06 maio 2008
E o que é hoje o almoço?
- (Suspiro)... É complicado!... - digo eu.
O André devolve-me em plena demonstração das funcionalidades do cromossoma Y:
- Não, Sofia, é muito simples!
As "gaijas" têm... vá lá... buéeeee complicações! E mesmo quando pensam que não têm, o raio das complicações aparecem, e chateiam sem nós tirarmos senha para isso.
Perguntam vocês qual é o problema. Eu respondo: não sei o que é o almoço hoje.
O hábito, mais do que uma roupinha muito pouco sexy, é um bichinho que se entranha em nós, como o caruncho. Parece que não faz estrago, mas faz. E pode mesmo desfazer-nos por dentro. Hoje entrei em estágios para as despedidas e comecei a treinar os "adeus" aos hábitos.
O meu Mourinho (LOL, o homem é sempre o Mourinho de toda a gente!) foi treinar para o Milão, se é que dá para perceber a metáfora desportiva. Desapareceu das minhas manhãs, sem que nada o pudesse prever e, pior que tudo, sem que eu me pudesse mentalizar com antecedência.
Desapareceu-me!
Razões, razões, leva-as o vento. Não me importo com nenhuma delas. E cheguei mesmo a pensar que logo na primeira aula (que inocência a minha!) me iria acostumar à nova ditadora do fit. Mas não. Sem que seja impossível, tudo leva o seu tempo: como as escolas novas a seguir ao final de um contrato. E até nos habituarmos ao esquema, até entranharmos na nova onda, tudo, mas mesmo tudo, nos faz falta.
E que faz falta, é tão só, o animar da malta.
Porque o Mourinho esperava por nós e perguntava: "ainda está mais alguém lá em baixo?"
Porque o Mourinho ralhava comigo quando eu me baldava a uma repetição, vá duas, pronto, ok, todas aquelas a que me consegui baldar quando ele estava de costas!! :P
Porque o Mourinho gritava em plena aula SAPINHO! e toda a gente sabia do que ele estava a falar, com excepção talvez da minha pessoa, que pela manhã tenho uma certa dificuldade em ouvir e interpretar comandos abstractos próprios da modalidade.
Porque o Mourinho gritava com as gaijas mas nós sabíamos que era a brincar porque ele é um querido.
Porque o Mourinho dizia: "subir com cuidado - atenção às tonturas!" quando a malta só tinha feito tonterias na aula.
Porque o Mourinho, na expiração final, dizia sempre o que era o almoço do dia. E quantas foram as vezes que me fez ir ao supermercado buscar os ingredientes só para não morrer afogada com a água a crescer na boca.
Hoje, o almoço são omoletes só com claras, disse ele. E mais do que tudo, reparem como sou gaija, foram as omoletes só com claras que mais me incomodaram.
Soou a tristeza, daquela que nem apetece é comer nada. E mais do que eu me sentir triste, custou-me a tristeza dele, porque me revi naquela situação: em que os alunos são mais do que matéria-prima e o professor é mais do que um debitador de matéria e comandos.
Há pequenas, minúsculas, relações de afecto com uma força extraordinária, que se formam sem darmos conta. E um dia somos obrigados a ter de meter tudo num caixote e seguir em frente para a próxima etapa, a próxima escola, o próximo ginásio. E o que se faz com aquilo? Com aquelas coisas? As ideias baralham-se que nem ovos mexidos e uma certeza fica estrelada na meu pensamento: sinto falta de tudo, até à mais ínfima pequena coisa. Até das leggings pretas que lhe ficavam tão bem, porra!
A vida ensinou-me (sim que eu já vou a caminho dos trinta, já posso dizer coisas destas!) que tudo passa, melhores dias virão, Deus escreve certo por linhas tortas, tudo acontece por uma boa razão.... Mas, por agora, tudo isso me parece ainda muito complicado.
É que os ovos estão partidos, mas eu ainda não me decidi a fazer deles uma omolete.
5 comentários:
"Há pequenas, minúsculas, relações de afecto com uma força extraordinária, que se formam sem darmos conta."
Era disto que te falava, na passada 6ªfeira, a respeito do nosso Mourinho...
Para mim, permanecer naquele ginásio e naquelas circunstâncias era compactuar com a injustiça que lhe foi feita!
Beijinhos
Eu percebi-te Cláudia, mas temos de reconhecer que o meu afecto, ao pé do teu, é minúsculo! ;)
Gosto muito do Mourinho e, dos professores que já tive, ele é sem dúvida o "special one".
Fiquei mais chateada e incomodada com tudo isto do que estava à espera, e o facto de não sair do ginásio não quer dizer que não me tenha incomodado o suficiente.
Simplesmente, e como te disse, não me posso dar ao luxo de contornar toda a minha vida por uma injustiça, por mais atroz que seja.
A balança em mim diz que há outras maneiras de fazer a coisa.
A oposição também se faz por formas menos declaradas... e é tanto mais eficaz, quanto melhor é o timing...
Olá, Sofia!
Sim, eu sei que também tu não ficaste indiferente ao que se passou.
