semana foi intensa. O culminar de um trabalho de meses, que terminou com a decoração da sala para a festa. Andámos a cortar e a forrar estrelas em prateado para cubrir o tecto de um pavilhão amplo. Foi o delírio! Até os professores destacados como suplementes para as vigilâncias dos exames colaboraram nesta empreitada. Pensam que havia horas mortas na sala dos professores? Qual quê! Tudo ali de tesoura, x-acto e cola na mão!
As estrelas apareceram, e os livros de curso foram feitos, tudo graças aos professores. Houve quem andasse empoleirado no andaime a pendurar as decorações, outros a fazer slide shows que compilaram as fotos dos miúdos desde o 7º ano, e muito, muito, muito, muito mais trabalho que se traduziu nas milhentas pequenas coisas, que por vezes são o que mais empata nestas situações.
A noite de 6ª feira foi longa e o sábado foi dedicado aos arranjos finais que foram só desde a manhã, até ao final da tarde! Tempinho com a família? LOL! Eu já mal via o André durante a semana e posso dizer à boca cheia que não fui eu a que mais trabalhou!
Ninguém trabalhou para ter agradecimentos, mas custa sempre ouvir a deixa do:
"- Ah és professora? Grandes férias, hã?"
Ser professora é um estado que nos obriga a ver as coisas na perspectiva do que é preciso fazer e não do que nos mandam fazer. A chefe não pediu a ninguém para trabalhar ao sábado, e no entanto estavam lá professores e funcionários a trabalhar incansavelmente e sem dinheiro extra no final do mês. Escusado será dizer que a única coisa que ganhámos foi um cansaço extremo.
No sábado, eu já estava saturada de tudo e só me apetecia ficar a descansar em casa como qualquer trabalhador que não tem tantas férias como os professores :P
O tempo estava bom, a malta ia para a praia e eu de castigo na escola. Estava tão contrariada... Todos tínhamos consciência de que o trabalho seria inglório e que os miúdos nem iam dar valor a metade do nosso esforço. Mesmo assim, lá estivemos, sempre a dar no duro, e a apoiarmos-nos mutuamente.
Houve professoras extraordinárias que, literalmente, fizeram brilhar aquela festa. Completamente incansáveis e sempre bem dispostas. Eu fiz o que pude para colaborar com elas, mas reconheço-lhes aqui o empenho sem limites num trabalho que merece ser louvado.
Lá para as 8 e meia da noite, cheguei à festa, toda aperaltada! A Presidente do Conselho Executivo nem acreditava que a fulana de fato macaco com máscara no rosto, que esteve durante a tarde a pintar estrelas com spray prateado, era eu! Uma Cinderela contrariada, a trabalhar contrariadamente numa noite de sábado, deixando em espera um fim de semana merecido.
Mas, assim que descubro a minha mesa, vem uma aluna da minha Direcção de Turma ter comigo em pulgas:
"-Stôra!!!! Nós estamos lá ao fundo!"
Eu olhei para ela e só pude rasgar o maior sorriso sincero que encontrei: "ela estava tão linda!"
Lá fui eu, mãe-galinha, ter com os meus pequenotes e a sentença era sempre a mesma. Eles estavam lindos! Todos aperaltadinhos, nos seus penteados, vestidos, gravatas, sapatos e malas... um absoluto must!
Quando regressei à minha mesa, para dar início ao jantar, logo aí já tudo tinha valido a pena, já a contrariedade se havia escapulido de vergonha, porque eu era uma Directora de Turma babada e orgulhosa, a pensar com o coração cheiiinho (e por favor, leiam em jeito de pregão):
"A minha turma é liiiiiiiiiiiiinda!"
11 junho 2007
A vergonha das vergonhas!!
Hoje vinha eu da minha (bem sucedida!!!) reunião de Direcção de Turma, depois de uma manhã recheada de... (à falta de melhor palavra) "assertividade", quando um fulano me abordou. Eu já estava dentro do carro, de porta aberta, ao telefone e o homem não hesitou em interromper-me. Não percebi muito bem o que estava a dizer, pois enrolava-se nas palavras, e cheguei mesmo a pensar que estava prestes a ser assaltada, mas o que o homem tinha era fome.
"Não como há dias, não me pode pagar o almoço?"
Naquela situação estúpida de ouvir o André do outro lado a perguntar se eu o estava a ouvir, completamente baralhada sem saber a quem atender, respondi:
"-Dê-me só um minuto que eu já lhe pago o almoço, pode ser?"
De repente, ena pá... porra!!! Não tenho dinheiro!!
