Que porra!
Estão a ver porque desejo sempre muita saúde às pessoas? Soa a desejo de velha, mas para mim é um bem essencial.
Estou constipada, com expectoração até ao último dos meus alvéolos pulmonares, tosse incontrolável e esta voz que parece vinda de uma cabeça enfiada num garrafão.
Já fui ao médico, já. Fui lá duas vezes, porque passei a 1ª semana a tomar uma treta que não me fez nada. E como eu sou bem mandada, e sei que se o homem é médico ele lá sabe, tomei tudo até ao fim, para lhe poder esfregar isso na cara.
Duas semanas de desemprego que mais cheirava a férias, e toma lá com esta enfermidade que me pôs no sofá embrulhada na manta a beber chazinhos e a fazer inalações. Que raios!
Tenho o telefone avariado e ontem o meu computador esteve a formatar. Estive completamente desligada do mundo e percebi o quanto isso me fazia falta.
Hoje estou melhor, ao fim de quase duas semanas!
A minha disposição está insuportável, até para mim.
Olho lá para fora e vejo um dia bonito, mas a mim só me apetece gritar de... saturação!!!
Aguenta mais umas horas, mais um dia, e tudo se irá resolver.
Do mal o menos: ainda não estou colocada e não tenho de fingir que não estou doente. Nem sei o que seria se eu estivesse assim e tivesse de dar aulas. O melhor mesmo é picar o ponto nas doenças em tempo de férias (em tempo de aulas pico o ponto aos fins de semana!), para depois recomeçar fresquinha.
Que neura...
27 fevereiro 2009
20 fevereiro 2009
Porque o ORGULHO é o pecado mais confessado pelas mulheres...
Deveria estar a fazer um milhão de tarefas que deixei pendentes, mas aquilo que me leva a escrever prende-se com a necessidade de rever a importância das pequenas coisas.
Todos nós já passámos pela experiência de nos sensibilizar-mos com alguém e sobretudo com a partida (temporária ou definitiva) dessa pessoa.
Eu, particularmente, penso várias vezes em firmar o que sinto numa mensagem, mas por uma razão ou outra, os meus sentimentos perdem-se. E a outra pessoa nunca saberá deles. Conforto-me dizendo que nada disso faria diferença.Mas faz.
Faz-nos sentir importantes, especiais e com valor, acima tudo reconhecidos e atestados por outrem.
Neste final de contrato, e porque dei aulas aos mais pequeninos, mais atreitos à sinceridade e a todas as manifestações de sentimentos, sem pudor ou comedimento, recebi uma série de pequenos presentes.
Queria só registar que estimo muito a atitude destes meninos e meninas, que os guardo comigo e que se houve por algum momento a dúvida se valeria a pena o incómodo, ela que se recolha de vergonha, porque valeu muuuuuuuuuuiito a pena.
Mesmo que eu só tenha retribuído com um sorriso.
Mesmo que eu não tenha sido efusiva como é meu costume no dia-a-dia.
Na frente da colega que eu estivera a substituir, não ficava bem viver estes momentos a rigor, com lágrimas e tudo.
As lágrimas chorei-as em casa.
Os sorrisos, no entanto, renovam-se de cada vez que olho para estes vestígios de uma relação de amizade com os alunos. Talvez não seja profissional, talvez não seja o que se espera de mim. Mas eu já tenho 30 anos e isso já me dá autoridade para me marimbar no que os outros pensam! :P
Soube-me bem, fez-me bem. E far-me-á muito mais, nos dias em que estiver triste e relembrar que fui, nem que seja por um momento, importante na vida de alguém.
Sim, fez e fará toda a diferença.
Todos nós já passámos pela experiência de nos sensibilizar-mos com alguém e sobretudo com a partida (temporária ou definitiva) dessa pessoa.
Eu, particularmente, penso várias vezes em firmar o que sinto numa mensagem, mas por uma razão ou outra, os meus sentimentos perdem-se. E a outra pessoa nunca saberá deles. Conforto-me dizendo que nada disso faria diferença.
Faz-nos sentir importantes, especiais e com valor, acima tudo reconhecidos e atestados por outrem.
Neste final de contrato, e porque dei aulas aos mais pequeninos, mais atreitos à sinceridade e a todas as manifestações de sentimentos, sem pudor ou comedimento, recebi uma série de pequenos presentes.
Queria só registar que estimo muito a atitude destes meninos e meninas, que os guardo comigo e que se houve por algum momento a dúvida se valeria a pena o incómodo, ela que se recolha de vergonha, porque valeu muuuuuuuuuuiito a pena.
Mesmo que eu só tenha retribuído com um sorriso.
Mesmo que eu não tenha sido efusiva como é meu costume no dia-a-dia.
Na frente da colega que eu estivera a substituir, não ficava bem viver estes momentos a rigor, com lágrimas e tudo.
As lágrimas chorei-as em casa.
