06 setembro 2010

Blackout!

O meu disco deu o berro.
Isto resume tudo o que me aconteceu.
O meu disco, aquele que conservo na minha cabeça, "crashou". Recusou-se a trabalhar, numa tentativa de auto-preservação. Sinto-me estoirada, desgastada, usada e abusada pelos meus crescentes objectivos. 

Tenho de ser boa professora, boa aluna, boa dona de casa, boa cozinheira, boa amante, boa praticante de Pilates... caramba! Mais são as esferas em que me envolvo, e menos é o espaço para a mediocridade. Há que ser perfeito em tudo o que se faz. Tudo. E ainda me falta ser mãe...

O meu disco deu o berro e eu entrei em letargia total, uma fase que ainda hoje tenho vergonha de assumir... É que não fazer nada é preguiça, é fraqueza, é falta de vontade e de garra. E isso é motivo para eu me recriminar, até quando o meu corpo está a tentar recuperar das diabruras a que eu o submeto. Fugi do blog, das pessoas, dos holofotes da escola e tentei reencontrar-me. Tentei convencer-me a mim mesma a aceitar as reacções do meu corpo como sendo a solução e não mais um problema. Fiz tudo aquilo que ele me mandou, mas não o contei a ninguém, porque não suportaria o olhar recriminador: "Tu és é uma valente preguiçosa!!"

Com isto, e para que não restassem dúvidas, o meu disco deu o berro! Aquele do portátil, a memória de toda a minha vida pessoal e profissional. A minha existência virtual.
Krrrrrrrrrrrrrrrrr!
Foi assim, com um barulho esquisito que tudo aconteceu. O portátil arranhava uns sons que não os do costume e depois de ter chamado o meu técnico 24h de serviço - o André - logo recebi a má notícia: "o disco pifou!"

Ok, não é dramático, perderam-se as duas últimas semanas de trabalho, mas devo ter tudo no backup! LOL! O destino quando prega partidas é sempre com graça... O backup, por curioso que possa parecer, também tinha dado o berro!

Por momentos vi toda a minha vida, imagens, trabalho a perder-se numa névoa, como se nunca tivessem existido, como se eu nunca tivesse existido, como se estivesse a começar do zero, all over again!

Com calma, ignorei o drama e depositei toda a minha confiança nas boas capacidades do André para recuperar a minha vida e pô-la de novo nos carris. O rapaz perdeu umas boas noites, mesmo quando se tinha de levantar às 6 da matina para ir trabalhar.
Finalmente, uma boa notícia: ele havia encontrado a minha vida nas entranhas do disco externo de backup, mas a minha vida não mais tinha a organização que eu lhe havia dado. Estava tudo a monte, com ficheiros sem data, sem o nome original e sem a hierarquia em árvore onde antes se tinham arrumado.

A minha vida foi recuperada, por pouco, mas obrigou-me a começar do zero. O terror disto acontecer é tão grande que, para não entrar em puro pânico, pensei em acolher este gigantesco obstáculo como uma gigantesca oportunidade. Fazer de novo aquilo que eu achava estar óptimo, e descobrir uma nova maneira de o tornar perfeito. 

Com este paralelismo todo entre a minha vida e a minha tecnologia, não pude deixar de me lembrar da história de Abrãao que a pedido de Deus se dispôs a provar a sua fé entregando o próprio filho para sacrifício. Assim me senti eu, entregando toda a minha vida, a minha vontade, a minha garra, a minha história, a minha existência. Só quando aceitei que podia perder tudo isso e continuar mesmo assim, consegui a paz de espírito e cada dia e cada ficheiro passaram a ser uma benção.

Não olho para trás para o que perdi, ou tento por tudo não o fazer. Tenho tentado encontrar maneiras de andar para a frente, de arrumar a minha vida e os meus ficheiros, um pouco de cada vez. A tarefa parece e é imensa, mas todos os dias é um pouco menos que no dia anterior.

Dado que a minha existência tal como sou, e tal como me conservo em memória no portátil, foi claramente posta em causa, venho aqui rabiscar uns cochichos para dizer ao mundo virtual:
Eu existo... de novo, e com ainda mais força.

Apelo a todos os que me lêem para entrarem em contacto comigo via email, pois perdi TODOS os meus contactos. TODOS!!
Voltei a existir, mas de alguma forma cósmica, algo me diz que tenho de voltar a restabelecer as minhas ligações com o mundo. Certamente algumas se perderão, mas prefiro pensar que aquelas que ainda posso recuperar serão aquelas que são realmente importantes!