09 agosto 2006
Moura encantada...
Em tempos tive uma obsessão pela cultura nipónica, que não deixou ainda de se manifestar. Hoje já não tanto como uma obsessão, este interesse mantem-se sobretudo porque os japoneses, à parte dos tamagochis e da evolução quase irracional da tecnologia de ponta, prestam vassalagem à beleza. Ou pelo menos, as suas tradições assim o ditam.
Esta cultura tem demasiados reflexos com a pessoa que sou e, por isso, durante muito tempo me auto-retratei como uma gueixa. As regras, a obediência, os rituais, a precisão nipónica identificam-se com a pessoa que nasci para ser. De uma maneira ou de outra, as pessoas mudam (e as balanças então...!) e sem deixar de olhar para oriente começo a definir um outro alter-ego.
A cultura islâmica, diverge da nipónica exactamente por fugir à depuração de linhas. O próprio arabesco, como o nome indica, é uma invenção árabe. É uma linha que cativa o olhar, que o seduz de uma forma sinuosa e insinuante, como uma serpente ao som da flauta. A cultura do pormenor, do detalhe, da riqueza de elementos, que de alguma forma encontram harmonia para fugir ao mais previsível ruído visual prende-nos. Muito mais do que as suas guerras nos prendem à televisão.
A cultura dos "países do eixo do Mal" (nem Deus encontraria palavras tão acertadas para tamanha propaganda, e Ele é o Verbo!) contamina tudo o todos. Entra-nos todos os dias no nosso quotidiano sob as mais diversas formas. Senão vejamos:
- A televisão e o conflito Israel/Líbano já é de bradar aos céus. Mal comparado isto vai dar no mesmo que a cabeçada de Zidane. Quem é que tem a culpa? Quem é que começou? Quem é que tem de dar a última palavra? Não acredito que nada do que esta gente está a fazer se coadune com o que vai na Tora ou no Corão, mas daí, num texto cada um lê o quiser.
- As tendências na decoração estão a apostar nos grandes padrões de damasco (tecido de seda proveniente da capital da Síria) e recuperam-nos em fortes contrastes como preto e branco, ou cores profundas e garridas como fuchsia. O islão está aí e já nos entra pela casa adentro, literalmente.
- A música está a ser cada vez mais influenciada pelas sonoridades árabes. Pequenos apontamentos, perfeitamente enquadrados em ritmos urbanos e actuais (e que reforçam essas qualidades, ao invés de veicularem sentidos culturais), estão a ser utilizados por vários artistas da música. Basta ligar a MTV por um bocadinho e vão ver o chorrilho de "islamidades" a começar em 50cent e a acabar em Pussycat Dolls. Ultimamente, até dei comigo a tentar encontrar a versão de "Buttons" destas meninas, que incluísse o batuque que acompanha a coreografia final de grupo no videoclip. A versão que passa nas rádios não inclui esse batuque, que me parece ser a pérola da música.
Isto para dizer que quando os terroristas entraram pelo WTC adentro não foi o Fim.
Isso foi apenas o começo para a grande invasão árabe na nossa cultura. Tudo o que passou a ser considerado como recriminatório e proibido, passou a ser apetecido por todos nós e a cultura ocidental reflecte cada vez mais uma resposta à nossa curiosidade.
Tudo se esconde do nosso olhar em burkas e véus. Vive-se a ideologia do segredo e os ocidentais, desde o iluminismo, têm como vício trazer tudo à luz e à transparência. Faz parte dos planos do nosso mundo, cheio de liberdade e democracia (reparem como estou a ser irónica), despir esta cultura do oculto. Mas se toda a gente sabe que a sugestão é muito mais sensual que a exposição da nudez, para quê então levar esta cruzada até esse ponto?
Penso que esta cultura é, e deverá ser sempre, uma "moura encantada", com uma beleza etérea e inexplicável, em que nem a ciência, nem a religião deverão opinar demasiado. Há muito mais para aprender com os árabes do que o fanatismo e as técnicas terroristas. E se nos passar pela cabeça dar-lhes lições sobre liberdade e democracia, bom, o melhor é reter a ideia de telhados de vidro e com ela concluir que "quem está no convento é que sabe o que lá vai dentro".
P.S. - As Noites da Moura Encantada em Cacela Velha são um bom exemplo do convívio que há entre mouros e ocidentais, relembrando que em tempos todos vivemos na mesma terra. E para selar a amizade entre os dois povos não podia faltar um presente, que coloquei logo na anca e com que andei a passarinhar pelas festas com o barulhinho cintilante (os meus amigos dirão antes irritante) de uma genuína moura encantada.
(Graças a Deus não sou loira! Entre muitas outras razões válidas, porque me estragava esta fantasia toda!!)
;)
8 comentários:
"Em 711 os Muçulmanos invadem e, em pouco tempo, conquistam a Península Ibérica. Estes Muçulmanos eram àrabes e Berberes do Maghreb. Tinham o Islamismo como religião e o árabe como língua de cultura."
