22 junho 2010

Onde a História não é só passado...

As vigilâncias podem ser desgastantes, mas ontem trouxeram até mim este texto. Espiolhei o exame de História A, como quem não quer a coisa, mas quer, e pasmei com a precisão contemporânea destas palavras ou, pelo menos, assim foi o meu entendimento.
E porque o que é bom, é para se partilhar, aqui fica para dar que pensar...

DAS FRAGILIDADES DO REGIME REPUBLICANO PORTUGUÊS AO ESTADO NOVO
 
Conferência de Cunha Leal na Sociedade de Geografia (17 de Dezembro de 1923)
 
Os políticos não têm sabido actuar e têm-se limitado a dizer palavras. Para o público, nós
somos seres especiais que consomem o tempo em bizantinas discussões […].
As sociedades actuais apresentam evidentes sinais de desagregação, sendo o principal o
enfraquecimento do Poder central. […]
O Poder curva-se perante os desordeiros sociais, permitindo o estabelecimento duma
confusão que a maiores misérias nos conduzirá. Há, portanto, que estabelecer a verdadeira ordem:
reprimindo os de cima ao pretenderem que os de baixo paguem tudo; reprimindo os de baixo
quando queiram implantar, em nome de falsos princípios, a desordem da sociedade!
Deste Poder que se humilha como um mendigo, numa altura em que lhe são exigidos todos
os heroísmos, faz parte o Parlamento liberal – instituição caduca que é necessário não eliminar,mas transformar. […] Reparemos, quanto a ditaduras, que, de facto, elas surgem sempre que sãonecessárias. […]
A Itália, que vivia em conflitos sociais permanentes e com um Parlamento que se tornara numa
razão de desordem, encontrou um homem que, em determinado momento, encarnou os desejos colectivos. Esse homem […] impôs a ordem onde havia a desordem, e hoje a Itália é uma nação que progride e se impõe à consideração geral. […]
Entre nós existe, também, a necessidade urgente duma reacção! Os partidos estão minados
por elementos de desorganização. [...] Então o que se impõe? A resistência dos partidos à
dissolução, a sua depuração e o respeito aos princípios da ordem. Isto é absolutamente
necessário, representando, para a República, a garantia da sua vida!
Mas os partidos e os homens públicos só podem fazer alguma coisa e lutar com
probabilidades de êxito desde que se apoiem na única força que ainda se mantém disciplinada, através de todos os cataclismos da Nação: a Força Armada! […] O Exército não deve, realmente, actuar contra os partidos, mas tem o direito de fazer ouvir a sua voz e de indicar aos poderes públicos que, se lhe compete neutralizar as ameaças de dissolução da sociedade portuguesa, também lhe compete o direito de falar – sob pena de se perder tudo, absolutamente tudo, em Portugal. […]
Que façam essa tentativa, em Portugal, os políticos que forem os melhores para governar;
mas que a façam, urgentemente, porque, se continuarmos com Governos que não governam e são apenas vagos fantasmas, a quem se pede que nada façam, sob pena de serem derrubados por uma revolução, então a República e a Pátria perder-se-ão. […]
As dificuldades de solução dos problemas económicos e financeiros todos V. Exas. as
conhecem. Não há um pensamento fixo e obstinado de reduzir as despesas, porque todos se
revoltam contra os que querem encarar o problema a sério. Há organismos numerosos que estão condenados a uma função parasitária. […] Tocar nisso, porém, é impossível, porque os politicões não deixam mexer nas clientelas, e as clientelas conservam-se, à cautela, de armas na mão, prontas para a revolta.
Por falta de recursos financeiros, a economia nacional vê paralisado o seu plenodesenvolvimento. E, como consequência de tudo isto, a moeda portuguesa desvaloriza-se,
continuamente, e a fome e a miséria invadem os lares dos que trabalham. […]
Nestas condições, a ditadura impõe-se, nesta hora, como necessidade inadiável.



E depois é assim que elas acontecem...