Coisa de gaja, claro.
A Neura de Natal, dá-se cerca de dois, três dias antes do Natal, quando a hormona natalícia entra em queda. Não sei se será do açúcar, mas a pessoa perde todo o brilho e entusiasmo que a caracterizou nos últimos dois meses (sim, dois!) e começa a ficar rabujenta, a resmungar contra tudo e contra todos.
- É porque está um frio dos diabos e temos de distribuir prendas;
- É porque queremos ver um filme agarradinhos à mantinha e temos de ir preparar a ceia;
- É porque o jantar é bacalhau e eu só me apetecia comer um bitoque (de Natal, claro, com carne de rena, por supuesto!! LOL!)
- É porque entramos em ansiedade por ver os presentes ali a olhar para nós;
- É porque entramos em ansiedade por pensar o que vão os outros achar das nossas prendas;
- É porque há muita gente que vive esta época com pouco fervor e até hipocrisia;
- É porque (cruzes, credo!) acabei de descobrir que posso ser uma dessas pessoas - se não fosse hipócrita teria passado o Natal a distribuir sopa quente aos sem-abrigo, e em vez disso, consolei-me no quentinho da minha casa, da dos pais e da dos sogros, com a generosidade proporcionada pelo espírito consumista.
- É porque há prendas que não dizem: "lembra-te de mim" ou "gosto de ti", mas sim "foi o que se arranjou" ou "não estive para me chatear", quando eu preferia muito mais apenas um cartão, ou uma mensagem sentida, que me desejasse saúde e sorte, do fundinho do coração.
A NN, como o André já lhe chama, dá cabo de mim no Natal. Porque é difícil ser boa pessoa, e fazer desta quadra aquilo que ela devia realmente ser. Este ano ainda não consegui. Conforta-me o facto de saber que para o ano haverá outro Natal, outra oportunidade, com mais um quebra-cabeças do "Oferecer o quê a quem?" e tudo o que me stressa e desgosta nesta época.
Mas sei também que vou embrulhar mais prendas com primor e dedicação, que vou comer mais azevias, que vou ver a árvore de Natal a brilhar no escuro, em alternância com a Música no Coração, que sabe sempre bem ver nesta altura.
Tudo voltará, até a minha neura de Natal.
Mas agora, que já se abriram os presentes, que já se deitaram fora os embrulhos que até agora não cabiam no contentor, que toda a magia acabou e nós voltámos a vestir a roupa do dia-a-dia, começa a crescer em mim uma neurazinha do estilo: "Que raio vou vestir no fim-de-ano? Ainda não comprei a lingerie azul e depois vou ter azar o ano inteiro! Que desgraça! E se vai fazer frio? Eu não me aguento e ainda apanho uma pneumonia! E o siso??? Que ideia a minha de andar na pipocada e partir o dente do siso!! Em vésperas de mudar de ano é que vou arrancar o dente? Será que fico menos ajuizada? Uma coisa é certa, entro no ano novo mais leve!! Hehehe!!"
O André ouve-me pacientemente, sem comentar, enquanto eu despejo o meu pensamento em directo. Ele já percebeu que eu não preciso de outro interlocutor para dar seguimento à minha diarreia verbal e deixa-me ir, como uma folha rio abaixo até ficar presa na margem.
Quando páro, diz calmamente:
"-Já acabaste a NN e agora já estás na NR, Neura de Reveillon!"
Ai, ai...
Neura, neura, neura...
Neura até ao Natal...

2 comentários:
Poderia escrever mais do que vou escrever, mas correria o risco de divagar. De facto, a tradição é "assim" toda a gente a cumpre, mas nem sempre a vive com naturalidade. Quanto a mim, deixo de lado certos pormenores e concentro-me nas pessoas; o Natal é um momento especial para o fazer. O que chamo pormenores, as prendas e as comidas, são susceptíveis de serem contornadas: já experimentaste criar a tua receita de bacalhau (improvisada ao sabor do teu gosto daquele momento natalício); quanto às prendas, irrita-me, também, receber prendas que não foram sentidas e pensadas, mas produto de um desleixo (em que se pensa: mais valia não darem nada), isso denota falta de atenção, basta no convívio com as pessoas dar atenção aos gostos e necessidades (às vezes, temos que simular uma conversa onde esses temas são introduzidos, para saber o que no exacto momento do Natal a pessoa gosta ou necessita); não há desculpas para a falta de tempo ou dinheiro, basta aproveitar um mês antes do Natal para fazer compras, basta aproveitar o décimo primeiro mês para não comprar souvenirs (aqueles que apetece meter no caixote do lixo)...
Luís
Um grande beijinho para ti, Luís.
Espero que tenhas passado um bom Natal. A tua menina deve estar enorme... tens de me mandar uma foto dela!
Esperemos que o Ano Novo que agora estreámos nos traga a todos alguma sabedoria, para evoluir em anos, aquilo que não fizemos em décadas.
A mente humana cada vez mais se contamina com mesquinhices, quando se devia preocupar com coisas centrais de real importância. Para mim será ainda um longo caminho a percorrer, mas pelo menos já o programei no meu GPS!!
Fica uma certeza / desejo: para o ano será melhor!
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