28 julho 2007

Investimentos sem futuro...

Estou oficialmente de férias!
Literalmente, na teoria, e finalmente na prática.

Fui "convidada" para a constituição de turmas e o que se perdeu foram muitas aulas de ginástica, umas boas tardes de praia, o matar de saudades da bordoada matinal do Mourinho, e umas boas semanas de férias.

Todos os dias das 9 às 17, 18 ou 19 horas, tudo foi possível. Hoje saí às 21 horas. O André à minha espera para jantar e eu a trabalhar numa sexta-feira à noite, no dia 30 de Julho. Para quem não sabe eu sou professora e oiço com frequência a boca do "grandes férias!"

A partir de hoje nada volta a ser o mesmo. Vou andar à roda como a lotaria, e com sorte volto a calhar noutra escola. Novas pessoas, novos relacionamentos, novos amigos...

Hoje não foi o simples último dia antes das férias.
Foi o último dia. Ponto.
Quando se passa tanto tempo numa escola, como passei nas últimas semanas, acaba-se por saber os nomes de todos os funcionários e colegas, mas também as suas vidas e dilemas. Os meus relacionamentos profissionais são a prazo e expiram a 31 de Agosto.

Hoje, por exemplo, fui tomar o pequeno almoço numa pastelariazinha amorosa em frente à escola, e uma colega que conheço de vista (de a ver o ano inteiro), veio sentar-se na minha mesa. Acabámos por meter conversa, trocar impressões e estabelecer um contacto que nunca foi possível até agora. Enquanto falava com ela interrogava-me: para quê conhecer mais esta pessoa se isso só vai fazer diferença até ao fim do dia?
É um investimento sem futuro. É deitar dinheiro ao ar. E mesmo assim, deitei.
Trocámos desejos de boas férias, sentidos como se fossem para os nossos melhores amigos.
E nunca mais a vou ver...

Não lido bem com estes relacionamentos descartáveis a que a profissão me obriga. Todos os anos me dou ao trabalho de conhecer as pessoas, os seus nomes, as suas vidas, as suas tristezas, as razões que as movem.
E todos os anos, no fim do ano, sou obrigada a agarrar nisso tudo como se fossem papéis velhos e deitá-los ao lixo.
São pessoas, são vidas. Não são para deitar fora.

A afeição é um sentimento difícil de impedir. E mesmo que eu não queira, meto sempre conversa com os funcionários todos que me passam pela vista e mesmo não lhes sabendo o nome, fico-lhes a saber a vida. Trago comigo um pouquinho deles e tenho pena que nada disto agora faça sentido.

Evitei fazê-lo durante todo o ano, porque já sei como a história acaba e já tenho as minhas estratégias de auto-preservação. Mas a trabalhar de manhã à noite com as mesmas pessoas, e tendo um feitio extrovertido, é difícil não fazer amizades de última hora.

Quando penso seriamente nisso, vejo que nem posso classificar como amizades. São relações feitas de pequenos câmbios de desabafos, trivialidades e sorrisos.
Pequenos investimentos de risco, que vencem no dia de hoje.

Que faço eu então com os juros capitalizados?
Ponho numa conta poupança?
Não.
Ponho debaixo do colchão, para não me lembrar da afeição.

Nas relações todos os investimentos são de risco, mas desde que o saldo disponível seja positivo há sempre dinheiro para novos investimentos.

Sim, porque eu ando na escola há anos, mas nunca mais aprendo. ;)

09 julho 2007

"Marcha à Ré" é sempre em frente!

As férias são como o Natal:
  • quando um homem quiser;
  • uma mulher deixar;
  • e o dinheiro permitir.
As férias no ano passado foram... resumidas. Daí que este ano tenha decidido reclamar férias desde cedo, ocupando os fins de semana activamente.
O interesse é não ficar em casa. Claro que se corre o risco de ficar cansada com a viagem (e a segunda-feira não perdoa), mas o cansaço é sempre disfrutado, e não sofrido.
Chegamos moídos, mas felizes. E isto é um descanso!

Se há um Portugal profundo, então eu tenho andado a fazer mergulho.

Por sítios em que a paisagem inspiradora nos estampa um sorriso no rosto; onde acordamos às 6 da manhã com o barulho dos pássaros e das vacas que ainda não pararam de mugir e se aproximam cada vez mais; onde todos nos acarinham e nos dizem "Bem haja!" e "Boa Viagem!" por onde quer que passemos; onde os desconhecidos com que nos cruzamos na rua nos dizem "Bom dia" (imaginem pôr isto em prática em Lisboa!!); onde se recordam férias e episódios de há 20 anos atrás, relembrando o cheiro intenso do lagar de azeite, ou da frescura da água tirada da bilha de barro e bebida pelo púcaro; onde um exército de pequeninas aranhas e mosquitos nos fica a guardar o habitáculo da tenda; onde nos vemos obrigados a partilhar o lavatório da casa-de-banho com uma rela, que teima em escalar azulejos e pedra mármore, com toda a certeza para se conseguir ver ao espelho!

Por tudo isto, o fim de semana passado me soube a férias. Tanto, que só quando entrei hoje no portão da escola é que me conformei que tinham acabado.

... Humm.
É que tinha ficado com a impressão que no paraíso não havia volta atrás.