22 agosto 2007

Holanda: Prós e contras (parte II)

Sabe-se lá porquê, quando me perguntam se gostei da Holanda a minha cabeça hesita em dizer logo que sim.
Claro que foi uma viagem fantástica, com deliciosos passeios, com vistas e panorâmicas diferentes, com uma cultura diferente...
A Holanda é pequena (metade de Portugal), está no centro da Europa (a meio termo, sem extremismos e com o máximo de tolerância de todas as posições e escolhas). A Holanda, em Agosto, não faz vibrar a paisagem com a intensidade cromática dos campos de bolbos, e por isso, é um país das pequenas coisas.
Eu própria, não sou como a Holanda. Eu tomo muitos partidos, sou oito ou oitenta, compro guerras à conta das minhas ideias ou posições e instigo discussões sobre
tudo aquillo que não concordo.
A qualidade de estar no meio, de ser equilibrado, tem um preço. Mas é mais barato do que aquele que pagamos por assumir extremos.
A Holanda, poderá vir a revelar-se uma boa surpresa com o passar dos tempos, mas por enquanto guardo o ressentimento da desilusão. A Leiteira de Vermeer, as verdadeiras motivações de Van Gogh...
No entanto, apesar da verdade ao vivo ter desacreditado toda a v
erdade dos livros e da minha cabeça, restam as pequenas coisas, que antes eram ofuscadas, e agoram ganham um brilho próprio aos meus olhos.

Depois de muito espernear, esquecem-se os girassóis, que ainda me está prometido ver os de fundo azul em Munique, e valorizam-se as, até então, pequenas coisas. Frans Hals foi uma total descoberta e eterna delícia de observar.

A pincelada gestual de uma precisão incrível, faz dos seus quadros pontes com o presente. Ali, ao vivo, a 20 cm da matéria cromática, eu senti a presença, o movimento, a acção. Como se o pintor, gestualizasse ad eternum, cada pequena mancha de tinta. Percorrer os brilhos desta faixa é percorrer a tela com os olhos de Frans Hals e essa é uma experiência memorável.

A pujança e vivacidade da cor aqui representadas na imagem ficam muito aquém daquilo que ficou gravado na minha retina. Ainda assim aqui fica um pequeno testemunho.
Aprendemos a gostar dos quadros pelas suas imagens nos livros, como se essas representações pudessem substituir na íntegra os originais. Hoje olho para as fotografias da minha avó e a única coisa que me ocorre é que elas nunca poderão representar nem uma fracção de milésimo daquilo que ela era.

PRÓ: Sentir a mão de Frans Hals e observar de perto o tratamento da matéria por Rembrandt, quer no tratamento dos fundos com riscado, quer nas espessas massas de cor quase expressionistas.

CONTRA: conhecer um Van Gogh que se vendia ao sabor das tendências, inseguro e hesitante. Conheci finalmente a humanidade de quem eu fantasiara como um génio. Porém, fica a lição: viver e morrer como um fracassado, não é impeditivo de se chegar ao sucesso.
A Holanda não foi uma experiência grandiosa, mas pode ser que com o tempo eu consiga ver mais do que esplendor das pequenas coisas.

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