26 dezembro 2007

Neura de Natal!

Coisa de gaja, claro.

A Neura de Natal, dá-se cerca de dois, três dias antes do Natal, quando a hormona natalícia entra em queda. Não sei se será do açúcar, mas a pessoa perde todo o brilho e entusiasmo que a caracterizou nos últimos dois meses (sim, dois!) e começa a ficar rabujenta, a resmungar contra tudo e contra todos.
- É porque está um frio dos diabos e temos de distribuir prendas;
- É porque queremos ver um filme agarradinhos à mantinha e temos de ir preparar a ceia;
- É porque o jantar é bacalhau e eu só me apetecia comer um bitoque (de Natal, claro, com carne de rena, por supuesto!! LOL!)
- É porque entramos em ansiedade por ver os presentes ali a olhar para nós;
- É porque entramos em ansiedade por pensar o que vão os outros achar das nossas prendas;
- É porque há muita gente que vive esta época com pouco fervor e até hipocrisia;
- É porque (cruzes, credo!) acabei de descobrir que posso ser uma dessas pessoas - se não fosse hipócrita teria passado o Natal a distribuir sopa quente aos sem-abrigo, e em vez disso, consolei-me no quentinho da minha casa, da dos pais e da dos sogros, com a generosidade proporcionada pelo espírito consumista.
- É porque há prendas que não dizem: "lembra-te de mim" ou "gosto de ti", mas sim "foi o que se arranjou" ou "não estive para me chatear", quando eu preferia muito mais apenas um cartão, ou uma mensagem sentida, que me desejasse saúde e sorte, do fundinho do coração.

A NN, como o André já lhe chama, dá cabo de mim no Natal. Porque é difícil ser boa pessoa, e fazer desta quadra aquilo que ela devia realmente ser. Este ano ainda não consegui. Conforta-me o facto de saber que para o ano haverá outro Natal, outra oportunidade, com mais um quebra-cabeças do "Oferecer o quê a quem?" e tudo o que me stressa e desgosta nesta época.

Mas sei também que vou embrulhar mais prendas com primor e dedicação, que vou comer mais azevias, que vou ver a árvore de Natal a brilhar no escuro, em alternância com a Música no Coração, que sabe sempre bem ver nesta altura.

Tudo voltará, até a minha neura de Natal.

Mas agora, que já se abriram os presentes, que já se deitaram fora os embrulhos que até agora não cabiam no contentor, que toda a magia acabou e nós voltámos a vestir a roupa do dia-a-dia, começa a crescer em mim uma neurazinha do estilo: "Que raio vou vestir no fim-de-ano? Ainda não comprei a lingerie azul e depois vou ter azar o ano inteiro! Que desgraça! E se vai fazer frio? Eu não me aguento e ainda apanho uma pneumonia! E o siso??? Que ideia a minha de andar na pipocada e partir o dente do siso!! Em vésperas de mudar de ano é que vou arrancar o dente? Será que fico menos ajuizada? Uma coisa é certa, entro no ano novo mais leve!! Hehehe!!"

O André ouve-me pacientemente, sem comentar, enquanto eu despejo o meu pensamento em directo. Ele já percebeu que eu não preciso de outro interlocutor para dar seguimento à minha diarreia verbal e deixa-me ir, como uma folha rio abaixo até ficar presa na margem.

Quando páro, diz calmamente:
"-Já acabaste a NN e agora já estás na NR, Neura de Reveillon!"

Ai, ai...
Neura, neura, neura...
Neura até ao Natal...

2 comentários:

Anónimo disse...

Poderia escrever mais do que vou escrever, mas correria o risco de divagar. De facto, a tradição é "assim" toda a gente a cumpre, mas nem sempre a vive com naturalidade. Quanto a mim, deixo de lado certos pormenores e concentro-me nas pessoas; o Natal é um momento especial para o fazer. O que chamo pormenores, as prendas e as comidas, são susceptíveis de serem contornadas: já experimentaste criar a tua receita de bacalhau (improvisada ao sabor do teu gosto daquele momento natalício); quanto às prendas, irrita-me, também, receber prendas que não foram sentidas e pensadas, mas produto de um desleixo (em que se pensa: mais valia não darem nada), isso denota falta de atenção, basta no convívio com as pessoas dar atenção aos gostos e necessidades (às vezes, temos que simular uma conversa onde esses temas são introduzidos, para saber o que no exacto momento do Natal a pessoa gosta ou necessita); não há desculpas para a falta de tempo ou dinheiro, basta aproveitar um mês antes do Natal para fazer compras, basta aproveitar o décimo primeiro mês para não comprar souvenirs (aqueles que apetece meter no caixote do lixo)...

Luís

Sofia Ré disse...

Um grande beijinho para ti, Luís.
Espero que tenhas passado um bom Natal. A tua menina deve estar enorme... tens de me mandar uma foto dela!

Esperemos que o Ano Novo que agora estreámos nos traga a todos alguma sabedoria, para evoluir em anos, aquilo que não fizemos em décadas.

A mente humana cada vez mais se contamina com mesquinhices, quando se devia preocupar com coisas centrais de real importância. Para mim será ainda um longo caminho a percorrer, mas pelo menos já o programei no meu GPS!!

Fica uma certeza / desejo: para o ano será melhor!