26 abril 2011

O meu Marley...

Forcei-me a escrever, porque estou num farrapo, e porque acredito que verbalizar é sempre o melhor remédio. 
Ainda falta algum tempo para terminar a aula que eu devia estar a dar aos meus alunos: hoje faltei.
Quem me conhece sabe que eu só falto por razões de força maior. Odeio ter de pegar no telefone e dizer que não vou conseguir cumprir as minhas obrigações, mas foi isso que hoje fiz.
A minha vida mudou com aquela trovoada do dia 18 de Abril. A semana anterior tinha sido profícua em trabalho, mas de repente surgiu uma urgência. O meu cão... a saúde do meu cão deteriorou-se bastante e, na última semana, tive de o ver definhar e perder as suas capacidades. Deixou de se conseguir levantar sozinho, deixou de andar, deixou de conter as fezes, e deixou de se preocupar por estar deitado sobre a própria urina.
Em casos destes, fazemos como com as pessoas: arregaçamos as mangas.
Nos dois últimos dias deixou de comer, até o Nestum com que eu disfarçava os comprimidos todos que tinha de lhe dar.
Hoje de manhã cedo fui ao veterinário que me disse: é falta de vontade.
Falta de vontade... 
Não é de estar vivo, mas falta de vontade de estar assim.
Temos de o virar, de o levantar, de o transportar numa maca improvisada com toalhas de praia, temos de lhe dar água por uma seringa e temos de lhe fazer a higiene diária, tal como faríamos a qualquer velhinho acamado.
Custa-me tanto vê-lo assim... Parte-me o coração vê-lo tão murchinho e incapacitado, mas ainda assim capaz de compor aquele olhar expressivo que ele faz sempre que me reconhece ao longe. É um doce, aquele cão, e acompanhou a minha vida durante 14 anos, um autêntico feito para um cão deste porte.
Catorze anos é muito tempo para nos afeiçoarmos à sua presença, para, de repente, termos de nos despedir.
Tenho chorado imenso, mais do que aqui posso descrever, porque o estado dele me corta o coração, porque odeio ter de pensar que um dia destes vou lá fora ao quintal e já não o vou ver mais, porque vou ter que o guardar em memória e não sei como se arquiva a boa sensação de lhe passar a mão pelo pêlo fofo e luzidio...

Já desabafei e não estou melhor.
Guardo esta revolta de quem está farta de assistir a mortes este ano. Estou danada com o sentido da vida, porque nada disto tem sentido, e tudo isto é demais! Porra, é demais!
Não consigo imaginar o que pode equilibrar este sofrimento e estas perdas, consecutivas. Tudo fica um pouco mais descolorido, um pouco menos brilhante, de dia para dia. E eu que sou pintora, não tenho arte para saber o que mais fazer...



1 comentário:

Anónimo disse...

O cão é, de facto, um bicho estranho. Segundo li tem a idade mental de uma criança de 6 anos. O teu se calhar cresceu e percebeu em q país vive e viu o resultado das ultimas sondagens!,

eu