Face ao acontecido, cada uma de nós ponderou razões e afectos e é certo que, quer decidíssemos ficar ou partir, encontraríamos sempre motivos, válidos e legítimos, para cada uma destas duas opções. Também nisto, como em tantas outras situações, a escolha é pessoal e intimista.
Eu gosto muito do Diogo, é verdade. Eu valorizo muito o laço de amizade que nos aproxima e isto não é menos verdade. Todavia, embora isto tivesse pesado (e muito!), a minha decisão em partir não se prendeu exclusivamente a esta razão.
Porque, pondo a sentimentalidade de parte e buscando um pouco de objectividade no meio disto tudo, não pude ignorar uma série de outros factores.
Eu procurei, desde o início, um espaço no qual encontrasse, a custos que eu pudesse comportar, o seguinte:
a) um profissional competente que me proporcionasse, EFECTIVAMENTE, uma melhoria da minha condição física;
b) um grupo respeitador, mas também animado, que me acolhesse e me fizesse sentir parte integrante, sem constrangimentos ou inibições;
c) um espaço asseado e seguro;
d) um espaço munido de equipamentos e instrumentos limpos e em condições apropriadas para uso (sem halteres a descascarem-se, barras assimétricas, fit-balls vazias…);
e) um espaço que me garantisse, de facto, o usufruto dos serviços cobertos pela mensalidade (p. ex.: um banho morninho sem ter de estar 20/25m à espera que um dos chuveiros funcional vague ou ter de partilhá-lo com outra aluna, em detrimento da privacidade que todos gostamos de ter quando nos lavamos…);
f) um espaço dirigido por responsáveis que são transparentes e rigorosos no que às contas diz respeito (tenho bem presente o episódio do IVA!), que nos informam com a antecedência devida sobre alguma alteração às aulas (basta que me lembre do que se passou com as aulas da hora de almoço…), que não teçam comentários maldosos e insinuadores quanto à minha preferência por este ou aquele profissional;
g) um espaço dirigido por responsáveis que não me levam o couro pelo empréstimo de uma toalha que, em qualquer outro espaço, é gratuita, uma regalia, um agrado ao cliente;
h) um espaço dirigido por responsáveis que saibam esclarecer com clareza, que procuram cativar e agraciar, porque, a bem dizer, a relação ali é de cliente – prestador de serviços de fitness e bem-estar e os clientes gostam de miminhos…;
i) um espaço dirigido por responsáveis que, com ou sem motivos, não agridem, não enxovalham e não denigrem publicamente a imagem e o trabalho dos profissionais que ali colaboram e que, à partida, foram escolhidos com conhecimento da formação e experiência dos mesmos, por tais responsáveis;
j) um espaço dirigido por responsáveis que resolvem internamente aquilo que são os problemas internos, sem importunar e sem colocar os clientes/alunos numa situação melindrosa;
k) um espaço com um horário de funcionamento alargado e elástico que não faça coincidir a hora de abertura com a hora de início da primeira aula e que permita um ajuste às reais necessidades do público.
Se, em quatro anos que ali estive com uma regularidade e com cumprimento dos meus deveres quase irrepreensíveis, encontrei a) e b) que, ao longo de todo este tempo se foram optimizando, não encontrei, porém, as restantes alíneas… aliás, o pouco que delas obtive só se veio a deteriorar.
Ora, diante de tudo isto e do muitíssimo infeliz episódio que envolveu a dispensa do Diogo, eu não encontrei, com honestidade, nenhuma justificação suficientemente persuasiva para continuar.
Mais, mesmo que não se colocasse a hipótese (que muito me deixa feliz e entusiasmada) de poder continuar a contar com a vigilância do Diogo e que ele, por uma outra razão que não as presentes, tivesse ido embora, eu acabaria por sair mais cedo ou mais tarde, pois estaria sem a) e sem a) não haveria b)…
… e todos sabemos o que acontece ao rebanho, quando desaparece o pastor!:)
Beijinhos
Se eu não fosse um grande machão, admitiria que me emocionei bastante. Muito obrigado. Bem hajam :)
Cláudia:
O Ginásio é o que é.
Não sendo um luxo, também não é uma espelunca. Enquanto o Mourinho lá deu aulas, foi suficientemente bom, não foi?
Era o melhor que por aqui havia mas, felizmente, também aí as coisas já começam a mudar. Além disso, acho que não fica bem estar a desfazer no sítio e nas pessoas que, mal ou bem, nos acolheram. Muito menos para justificar escolhas individuais. Tu sabes porque saiste e não tens de o justificar para mim ou para quem quer que seja. A ti te diz respeito.
Por isto, e porque não tenho dúvidas acerca dos teus principais motivos, acho que o esmiuçar das tuas razões pode fazer todo o sentido, mas não me parece que este seja o local mais indicado. :/
Beijinhos
Mourinho:
Não resisti à tentação e ontem lá experimentei as omoletes só com claras.
Pronto, vá, eu juntei uma gema, só para dar um tonzinho. Misturei uns ingredientes para dar cor e recheei dois pimentos com o preparado, finalizando com umas ripas de queijo. Forno com ele e quando saiu, bom... nem deu para tirar fotografia!
Faltou-me só uma coisa: um rosti de batata para acompanhar. Mas da próxima não falha!
;)
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