Tinha feito uma vigilância pela manhã, uma reunião pela tarde, com um almoço de colegas entremeado. Era o último dia de serviço na escola.
Era dia 17 de Julho, dia complicado, no qual tento sempre tomar cuidados extra, pois o destino nestes dias teima sempre em me surpreender. Acordei meia hora antes do que devia (às seis e meia da manhã) para me precaver com o trânsito. Não fosse alguma acontecer e eu ter os minutos contados. Já havia escolhido cuidadosamente a roupa no dia anterior, para não perder tempos esquecidos a pensar no que queria vestir. Planeei ao milímetro este dia e rezei para que tudo corresse bem.
Cheguei mais cedo à escola (bom sinal!), dei cumprimento à vigilância (duas horas e meia de silêncio, folhas de resposta, folhas de rascunho, confirmações de cabeçalhos, assinaturas e muita responsabilidade) e fui acabar de combinar o almoço.
- Vamos ao Chinês?
- E peixinho fresco, aqui perto?
Os chineses ficaram a perder.
Partilhámos uma refeição de conversas sobre a vida, os dilemas e a naturalidade com que podemos lidar com eles, trivialidades, viagens, curiosidades, tudo com muita risota à mistura.
Conhecem-se os nomes de pessoas que vemos há dois anos:
- São? És São?
- Não, chamo-me Sofia.
- Ah, Sofia!
Vivi com eles um dia da minha vida, o último que dei a esta escola, numa amizade relâmpago a que os professores estão muito habituados, mas que eu começo agora a compreender.
O ano passado, por esta altura, lamentava os "investimentos de última hora" em pessoas que não iremos voltar a ver. Este ano, tenho uma parte de mim a lamentar.
Por não haver oportunidade durante o ano para conhecer outros colegas e partilhar com eles a refeição, a vida e a dourada escalada com batata cozida e salada.
Por não ter havido mais tempo para falarmos.
Por não ter conhecido mais as pessoas que tanto me surpreenderam no último dia.
Não houve tempo. E há um ano atrás eu olharia para este último dia como o dia de atirar de dinheiro ao vento. Um desperdício em absoluto.
No entanto, e depois do "dá-me um toque para eu ficar com o teu número", do "boa sorte com as preferências do concurso", do "a gente vê-se" e do "eu depois mando um mail", dirigi-me para o carro, num final de tarde tão tórrido quanto se pode imaginar e imaginei-me a dar os últimos passos do fechar de um percurso. E à minha frente se formou a imagem de uma prenda, que já de si fantástica, se embrulha com um enorme e pomposo laço vermelho (na minha cabeça ele era obviamente framboesa com irisados violeta, mas em atenção ao público masculino eu retrato-o simplesmente como vermelho!).
Imaginei, à medida que me afastava, que envolvia a prenda nessa fita colorida, contorcendo-a sobre si própria até fechar num gesto de beleza um capítulo bom e importante da minha vida.
Neste dia atirei dinheiro ao ar, como de costume, mas vim mais rica para casa. Guardei numa caixinha, em forma de prenda, dois anos da minha vida que, mesmo com todas as atribulações e ansiedades, devem ter sido muito bons, porque sempre que olho para o laço vermelho (framboesa com irisados violeta) não consigo deixar de sorrir.
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