Se há cultura e povo que sofreu a influência mourisca, somos nós, os tugas!
O árabe foi uma das línguas de substracto do galego-português, língua "primitiva" do nosso actual código linguístico.
É do senso-comum que a maioria das palavras começadas por Al- é de origem árabe... Por isso, já sabes, da próxima vez que nadares nas águas da Arrábida, atenção às "alhurreq" que é como quem diz em árabe: celenterado de feitio de umbrela que vive entre as algas no mar, a vulgar ALFORRECA!
Falou a prof de português!!!;
Beijinhos
O ditado diz que "para lá do Marão, mandam os que lá estão". Por mim tudo muito bem, senão lixarem terceiros...e Israel (com o compadrio vergonhoso dos EUA) não olha a meios. Uma pergunta parva: como é possível um país tão pequeno geográficamente ser tão poderoso em termos bélicos?!? Acho que assim, Beirute (que se tentava levantar das cinzas qual Fénix), nunca mais voltará a ser a Paris do Médio Oriente. Eu que sou QUASE sempre a favor dos mais pequenos, indefesos e oprimidos (a referência ao justiceiro é merecida...a versão original fez parte da minha meninice), acho que a solução passava por abrir um buraco gigante e pôr lá esses tais que têm uma cultura tão gira e inofensiva de milhares e milhares de anos de opressão (especialmente ao sexo feminino e crianças), depois tapar e plantar por cima qualquer coisa agradável que se dê naquela zona (pinheiro manso requer pouca água e dá uma sombrinha de trás da orelha....e os pinhões?? hum hummm). Sei que sou uma besta e que a medida é grosseira, mas a diplomacia do Ocidente é interesseira e não resolve, porque este é amigo do outro, que por sua vez é amigo dos que têm petróleo e uma posição estratégica no M.O. (Veja-se o empréstimo da base das Lajes...).
Todas as cuturas têm algo de bonito e interessante, agora poupem-me!! Mandar adolescentes carregados de bombas contra um mercado a gritar "Allah u Akbar" convencidos que irão para o céu ter lá com o Senhor deles não é interessante e eu tenho telhados de vidro.
Resumindo: deixo-vos uma pequena pérola...
"Imagine there's no countries
It isn't hard to do
Nothing to kill or die for
And no religion too
Imagine all the people
Living life in peace"
Bjs
Ahhh
E muito importante...Sofia, se quiseres eu tenho um dvd a ensinar a dança do ventre...queres? (é a sério, eu gravos sem problemas).
Eu tento aproveitar o melhor de cada cultura...por pouco que seja ;)
Bjs
Curiosa a referência de le m do fit a John Lenon, pois quando escrevi este post lembrei-me de uma música dele igualmente carismática e apropriada aos acontecimentos presentes:
"All we are saying is
Give peace a chance"
Muitas resoluções, muitos compromissos com a posição israelita, muita conversa, pouca acção e nada disto tem como objectivo dar uma oportunidade à paz. Era tão simples...
Hoje, depois de ter escrito o meu post, estive a ouvir na BBCWorld uma entrevista ao embaixador da Síria nos Estados Unidos.
Aquilo parecia uma conversa com um surdo (o entrevistador, claro) que só fazia perguntas para obter determinadas respostas, e que interrompia frequentemente o entrevistado para o impedir de expressar a sua correcta opinião. Uma vergonha!
E penso eu, que se os media estão a ser manipulados e a manipular de forma tão explícita, e ainda assim eu ainda sinto que a razão está do lado das reclamações libanesas, é porque algo está escandalosamente mal. Ninguém consegue esconder!
E se assim é, porque é que tanta gente insiste em não ver?
Serei eu que estou a ver mal?
Não me parece!
O meu oftalmologista diz que eu podia ser piloto de avião.
E já agora, para complementar a lição de português e de história da Cláudia :) quero relembrar que cada vez que olharem para o saldo da conta e virem um zero, já sabem quem o inventou.
Pelos romanos, tínhamos sempre I euro, mesmo quando estávamos tesos!
Se querem culpar alguém pelo país nunca mais deixar de usar tanga, culpem os árabes! Eles é que lixaram as contas todas!
Então e o dvd? ninguém está interessado? Até está em português!!! E a mocinha dança que se farta... É mais saudável fazer figuras de tótó a imitar em casa que numa qualquer aula em publico. :p
Ok, pronto.
Manda vir o DVD.
Já que vou decorar o quarto como se fosse o cenário das mil e uma noites, o melhor é ter o pack todo completo!
E figuras tristes ao espelho já eu faço muitas, para tentar chegar ao domínio de anca da Shakira. O DVD é só para dar um ar mais científico à coisa.
Não dá para gravar num CD regravável? Eu passava-lhe as fotos do jantar e depois devolvia-me o CD com a dança do ventre gravada.
Boa?
Passa as fotos do jantar que eu gravo-te o dvd na msm... é uma oportunidade única de "partires a loiça toda".
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