"Não como há dias, não me pode pagar o almoço?"
Naquela situação estúpida de ouvir o André do outro lado a perguntar se eu o estava a ouvir, completamente baralhada sem saber a quem atender, respondi:
"-Dê-me só um minuto que eu já lhe pago o almoço, pode ser?"
De repente, ena pá... porra!!! Não tenho dinheiro!!
Quando eu não tenho dinheiro é não ter mesmo nada. Já tinha saltado de uma reunião para a outra só com um pão de leite com fiambre e manteiga (sem um suminho), porque o dinheiro do cartão da escola não dava para mais e eu tinha-me esquecido de levantar dinheiro.
Volto outra vez:
"- Olhe, não tenho dinheiro nenhum quer ver?" Mostro-lhe o interior da minha carteira, acabada de tirar da mala, e deixei-o ver o panorama da minha tristeza.
Uma moeda de 1 cent., outra de 5 cent., um botão e o Santo Onofre.
Será que o botão no mercado negro renderá alguma coisa? Como pretendia eu pagar o almoço a alguém nestes termos? Só se fosse pago em preces!!!
O homem olhou desiludido para mim, com aquele ar do estilo: "xiii, ainda estás pior que eu", enquanto eu insistia:
"- Fique com os 6 cêntimos!"
Sim, claro, porque o botão e o Santo Onofre são valiosíssimos, oh Ana Sofia, por favor, poupa-me!!
Eu faço-me passar cada vergonha...
O homem olhou para mim, como se eu estivesse a importuná-lo e afastou-se sem dizer mais nada.
"Caramba, pensei eu, nem os pobres aceitam o que tenho para dar...!" É curiosa esta forma de orgulho, que contraria a ganância do espírito do "grão a grão enche a galinha o papo". Talvez seja uma forma de auto-preservação: "ou me pagas o almoço, ou também não quero andar a juntar".
Não percebi, mas achei que a cena era insólita o suficiente para não ficar perdida no esquecimento. Ainda para mais quando o Santo Onofre esteve directamente envolvido neste enredo, e tendo sido ele o principal causador de tudo isto.
Para quem não sabe, a figura do Santo Onofre deve andar sempre connosco na carteira "para que nunca nos falte o dinheiro". Tem ainda a particularidade de não poder ser adquirido por nós. Tem de ser outra pessoa a oferecer-nos, neste caso, foi a minha mãe.
E anda aqui uma pessoa, na maior parte das vezes com o Santo Onofre a tomar banho nas notas e moedas do meu porta-moedas, e ele, no dia de hoje, faz-me uma desfeita destas!!!!
Oh, valha-me Santo Onofre!!!
P.S. - Quanto ao botão... bom, eu sou supersticiosa, mas não tanto. É mesmo desleixo de o coser no meu casaco verde :)

3 comentários:
No casaco verde??? Eu li isso direito!!!?
Já não basta a parede da sala, o sapo ....agora um casaco?
Sofia, se vc não fosse Portuguesa os Portugueses te inventariam.
beijos
Wal e João
Pronto! É verde seco! Não é verde, verde!!
Beijinhos!!
Os Bills Gates deste mundo também andam de bolsos e carteiras vazias, mas depois vai-se a ver e lá está o nome dos ditos cujos na Forbes...
Cá pra mim, isto não passa de uma manobra de despite: uns míseros cêntimos na carteira para desviar a atenção dos milhões de euros na conta bancária! Estou certa, não estou Sofia? :P
P.S.: a tua maior riqueza está na pessoa que és: generosa.
Beijinho
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