Quando eu não tenho dinheiro é não ter mesmo nada. Já tinha saltado de uma reunião para a outra só com um pão de leite com fiambre e manteiga (sem um suminho), porque o dinheiro do cartão da escola não dava para mais e eu tinha-me esquecido de levantar dinheiro.
Volto outra vez:
"- Olhe, não tenho dinheiro nenhum quer ver?" Mostro-lhe o interior da minha carteira, acabada de tirar da mala, e deixei-o ver o panorama da minha tristeza.
Uma moeda de 1 cent., outra de 5 cent., um botão e o Santo Onofre.
Será que o botão no mercado negro renderá alguma coisa? Como pretendia eu pagar o almoço a alguém nestes termos? Só se fosse pago em preces!!!
O homem olhou desiludido para mim, com aquele ar do estilo: "xiii, ainda estás pior que eu", enquanto eu insistia:
"- Fique com os 6 cêntimos!"
Sim, claro, porque o botão e o Santo Onofre são valiosíssimos, oh Ana Sofia, por favor, poupa-me!!
Eu faço-me passar cada vergonha...
O homem olhou para mim, como se eu estivesse a importuná-lo e afastou-se sem dizer mais nada.
"Caramba, pensei eu, nem os pobres aceitam o que tenho para dar...!" É curiosa esta forma de orgulho, que contraria a ganância do espírito do "grão a grão enche a galinha o papo". Talvez seja uma forma de auto-preservação: "ou me pagas o almoço, ou também não quero andar a juntar".
Não percebi, mas achei que a cena era insólita o suficiente para não ficar perdida no esquecimento. Ainda para mais quando o Santo Onofre esteve directamente envolvido neste enredo, e tendo sido ele o principal causador de tudo isto.
Para quem não sabe, a figura do Santo Onofre deve andar sempre connosco na carteira "para que nunca nos falte o dinheiro". Tem ainda a particularidade de não poder ser adquirido por nós. Tem de ser outra pessoa a oferecer-nos, neste caso, foi a minha mãe.
E anda aqui uma pessoa, na maior parte das vezes com o Santo Onofre a tomar banho nas notas e moedas do meu porta-moedas, e ele, no dia de hoje, faz-me uma desfeita destas!!!!
Oh, valha-me Santo Onofre!!!
P.S. - Quanto ao botão... bom, eu sou supersticiosa, mas não tanto. É mesmo desleixo de o coser no meu casaco verde :)
"Não como há dias, não me pode pagar o almoço?"
Naquela situação estúpida de ouvir o André do outro lado a perguntar se eu o estava a ouvir, completamente baralhada sem saber a quem atender, respondi:
"-Dê-me só um minuto que eu já lhe pago o almoço, pode ser?"
De repente, ena pá... porra!!! Não tenho dinheiro!!
Quando eu não tenho dinheiro é não ter mesmo nada. Já tinha saltado de uma reunião para a outra só com um pão de leite com fiambre e manteiga (sem um suminho), porque o dinheiro do cartão da escola não dava para mais e eu tinha-me esquecido de levantar dinheiro.
Volto outra vez:
"- Olhe, não tenho dinheiro nenhum quer ver?" Mostro-lhe o interior da minha carteira, acabada de tirar da mala, e deixei-o ver o panorama da minha tristeza.
Uma moeda de 1 cent., outra de 5 cent., um botão e o Santo Onofre.
Será que o botão no mercado negro renderá alguma coisa? Como pretendia eu pagar o almoço a alguém nestes termos? Só se fosse pago em preces!!!
O homem olhou desiludido para mim, com aquele ar do estilo: "xiii, ainda estás pior que eu", enquanto eu insistia:
"- Fique com os 6 cêntimos!"
Sim, claro, porque o botão e o Santo Onofre são valiosíssimos, oh Ana Sofia, por favor, poupa-me!!
Eu faço-me passar cada vergonha...
O homem olhou para mim, como se eu estivesse a importuná-lo e afastou-se sem dizer mais nada.
"Caramba, pensei eu, nem os pobres aceitam o que tenho para dar...!" É curiosa esta forma de orgulho, que contraria a ganância do espírito do "grão a grão enche a galinha o papo". Talvez seja uma forma de auto-preservação: "ou me pagas o almoço, ou também não quero andar a juntar".
Não percebi, mas achei que a cena era insólita o suficiente para não ficar perdida no esquecimento. Ainda para mais quando o Santo Onofre esteve directamente envolvido neste enredo, e tendo sido ele o principal causador de tudo isto.
