18 dezembro 2006

Eu gosto é do... Outono!


Desapareço.
Como o sol nos dias que correm.
Não deixo rasto... não quero ser encontrada.

Eu gosto é do Outono.
Sempre o disse. O Outono é aquela altura do ano em que se prepara o Natal, em que chove, e as folhas coram de vergonha com a nudez das árvores.

Vivo o Outono como as miúdas pequenas: a saltitar de energia e a antecipar o dia de abrir as prendas. Mas eis que chega o Natal e tudo fica sombrio e triste.
Como se vivem dois meses de pura felicidade e entusiasmo para culminar num dia que, por si só, é triste?
Não me perguntem porque raio sempre achei o Natal triste. E nem vale a pena perguntar porque o acho mais triste este ano.

Desde que me lembro a Consoada cá de casa tinha sempre à mesa um bolo de anos. É estranho cantar os parabéns a seguir ao bacalhau com batatas, mas para mim essa sempre foi a rotina do Natal.
A minha avó fazia anos no dia 24 de Dezembro.
Raio de dia para fazer anos e para ter de me lembrar dela mais do que as habituais milhentas vezes ao dia!

Sinto a falta dela. Caramba! E já lá vai quase um ano.
Pensei que por ter reagido tão bem no início que as coisas seriam mais fáceis, mas quanto mais o tempo passa, mais me sinto permeável à tristeza e como ela consegue encharcar os meus olhos.

A falta é uma coisa que eu marco aos alunos todos os dias e todos os dias é uma coisa marcada em mim. Mas é quando ela se corporiza à minha frente que sinto a dor, como se me esfregassem na cara a pior das verdades.
A dor da falta não dói nada, mas o que dói é a sua materialização.
Nada dói mais do que ver um D de disciplinar associado ao nosso número de aluno no livro de ponto, ou um Reprovado a vermelho na pauta pela falta de estudo.
A ausência tem materialização. A ausência não é só uma não-presença, é uma reacção em cadeia. Tudo muda para nos rendermos à evidência, à prova material.

É aqui que o insconsciente esperneia e não há leite quente que o acalme.
Quando pego em 5 pratos para pôr a mesa e tenho de voltar a guardar um deles.
Quando, depois de ter todas as prendas compradas, percorro a lista das pessoas para descobrir quem é que me está sempre a faltar e deparar que me faltavam ainda as duas prendas habituais (de Natal e anos).

Todas as racionalizações possíveis, todas as terapias que faço comigo própria dão nó, tão ou mais cego que os erros do Windows.
Tudo por causa desta falta... injustificada.


P.S. - Se ainda há alguém que tem fé em que esta seja a minha última intervenção a desbobinar sobre a minha avó, então o melhor mesmo é começar a acreditar antes no Pai Natal e escrever-lhe uma cartinha para ver se eu mudo de assunto. Pode ser que vos calhe no sapatinho!

P.S.1 - Porque raio sinto necessidade de aligeirar os temas cinzentos e graves? Estratégia primária de sobrevivência, será?
Não me parece.

P.S.2 - É assim que se escreve uma carta ao Pai Natal e se pede uma Playstation 2 com subtileza. Eu por mim dispenso. Quem me tira o Solitário Spider, tira-me tudo!

3 comentários:

Anónimo disse...

Minha linda,

Não tivesses tu nascido numa tarde solarenga do início do Outono...

Em relação à vovó é mais que normal que tenhas saudades dela.
Tenho a certeza que qualquer pessoa que tenha tido o privilégio de a conhecer sente neste momento uma grande saudade que somente as ricas memórias que ela nos deixou ajudam a atenuar a falta....

Beijoca Grande!

Anónimo disse...

Os sentimentos - aqueles que dizem que só os humanos têm - não se explicam, e muito menos com equações, eles simplesmente sentem-se. Que sorte os que os sentimos, pois, uns mais do que outros, provamos que temos a capacidade de os sentir. Não desejo que esse sentimento de que falas se prolongue, mas acho que, da forma como o descreves, paradoxalmente, ele é um valor que tens e que tiveste sorte de ter alguém que to semeou e regou...
Luís

Anónimo disse...

As vossas palavras sentidas e sinceras ajudam sempre a florescer um sorriso em mim.

"É normal."
A frase que mais me descansa, embora no fundo não resolva nada. Pelo menos fico com a certeza de que o que se passa comigo não é do outro mundo, se bem que em parte até seja!

Fica a certeza de que gostando é do Outono, só a passagem pelo Inverno permite chegar à Primavera. Por isso, nos invernos da vida, o melhor é fechar os olhos e esperar que passe.
Curiosa como eu sou, vou ter de espreitar algumas vezes... Não vá começar a nevar e eu perder o espectáculo!