09 setembro 2007

Estranha forma de vida

Se a minha vida tivesse banda sonora, esta seria uma das músicas do álbum.
Recordo com uma pintinha de tristeza, aquela que me permito demonstrar, os dias que passava a brincar e ouvia a minha avó a cantar este fado entretida nas lides da casa.

Na altura eu era miúda, e a letra pouco me dizia. Hoje os dois primeiros versos fazem em mim um eco particularmente irónico.
Setembro chega e com ele chegam as exigências, dos outros, mas principalmente as minhas. O sol do Verão apenas me exige que fique abrigada no guarda-sol, com protector 50+, até que sejam cinco e meia da tarde. É uma tarefa simples e prazeirosa. Mas acabando o Verão, chegam os apertos no estômago, os nós na garganta, a memória turva, a concentração intermitente. Porquê? Sei lá porquê! Talvez seja por vontade de Deus!! Mas também é possível que seja Síndrome Pré-Menstrual! Uma destas duas omnipotentes e omnipresentes causas, é certo!


Foi por vontade de Deus

Que eu vivo nesta ansiedade

Que todos os ais são meus

Que é toda minha a vontade

Foi por vontade de Deus


Que estranha forma de vida

Tem este meuu coração

Vive de vida perdida

Quem lhe daria o condão

Que estranha forma de vida


Coração independente

Coração que não comando

Vives perdido entre a gente

Teimosamente sangrando

Coração independente

Eu não te acompanho mais
Pàra deixa de bater

Se não te acompanho vais

Porque teimas em correr

Eu não te acompanho mais

Se não sabes onde vais

Pára deixa de bater

Eu não te acompanho mais
Amália Rodrigues

Por muito independente que seja o coração (e que o ateste o sistema nervoso autónomo) não há ainda forma de dizer basta, "pára, deixa de bater". Não podemos dizer "Coito", que com esta idade já tem interpretações muito menos seguras. Não se pode dizer "não brinco mais", porque agora é a sério.
É sempre tudo a sério.
Mas tenho saudades de brincar...
E por isso conservo esta estranha forma de vida, com uma eterna correspondência no passado, pensando como adulta complicada nos problemas, e como criança simplista nas soluções.

Tenho um emaranhado de problemas comigo.
Será que vale dizer "trava congela e obedece"?

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