Para quem não sabe, a figura do Santo Onofre deve andar sempre connosco na carteira "para que nunca nos falte o dinheiro". Tem ainda a particularidade de não poder ser adquirido por nós. Tem de ser outra pessoa a oferecer-nos, neste caso, foi a minha mãe.
E anda aqui uma pessoa, na maior parte das vezes com o Santo Onofre a tomar banho nas notas e moedas do meu porta-moedas, e ele, no dia de hoje, faz-me uma desfeita destas!!!!
Oh, valha-me Santo Onofre!!!
P.S. - Quanto ao botão... bom, eu sou supersticiosa, mas não tanto. É mesmo desleixo de o coser no meu casaco verde :)
05 junho 2007
Eu tenho um Kokas!
Há os bilhetinhos, os desenhos, os cartões, os desejos de felicidades, os pedidos do número de telemóvel e e-mail para não perder contacto, há os colares tirados do pescoço para oferecer à professora, há pulseiras exclusivamente feitas para ela, há plantinhas que foram oferecidas com tanto amor que passado um ano já consegui mais meia dúzia de rebentos para plantar noutros vasos.
Há tudo isto, mas este ano eu tive um Kokas!
Era esta a maravilhosa notícia que eu tinha para contar. E ao contrário do que escrevi no post anterior, esta até me deu preocupações. Preocupações suficientes para nem me apetecer escrever no blog.
Os professores, ao longo da sua carreira, vão recolhendo despojos de guerra.
Uma guerra nem sempre ganha, mas desbravada com suor e dedicação, ambos em demasia no meu caso.
O suor é próprio da ansiedade, mas a dedicação, se é que assim se pode chamar, não é nada apropriada. Não preciso de ler muitos livros para perceber que tenho traços de personalidade obsessiva. Aquilo que eu costumo chamar de dedicação é, no fundo, um comportamento obsessivo. Não consigo parar de pensar nos miúdos, nos seus problemas e no papel que eu posso ter para resolver tudo. Como se pudesse efectivamente resolver tudo...
Sinto que dou mais do que por vezes até quero dar, faço-o sem a mínima consciência e muitas vezes contra-vontade. Mas na minha desordem obsessivo-afectiva há sempre um momento (que não é mais do que isso) em que todos os dias em que vim para casa a reclamar dos alunos, sem me conseguir calar, a chorar por causa deles, a remoer no que me disseram, a matutar no que hei-de fazer para lhes pôr um sorriso na cara, simplesmente, valeram a pena.
Posso convencer-me disto o ano inteiro, mas no fundo, no fundo, só acredito nestes breves momentos.
Não sou profissionalizada. Não estou por isso super-hiper-mega qualificada para a docência. A minha licenciatura e pós-graduação dá direito a ter apenas uma habilitação que permite dar aulas. Daí esta insegurança. Será que sou boa professora? Será que só faço asneiras com os miúdos? Será que faço pior do que aqueles que não fazem nada? Isto não me consome, mas ao longo dos anos vai produzindo os seus efeitos.
Até hoje, ou pelo menos até dia 24 de Maio, o mais que tinha obtido dos meus alunos foram os tais despojos de guerra. Finalmente, alguém percebeu a minha onda e fez o favor de atirar-me uma festa! (ou como tão bem dizem os ingleses: "throw me a party")
Eu fiz o cattering com a doçaria regional de Azeitão, eles levaram os sumos, pusemos música e fizemos uma festa de despedida à maneira, com muitas lágrimas à mistura.
No meio disto tudo, deram-me o Kokas (o sapo mais fofinho e mais fashion que existe - reparem no cachecol cor de rosa!).
Contive-me para não chorar, porque desta vez acho que ia parar ao hospital. Fiquei tão emocionada, tão comovida pela homenagem... e mais fiquei por saber que no primeiro dia que nos conhecemos eu, para eles, encarnava o Belzebu - bicho com cornos que não hesita em marcar faltas de atraso! Depois de muiiiiiiiiiita paciência para levar estas cabecinhas a bom porto, a tentar incutir-lhes bons valores e a tentar ensiná-los a conhecerem-se e a serem melhores pessoas, acabei por ter de arranjar espaço no meu coraçãozinho, já de si pequenino, para uma turminha especial.
Queria chorar em casa, tudo o que faltou chorar em plena aula, mas apareceram as preocupações. Nesse dia deixei que a inveja pudesse manchar um gesto tão bonito, o que me impediu de me sensibilizar como devia e chorar, pelo menos, três baldes de água salgada.
Nesse dia a inveja dos outros entupiu os meus canos, como se me devesse sentir culpada pelos alunos terem criado uma relação especial comigo e não com outros.
