12 junho 2011

Preguiça, depressão ou mecanismo de defesa?

A comprimidos, novamente, com uma nova substância activa.
Sem efeitos secundários. Apenas esta urgência em fazer passar as 2 ou 3 semanas que eles demoram para começar a fazer efeito.
Tenho andado numa luta comigo para tentar inverter o estado em que me encontro. 
A falta de energia é descomunal. Horas e horas de sono, à noite e à tarde. Uma incontrolável sensação de tristeza e angústia sem uma única razão suficientemente válida. As tarefas que se adiam consecutivamente, os encontros sociais que se evitam, até os mails e os telefonemas ficam por atender.
É muito difícil contrariar a nossa mente e corpo, sobretudo quando estão os dois na mesma equipa: a minha inimiga. É quase como querer acreditar que é de dia, quando há muito que não vemos o sol a brilhar. Ainda assim tenho estado a dizer a mim própria, mesmo que não acredite nem tenha forças para reagir, que é dia.
"- Ana Sofia, já é de dia. Acorda e começa o dia como se fosse de propósito!"
Vou vivendo esta mentira, com algum descaramento, porque eu vejo apenas uma noite prolongada e sombria. 
Estou ansiosa por terminar as actividades lectivas: menos um confronto, menos uma desestabilização da minha estrutura ao gerir os conflitos com os miúdos. Até lá o meu objectivo é fazer o que for preciso, acreditar em mentiras se for o caso, para me pôr de pé.
Digo coisas a mim própria como: tu consegues, ignora o que os outros pensam, esquece a pressão que o mundo te coloca, tu é que geres a tua vida. No fundo, sei que me obrigo a acreditar em mentiras, mas a sobrevivência é mais importante e já nem me ralo se é verdade ou não, desde que isso me ajude a sair deste buraco.

Li num livro que estas reacções que o corpo e mente têm, apesar de nos causarem um grande desconforto físico e emocional, têm sempre como objectivo o nosso bem. O meu corpo manda-me parar, talvez porque não se prevê nada de bom a um carro desgovernado que segue a alta velocidade.
Se eu não aproveitar o buraco em que me encontro, para construir e consertar as minhas próprias fundações, esta depressão, que fiquei a saber ser um agravamento da minha distimia, pode passar a ser crónica e obrigar-me a viver durante muito mais tempo na escuridão.

3 comentários:

David Sanguinetti disse...

Um passo de cada vez; o primeiro é tão fácil, e depois o segundo; ao terceiro já vais embalada e daí em diante siga :)

Arnaldo Apólito disse...

Querida Sofia,

o meu nome é Arnaldo, sou psiquiatra nos EUA, onde vivo há mais de 60 anos e pratico há mais de 50. Devido à minha actividade profissional e por vir a seguir a situação em Portugal nos últimos anos, comecei a perguntar-me como é que os portugueses têm reagido à falta de oportunidades que se vive aí actualmente, o que me motivou a uma pesquisa pelos blogs escritos por portugueses. Claro que estudos baseados exclusivamente na internet têm as suas restrições, mas é possível chegar a certas conclusões. Uma delas é que o quadro psicológico das pessoas num determinado país é grandemente afectado pela situação socio-económica desse mesmo país. Países ricos podem ter grandes taxas de suicídio se as pessoas nesses países forem obrigadas, pela situação profissional, a quase que extinguir o seu lado "egoísta", vivendo quase exclusivamente para o trabalho (caso do Japão), mas também países que não oferecem quaisquer perspectivas de desenvolvimento, tanto profissional como pessoal, onde as pessoas têm trabalhos que não as motivam e mal pagos, impedindo a realização pessoal, acabam por criar um estado de desespero colectivo, que tem as suas consequências no estado psicológico das pessoas. As palavras "depressão" e "deprimido" em blogs portugueses são muito mais repetidas do que, por exemplo, em blogs americanos (não em termos absolutos, obviamente, apenas relativos, ou seja, número de palavras comparado com o número total de blogs). No entanto, a depressão é um estado psicológico que não é obrigatoriamente derivado de uma doença, pode também ser, como eu mencionei atrás, influenciado pelo meio em que uma pessoa se encontra. Por regra, eu não comento nos blogs que vou lendo, no entanto no teu chamou-me a atenção o facto de te ter sido diagnosticado distimia. Se esse diagnóstico te foi feito na idade adulta, então o mais certo é estar errado. A distimia é uma doença que nasce com a pessoa e o diagnóstico é feito já em crianças ou, o mais tardar, na adolescência. Os doentes criam com relativa rapidez mecanismos que lhes permitem lidar e até mesmo evitar a doença, vivento como adultos saudáveis. Como deves saber, a distimia é uma perturbação ligeira de depressão e não é crónica, ao contrário da perturbação depressiva maior e da doença bipolar. Não quero faltar-te ao respeito, mas deves perguntar a ti própria se o que te deixa angustiada e deprimida não está mais relacionado com toda a tua situação profissional/pessoal do que com uma doença que te foi diagnosticada e que, de algum modo, tu te sentes reconfortada pelo facto de teres uma explicação fácil para a tua situação. A atenção que tu consegues de outros por teres uma doença pode ser reconfortante, mas não podes contar com ela a longo prazo, as pessoas à tua volta começarão a afastar-se de ti. Para ser sincero, uma pessoa doente não passa o seu tempo a publicar as suas doenças num blog, passa sim o seu tempo a tentar curar-se. Se há algum projecto pessoal que sempre quiseste fazer, esta é a altura ideal. Não te escondas por detrás de uma distimia, que na minha opinião só existe na tua cabeça. Isso só irá prolongar o teu estado de depressão e irá inevitavelmente influenciar de modo negativo as tuas relações pessoais (com o teu marido, os teus filhos, os teus pais, os teus amigos). Eu vejo em todos os blogs que acompanho textos muito semelhantes e podes acreditar em mim que não és a única a passar por esse tipo de depressão.

Fica bem,

Arnaldo.

David Sanguinetti disse...

É por ser Balança :-)
E uma pessoa mt à maneira! Os americanos deviam-se roer de inveja para conhecer pessoas tão interessantes!