Já dei festas porque era lua cheia, porque fazia 7 anos que namorava com o André, porque fazia anos, porque os outros faziam anos. Já me cantaram os parabéns junto com a noiva no seu próprio casamento, mas a que vou contar é mesmo uma estreia.
Fiz 30 anos.
Não dói nada, não faz crescer mais cabelos brancos, mas a mim tem-me feito crescer "pêlo na venta".
Os 30 estão a dar-me uma força para ser eu, para ser desbocada (como em tempos fui), para exigir o que acho correcto, e para chamar a atenção do que não acho. Desde que fiquei colocada a minha vida entrou num rodopio apenas comparável com um furacão de grau 5. Seguia todos os dias para casa, ou melhor dizendo, para a Azeitão, lembrando a mim mesma que hoje ainda mexia as mãos e os pés e que sabia falar e movimentar-me sem qualquer ajuda. Quando nos agarramos a este tipo de coisa estamos mesmo à beira do abismo.
Apeteceu-me escrever sobre esses abismos, essas maldades, essas mesquinhices, essas tropelias, acidentes e incidentes que me aconteceram. Pensei eu: "vai escrever no blog, que liberta!" Mas de seguida pensei que gosto de me reler e que não tenho prazer nenhum em recordar o que foram estes 15 dias para mim. Vou esquecê-los, virtualmente, porque obviamente ainda me estão a atormentar.
Entrei nos 30 já a comprimidos. Isto é que é começar bem! Já não me envergonho de dizer isto. Aos 30 já é suposto andarmos a comprimidos. Aos 40 é antipdepressivos. Lá chegaremos, tenham calma!
Isto tudo para dizer que fiz trinta e sinto-me fresca e fofa, como a dona Papoila era tola, tola, tola. Sinto que tenho vivido num poço de frustração: por ter 30 anos e nada parecer bem. Por querer comemorar e a minha vida andar num estado de caos tal que dar festas até me parece (vejam bem, logo eu!!!) uma coisa sem sentido.
Os deuses (claro que só acredito num, mas fica mais poético pensar que tem muitas facetas) pensaram e muito bem:
"- Vamos atirar uma festa à rapariga"
E alguém se lembrou, tenho a certeza que foi a faceta de Baco a falar:
"- E que seja surpresa!"
Inventaram, pois os deuses são muito inventivos, um casamento!
No sábado lá fui eu e o meu gajo, impecavelmente vestidos, para um casamento de dois amigos. Sabe-se lá porquê, talvez por ter feito anos numa 5ª feira e saber que no sábado não iria ter o merecido forrobodó, decidi de antemão que a nossa mesa tinha a de ser a mais divertida e animada.
E de facto, na mesa foi só risada misturada com planos para desgraçar o carro aos noivos. Fotografias a torto e a direito e só porque sim.
E eis que começa a música.
Desde a mímica das lyrics até ao saltar da cadeira para a pista foi, literalmente, um passo de dança.
Amigos do noivo e da noiva, juntos na mesma mesa, com o mesmo espírito de farra! Estão a ver a onda? A festa que nós fizemos foi tanta que quando o DJ pensava que ia arrumar as coisas para dar de frosques e ainda estávamos nós ali a pedir a música mais alto. Às tantas o homem rendeu-se à nossa animação e ficou a curtir connosco de auscultador no ouvido e nós em círculo a dançar à desgarrada no centro.
Figuras tristes? Muitas!
Risota? Até cair!
Pés pisados? Claro, faz parte do conjunto!
Mas adorei.
Adorei estar a comemorar ali, secretamente, no casamento de dois amigos, o meu aniversário, os meus 30 anos, com todas as minhas conquistas, sucessos e falhanços também.
Adorei porque me esqueci de quem era e lembrei-me de quem eu sempre havia sido. E se dúvidas houvesse, foi quando me agarrei ao primeiro que apareceu para formar um comboio humano ao som do (não podia faltar!) "Apitó comboio" que tudo me pareceu distante.
Não me lembrei de mais nada. E este nada é um TUDO enorme de pequenas e grandes coisas que me deixam devastada, cansada e sem forças. Que conseguem romper a minha carapaça e me fazer baixar os braços em desistência.
E desistir é próprio dos fracos.
Mas a mim ainda me sobra muito orgulho para não me considerar um deles.
Porque o SOL volta a nascer amanhã, e a escuridão que paira aqui e agora dissipar-se-á, inundada pela luz quente e meiga do Outono.
Numa festa que não era minha, consegui domar o furacão que pairava sobre mim, para fazer brilhar numa noite estrelada todos aqueles que me rodeavam e que transmitiam uma energia positiva. E isso bastou.
Mesmo que não estivessem todos aqueles que eu queriam que tivessem estado, estiveram os suficientes para eu, naquele dia, ter sido feliz, sem pensar no que me esperava fora dali.
No final, fui agradecer ao DJ, por nos ter aturado mais que a conta, até todos os convidados se terem ido embora e só restarem aqueles que esperavam a boleia dos familiares dos noivos (sim, porque a esta hora as mesas já tinha sido levantadas e desmontadas!!)
O DJ foi um querido, e quando nós estávamos a arrumar as tralhas, a aconchegarmo-nos nas écharpes, começa a tocar aquele piano inconfundível que qualquer pessoa da "minha idade" sabe de cor.
O Dartacão.
De malas em punho, sacaria, casacos, echarpes e máquinas fotográficas, cantámos a letra toda até ao fim e até saltámos no refrão!
Que grande despedida:
- da festa de casamento.
- de vinte e nove anos bem passados.
- de uma maneira de ser que cultivei desde pequena: a de sentir que tenho de pedir desculpa por existir.
Neste dia fiz o que me deu na telha, sem vergonhas, sem medos, sem hesitações.
Claro, que lá para o final da noite os meus cabelos lisos já estavam noutra "onda", mas nem isso me fez parar: o cabelo a pingar, a blusa ensopada, cansaço e pés muiiiiiito doridos, que a música dos eigthies quer-se é mexida e os saltos altos, por esta altura, já eram um instrumento de tortura!
Resumindo e baralhando: Comecei os 30 a "furar casamentos", a meter festas de aniversário à socapa nos copos-de-água.
A ser inconveniente, como fui por exemplo a gritar em frente à mãe da noiva, mas pronto, ao som da música:
The roof the roof the roof is on fire
We don't need no water let the motherfucker burn
Burn motherfucker burn
(Oh, meu Deus, e nem sequer tenho a desculpa da bebida, porque onde é já ia o Baileys a esta altura!...)
Comecei os 30 a fazer asneiras!
E o pior de tudo é que gostei!
1 comentário:
Espero que o próximo seja o teu e que toquem a musica da ávore dos patafurdios. Isso sim, um ícone!
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