27 agosto 2008

O que faço à minha vida?

É sintomático quando fazemos esta pergunta para nós e, sobretudo, quando nos damos ao trabalho de a googlar.

"O que faço à minha vida?" digitei eu na caixinha de pesquisa. Surgiram, logo a seguir, vários ecos da minha pergunta.
De repente, lembro-me que o meu nada problemático estado de desorientação para se expressar, pode utilizar a mesma frase que um moribundo numa cama de hospital, um deprimido na beira da ponte, uma mulher que soube estar grávida de um filho que não tem possibilidades para criar, uma pessoa que chegou ao fim do mês sem que o dinheiro chegasse com ela até ao último dia...
Numerosos podem ser os problemas, e desastrosos também.

O meu não é um problema. Eu sou gaja, eu arranjo problemas onde eles não existem!
Senti vergonha de me pôr a googlar desgraças, que ainda por cima parecem ser mais dos outros do que minhas!

Valeu encontrar alguém que, pela maneira como expôs as coisas, presumi ser mulher e afinal era homem (com cadastro de mulher noutra encarnação, disso tenho a certeza!!).
"Aqui vos estendo, como um lençol na corda a secar, a minha opinião e a minha visão sobre a vida".

Hum... Habituei-me a acreditar que os homens, embora tendo a sua opinião, não possuem uma visão sobre a vida, porque isso são questões muito filosóficas e que de nada servem à sobrevivência humana. Não alimenta, não paga contas, não dá dias de férias. Eu, contudo, sou uma pessoa que gosta de filosofar. Filosofo sempre que me dá na telha, mas sobretudo à noite.

Deito-me e fico de luz acesa, a olhar no vazio, até que me apeteça ler. O André pergunta-me porque não me ponho a ler para mais depressa apagar a luz. Eu respondo sempre:
- Agora estou a pensar.

Eu deito-me, aconchego-me e penso. Penso... penso... penso... olho para as paredes púrpura e penso, olho para o candeeiro e penso, mexo os pés um num outro e penso. Penso. Tal como se respira, sem ser por vontade, sem ser pensado. Pensa-se e pronto.

Estes meus "pensares" por vezes evoluem e, lá para as duas da manhã, tornam-se argumentações filosóficas ao mais alto nível. Normalmente dou conta deles ao regressarmos de carro de uma sessão de cinema à meia noite, que termina por volta da hora crítica, e em que eu venho pelo caminho todo a falar sozinha, porque o André já adormeceu e já só vai a conduzir em piloto-automático.
Interpelo-o ao fim de um longo discurso, e convoco a sua perspectiva para me dar ainda mais balanço para a argumentação seguinte.

Claro que ele me dá um corte valente, porque àquela hora, só mesmo eu para dar na veia filosófica.
Não é a primeira vez que acontece, não será a última.

Isto para dizer que há certas pessoas mais atreitas a pensar no sentido da vida, das coisas, e das insignificâncias diárias, mas nunca pensei que também houvesse homens.

Aliás, a metáfora do lençol estendido como numa corda a secar é de um poder visual, de uma tal beleza, que por momentos me ocupou a visualizar alguém estendendo o lençol do seu pensamento. Que brancura, que frescura, que simplicidade. Como se o pensamento fosse Verdade, e a Verdade fosse o reflexo de cada um de nós.

É à noite que me dá para pensar. Com os lençóis todos emaranhados no corpo, procuro apenas a corda para os poder estender.

Todas as noites a mesma pergunta me faz pensar:
"- O que faço à minha vida?"
Todas as noites pego no livro e digo para mim:
"- Não vale a pena pensar nisso. Amanhã é outro dia."

19 agosto 2008

A minha casa é o meu refúgio...

A nossa casa é a nossa fortaleza. É onde recuperamos forças, onde saramos as feridas. É o nosso mundinho, o nosso cantinho, o pedacinho de chão que nos acolhe e o pedacinho de tecto que nos abriga.
É a força que nos protege e recarrega as baterias, mas não é inesgotável. As fortalezas também são atacadas, desvirginadas, corrompidas e aquilo que parecia ser o nosso último reduto é um canto do mundo como outro qualquer, exposto à adversidade, sem qualquer escudo.

Saio para férias, acho que sempre com o único motivo de querer voltar para casa. Tenho saudades da sala, tenho saudades do sofá, da cama, da almofada, da televisão, do estúdio... E desta vez, lá de longe, a casa parecia-me uma muralha deitada abaixo, impossível de reerguer, impossibilitada de me proteger.

Cheguei a casa? Isto não é casa. Cheguei ao sítio onde moro, saudosa por um lugar que não existe mais aqui, um lugar de paz para mim.

As muralhas estão derrubadas, e depois das "férias" só me resta arregaçar as mangas e começar a levantar a altura dos muros. Diz a experiência que a adversidade não irrompe por onde quer, mas até onde nós deixamos.

A minha casa é o meu mundo, o meu sossego, o meu canto.
As paredes já não são de tijolo e cimento, e constroem-se na minha cabeça com paciência, tempo e determinação. Barreiras mentais são mais difíceis de subir do que três fiadas de tijolo, mas espero (estou a contar com isso!) serem mais eficazes.

Um beijo especial a todos os que vivem em apartamentos e têm que aturar as adversidades vindas dos vizinhos.