13 julho 2006

Digam lá que o futebol não é pedagógico!

O francês Zinedine Zidane pediu hoje desculpas "aos milhões e milhões de crianças" que viram a sua agressão ao italiano Marco Materazzi, no jogo da final do Mundial 2006, mas afirmou que não está arrependido. O ex-internacional disse que o defesa italiano insultou a sua mãe e a sua irmã em termos "muito duros".
in Publico.pt 12.07.2006 - 19h09

Este é o mundo em que vivemos.
O sr. Zidane ainda tem lata de pedir desculpas e dizer que não se arrepende! Melhor seria não pedir desculpas nenhumas às criancinhas, porque este é o pior exemplo que ele lhes pode dar.

Num mundo ideal, o professor devia ser o juíz de todos os conflitos numa sala de aula. Infelizmente, acabo por viver com o dilema de sentenciar penas quando os alunos já fizeram justiça por si.

Repito constantemente que nada justifica a agressão física ou verbal, e que há meios adequados para denunciar e punir essas situações. Não obstante, não raras vezes, um aluno se levanta da sua cadeira para dar uma lambada noutro que o ofendeu. Como apanho o filme a meio, repreendo aquele que se levantou do lugar e oiço sempre a mesma resposta: "mas ele fez-me isto, ou aquilo".
Acabam por "levar ambos nas orelhas": um porque começou, outro porque deu continuidade.

Agora, Sr. Zidane, explique-me lá: como consigo eu explicar a estas crianças, mesmo aquelas que aceitaram as suas desculpas, que os problemas resolvem-se a conversar ou pelas vias judiciais próprias? Que a sala de aula, como o campo de futebol, não é um ringue de boxe? Que não há nome mais feio que possam chamar à nossa mãezinha que justifique um soco bem assente nas ventas do provocador?

Sr. Zidane, eu não fui sua professora, mas aprenda comigo uma coisinha simples:
Desculpas não se pedem
EVITAM-SE!

2 comentários:

Le_M_do_Fit disse...

Uiii...onde tu foste tocar. O futebol é o deporto mais medieval que existe. Muito pouco evoluido táctica e técnicamente em comparação com muitos outros (até mais "agressivos" como o Rugby). No entanto desperta emoções e gera dinheiro como nenhum outro fenómeno. Sou da opinião que quem ganha 30, 40, 100 mil contos por mês (mais do que eu hei-de produzir em toda uma vida de trabalho) devia pelo menos saber ler, escrever e falar com fluidez, e obrigatóriamente ter uma conduta exemplar em termos humanos. No entanto, isto é uma pura utopia... Eu imagino que o Bill Gates (que para mim ainda tem mais responsabilidades, pois desenvolve software que entra pelos olhos a dentro de 99,9% da população mundial) já se deve ter passado em publico. No entanto ele por mais famoso que seja, não tem tantas câmaras atrás dele como a final do Mundial de Futebol. ISto tudo para dizer que o Zidane não é o mau da fita, mas sim, todos aqueles com responsabilidades. Mais: imagina uma tourada (o exemplo é triste pois sou contra as mesmas, mas é um exemplo bastante elucidativo), pode alguém neste mundo criticar o touro, se por alguma chance, o mesmo, com alguma sorte (porque o desgraçado está sempre em desvantagem), mandar uma cornada ao toureiro que o está a picar?!?!? Eu, quando por azar vejo imagens de touradas, estou sempre à espera que o touro tenha sorte...
Ah e tal, mas no futebol são animais racionais e tal...são mesmo?!?!?!
A emoção aumenta, o discernimento desce...desce por vezes tanto que o nosso Q.I. é menor que o do touro...mas de quem eu não gosto mesmo nada...é do toureiro!

Anónimo disse...

O futebol é um pouco como a religião de há uns séculos atrás, e o melhor mesmo é não nos armarmos em "Galileus", porque há dogmas que não podem ser contrariados, especialmente os franceses.
A principal razão que me leva a ser praticamente indiferente a um jogo de futebol é uma disfunção cerebral relacionada com a atrofia da zona do cérebro que comanda o meu interesse por desportos atléticos, e que pelos vistos foi compensada pela hipertrofia do centro de comando de consumo fútil!
Daí a minha ingenuidade nestes assuntos.

A sua fabulosa metáfora (eu adoro metáforas!), foca o problema da agressão, mas a mim, incomoda-me muito mais o que se faz com essa agressão. De modo nenhum pretendo desculpabilizar o italiano que se habilitou à cornada do século! Aliás, se o sr. Zidane não tivesse vindo a público com estas “desculpas de faz de conta”, nem teria havido um post sobre este assunto.
Matem-se, esfolem-se! That’s what football is all about!

Reconheço que não posso negar ao Sr. Zidane a possibilidade de se passar dos carretos de vez em quando. É natural, para qualquer um de nós. No entanto, eu não ganho o que ele ganha, não tenho a imagem persuasiva que ele tem sobre os outros, não sou vigiada por câmaras fotográficas, de televisão ou de vídeo. Enfim, a fama tem um preço: é ter mais responsabilidades. As suas falhas públicas têm consequências muito mais danosas do que as minhas.
Eu sou professora na pequena terra de Azeitão (pelo menos até ao final do próximo mês) e até eu me sinto condicionada a agir em público de uma forma consentânea com a minha profissão. Não posso dizer que este ano lectivo tenha estado estado à vontade, com todas as falhas que isso permite, na minha própria terrinha! Quando vou buscar o jornal, não é a Sofia que o faz, é a "stôra"! O meu André, passou a ser o "namorado da stôra", o meu Saxo é o "carro da stôra" e na praia a minha celulite é "a chicha da stôra"!
É claro que um dia destes, quando eu estiver na praia (perante os meus alunos e suas famílias), deslumbrante no meu bikini, com o cabelo a esvoaçar em suaves novelos, banhada divinamente pela luz do Sol e tiver o azar de ser mordida por um caranguejo no dedo mindinho do pé, ao contrário de dizer "Oh, raios e coriscos, que dor aguda este crustáceo me provocou!", de certeza que vou optar por uma versão muito mais genuína do estilo $%&(/#$#"(#$%"?@##@#$^&&*!!!!

Meus amigos, desculpem, mas é o dedo mindinho do pé: aquele cujas dores agudas ainda levam um segundo até serem sentidas no cérebro!
Apesar de eu achar que as dores físicas involuntárias têm maior capacidade para descontrolar o nosso “sensor do politicamente correcto”, admito a falha do Sr. Zidane, mas se o Sr., com esta idade, ainda não aprendeu a fazer ouvidos de mercador, o melhor é perder a esperança e conformar-se, ou na melhor das hipóteses afincar sempre uma cabeçada à espanhola a quem o atentar.

Mas vá, fecho os olhos a isso, e até percebo a pressão a que ele estava sujeito.
Pronto, errar é humano (mas não exclusivamente! Veja-se o windows! Hehehe!!). Mas o que é inadmissível, indesculpável e inaceitável é pedir desculpa e de seguida dizer que não se arrepende (!!).

Ok, sr. Zidane, se não aprende comigo aprenda com a sabedoria clássica:

Errare humanum est. Perseverare autem diabolicum.

Quem é como quem diz: errar todos erram, mas não é preciso insistir!