Hoje, não vou falar dessas preocupações. Tiveram o seu tempo e o seu estrago.
Hoje só merece ser lembrado o momento e o Kokas, que costuma estar por aqui, no sofá, para me manter sempre em contacto com os miúdos.
Eu sei que eles não lêem isto, mas aqui fica um enorme beijinho cheio de carinho e desejos de felicidades para a vida futura destes meninos.
E para que conste, esta turma era tão especial, que nem precisavam da festa, nem do Kokas, para ficarem comigo. Já cá estavam há muito tempo! :)
Há tudo isto, mas este ano eu tive um Kokas!
Era esta a maravilhosa notícia que eu tinha para contar. E ao contrário do que escrevi no post anterior, esta até me deu preocupações. Preocupações suficientes para nem me apetecer escrever no blog.
Os professores, ao longo da sua carreira, vão recolhendo despojos de guerra.
Uma guerra nem sempre ganha, mas desbravada com suor e dedicação, ambos em demasia no meu caso.
O suor é próprio da ansiedade, mas a dedicação, se é que assim se pode chamar, não é nada apropriada. Não preciso de ler muitos livros para perceber que tenho traços de personalidade obsessiva. Aquilo que eu costumo chamar de dedicação é, no fundo, um comportamento obsessivo. Não consigo parar de pensar nos miúdos, nos seus problemas e no papel que eu posso ter para resolver tudo. Como se pudesse efectivamente resolver tudo...
Sinto que dou mais do que por vezes até quero dar, faço-o sem a mínima consciência e muitas vezes contra-vontade. Mas na minha desordem obsessivo-afectiva há sempre um momento (que não é mais do que isso) em que todos os dias em que vim para casa a reclamar dos alunos, sem me conseguir calar, a chorar por causa deles, a remoer no que me disseram, a matutar no que hei-de fazer para lhes pôr um sorriso na cara, simplesmente, valeram a pena.
Posso convencer-me disto o ano inteiro, mas no fundo, no fundo, só acredito nestes breves momentos.
Não sou profissionalizada. Não estou por isso super-hiper-mega qualificada para a docência. A minha licenciatura e pós-graduação dá direito a ter apenas uma habilitação que permite dar aulas. Daí esta insegurança. Será que sou boa professora? Será que só faço asneiras com os miúdos? Será que faço pior do que aqueles que não fazem nada? Isto não me consome, mas ao longo dos anos vai produzindo os seus efeitos.
Até hoje, ou pelo menos até dia 24 de Maio, o mais que tinha obtido dos meus alunos foram os tais despojos de guerra. Finalmente, alguém percebeu a minha onda e fez o favor de atirar-me uma festa! (ou como tão bem dizem os ingleses: "throw me a party")
Eu fiz o cattering com a doçaria regional de Azeitão, eles levaram os sumos, pusemos música e fizemos uma festa de despedida à maneira, com muitas lágrimas à mistura.
No meio disto tudo, deram-me o Kokas (o sapo mais fofinho e mais fashion que existe - reparem no cachecol cor de rosa!).
Contive-me para não chorar, porque desta vez acho que ia parar ao hospital. Fiquei tão emocionada, tão comovida pela homenagem... e mais fiquei por saber que no primeiro dia que nos conhecemos eu, para eles, encarnava o Belzebu - bicho com cornos que não hesita em marcar faltas de atraso! Depois de muiiiiiiiiiita paciência para levar estas cabecinhas a bom porto, a tentar incutir-lhes bons valores e a tentar ensiná-los a conhecerem-se e a serem melhores pessoas, acabei por ter de arranjar espaço no meu coraçãozinho, já de si pequenino, para uma turminha especial.
Queria chorar em casa, tudo o que faltou chorar em plena aula, mas apareceram as preocupações. Nesse dia deixei que a inveja pudesse manchar um gesto tão bonito, o que me impediu de me sensibilizar como devia e chorar, pelo menos, três baldes de água salgada.
Nesse dia a inveja dos outros entupiu os meus canos, como se me devesse sentir culpada pelos alunos terem criado uma relação especial comigo e não com outros.
Hoje, não vou falar dessas preocupações. Tiveram o seu tempo e o seu estrago.
Hoje só merece ser lembrado o momento e o Kokas, que costuma estar por aqui, no sofá, para me manter sempre em contacto com os miúdos.
Eu sei que eles não lêem isto, mas aqui fica um enorme beijinho cheio de carinho e desejos de felicidades para a vida futura destes meninos.
E para que conste, esta turma era tão especial, que nem precisavam da festa, nem do Kokas, para ficarem comigo. Já cá estavam há muito tempo! :)