Estou oficialmente de férias!Literalmente, na teoria, e finalmente na prática.
Fui "convidada" para a constituição de turmas e o que se perdeu foram muitas aulas de ginástica, umas boas tardes de praia, o matar de saudades da bordoada matinal do Mourinho, e umas boas semanas de férias.
Todos os dias das 9 às 17, 18 ou 19 horas, tudo foi possível. Hoje saí às 21 horas. O André à minha espera para jantar e eu a trabalhar numa sexta-feira à noite, no dia 30 de Julho. Para quem não sabe eu sou professora e oiço com frequência a boca do "grandes férias!"
A partir de hoje nada volta a ser o mesmo. Vou andar à roda como a lotaria, e com sorte volto a calhar noutra escola. Novas pessoas, novos relacionamentos, novos amigos...
Hoje não foi o simples último dia antes das férias.
Foi o último dia. Ponto.
Quando se passa tanto tempo numa escola, como passei nas últimas semanas, acaba-se por saber os nomes de todos os funcionários e colegas, mas também as suas vidas e dilemas. Os meus relacionamentos profissionais são a prazo e expiram a 31 de Agosto.
Hoje, por exemplo, fui tomar o pequeno almoço numa pastelariazinha amorosa em frente à escola, e uma colega que conheço de vista (de a ver o ano inteiro), veio sentar-se na minha mesa. Acabámos por meter conversa, trocar impressões e estabelecer um contacto que nunca foi possível até agora. Enquanto falava com ela interrogava-me: para quê conhecer mais esta pessoa se isso só vai fazer diferença até ao fim do dia?
É um investimento sem futuro. É deitar dinheiro ao ar. E mesmo assim, deitei.
Trocámos desejos de boas férias, sentidos como se fossem para os nossos melhores amigos.
E nunca mais a vou ver...
Não lido bem com estes relacionamentos descartáveis a que a profissão me obriga. Todos os anos me dou ao trabalho de conhecer as pessoas, os seus nomes, as suas vidas, as suas tristezas, as razões que as movem.
E todos os anos, no fim do ano, sou obrigada a agarrar nisso tudo como se fossem papéis velhos e deitá-los ao lixo.
São pessoas, são vidas. Não são para deitar fora.
A afeição é um sentimento difícil de impedir. E mesmo que eu não queira, meto sempre conversa com os funcionários todos que me passam pela vista e mesmo não lhes sabendo o nome, fico-lhes a saber a vida. Trago comigo um pouquinho deles e tenho pena que nada disto agora faça sentido.
Evitei fazê-lo durante todo o ano, porque já sei como a história acaba e já tenho as minhas estratégias de auto-preservação. Mas a trabalhar de manhã à noite com as mesmas pessoas, e tendo um feitio extrovertido, é difícil não fazer amizades de última hora.
Quando penso seriamente nisso, vejo que nem posso classificar como amizades. São relações feitas de pequenos câmbios de desabafos, trivialidades e sorrisos.
Pequenos investimentos de risco, que vencem no dia de hoje.
Que faço eu então com os juros capitalizados?
Ponho numa conta poupança?
Não.
Ponho debaixo do colchão, para não me lembrar da afeição.
Nas relações todos os investimentos são de risco, mas desde que o saldo disponível seja positivo há sempre dinheiro para novos investimentos.
Sim, porque eu ando na escola há anos, mas nunca mais aprendo. ;)

2 comentários:
O que guardas na tua caixinha não é para dar a ver ou veres tu própria, é para te conheceres e conheceres a realidade humana.
Eu próprio também já pensei: "que circunstancial são os contactos com os nossos colega; no dia vinte tal de Julho passa-se uma esponja, parecendo que não houve partilha de nada". Mas, tu és diferente antes e depois desse ano lectivo. Não sei se já experimentaste reencontrar colegas que já não vias há ano; o afecto não é indiferenciad: pode provocar a emersão de um afecto guardado, pode denotar indiferença ou repulsa. O que significa que realmente viveste essas pessoas e que elas fizeram parte do teu crescimento...
Luís
Oi Sofia..
Também sou como vc, não me dou bem com coisas como " investimento sem futuro"...mas sabe de uma coisa, foi assim dessa maneira sem esperar nada de nada, que conheci o João e hoje estamos casados. Hoje penso que nenhum investimento é sem futuro...basta sentar, ter um bom papo e naquele momento mesmo que sem futuro, o presente existiu e é isso o que vale!
Estou passando pra te deixar um beijão e dizer que estou perto de morar nas terras lusitanas..e se vc estiver de férias poderá me visitar no Algarve!
Estou com um novo site...( esse é só meu)
beijinhos
Wal
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