Os sorrisos, no entanto, renovam-se de cada vez que olho para estes vestígios de uma relação de amizade com os alunos. Talvez não seja profissional, talvez não seja o que se espera de mim. Mas eu já tenho 30 anos e isso já me dá autoridade para me marimbar no que os outros pensam! :P
Soube-me bem, fez-me bem. E far-me-á muito mais, nos dias em que estiver triste e relembrar que fui, nem que seja por um momento, importante na vida de alguém.
Sim, fez e fará toda a diferença.
O desenho expressivo do trabalho que desenvolvia com os NEE's. Supostamente, eu sou a figura feminina central e a cruz assinala a minha "partida". Do estilo "morri para a aluna", estão a ver? Adoro este tipo de humor negro, que não levo nada a mal e que até me faz abrir mais as minhas perspectivas de leitura.
A óbvia mensagem escrita nas traseiras do desenho, que é uma doçura!
Para a aluna: a minha definição.
Para mim: o meu projecto de vida!
E ainda só consegui conquistar o O em pleno!!
Nunca pensei que um aluno pudesse vir a gostar de mim por eu gostar de ser rigorosa e perfeccionista. Normalmente, esses são os principais motivos para eles embirrarem comigo! Ainda assim, isto foi uma importante conquista para não perder a fé no rumo do ensino.
Lembram-se da Micaela?
A menina que queria trabalhar fez-me esta preciosidade, para mostrar que a sinceridade e a boa vontade é o melhor material para se prestar homenagem a alguém.
A óbvia mensagem escrita nas traseiras do desenho, que é uma doçura!
Para a aluna: a minha definição.
Para mim: o meu projecto de vida!
E ainda só consegui conquistar o O em pleno!!
Nunca pensei que um aluno pudesse vir a gostar de mim por eu gostar de ser rigorosa e perfeccionista. Normalmente, esses são os principais motivos para eles embirrarem comigo! Ainda assim, isto foi uma importante conquista para não perder a fé no rumo do ensino.
Lembram-se da Micaela?
A menina que queria trabalhar fez-me esta preciosidade, para mostrar que a sinceridade e a boa vontade é o melhor material para se prestar homenagem a alguém.
A minha felicidade de final de contrato, estrutura-se em parte nesta sensação: a de sentir que, apesar de todos os erros que possamos ter cometido no dia-a-dia, a nossa presença fez diferença.
E isso me basta, para me lambusar toda orgulhosa nestes pequenos gestos!
E isso me basta, para me lambusar toda orgulhosa nestes pequenos gestos!
17 fevereiro 2009
That's a wrap!!
Não há palavras que descrevam a felicidade que sinto hoje!
Acabei o meu contrato e a infindável telenovela "Tirem-me deste filme!".
Tragédias, comédias, dramas (sim, dramas que eu apanhei tudo, desde colegas a funcionárias, até as senhoras da Secretaria lavadas em lágrimas!). Que cena!
Estranha esta escola em que tudo não corria como era esperado, em que tive de esgravatar pelos meus direitos consagrados em lei, e em que tive de ensinar funcionárias administrativas a lidar com os meandros dos decretos, dos contratos, das contagens de tempo de serviço. Oh, meu Deus! A mim pagam-me para ensinar alunos, não para ensinar pessoas a fazer o trabalho delas.
Mais uma resmunguice, mais um bate-pé de final de contrato e ainda saí de lá com o que queria (mais uma vez - a teimosia faz milagres!).
Deixo para trás uma escola a que me habituei, mas em relação à qual não consigo articular verbos com algum rasgo de afectividade. Fez-se, acabou-se, está despachada!
Como em tudo, há sempre as coisas boas, que mesmo sendo pequeninas não perdem a sua preciosidade. Hoje despedi-me da D. Maria das fotocópias, da D. Carla do bloco B (Quiiiiiinze!!!!, gritava ela à entrada do pavilhão para mandar entrar os alunos para a minha sala - B15). Deixaram-me a lágrima no olho, mas quão estranho, no entanto para mim óbvio, ser eu a desejar-lhes felicidades e um futuro prometedor.
Parece estranho, e para mim continua a ser óbvio, que uma professora que acaba um contrato, sai para o desemprego, não tem perspectivas nenhumas de trabalho, nem sequer uma candidatura pendente, esteja a distribuir por todos os que têm a vida de trabalho assegurada, desejos de boa sorte e felicidades.
Vá-se lá saber, saí de lá com aquele sorriso nos lábios... aquele sorriso estúpido que escarrapachamos na cara cada vez que nos acontece uma coisa boa e não conseguimos disfarçar.
Hoje estou a sorrir e sei que o próximo contrato que está à minha espera pode até ser um verdadeiro inferno, mas hoje estou a sorrir e hoje só me preocupo em tornar esse sorriso sincero.
Apagam-se as luzes, fecha-se a cortina. Faz-se o caminho em direcção a casa pela última vez. Não se guardam saudades de um tempo, de um sítio. Apenas experiências, pessoas e alunos. Vivências pontuais, que eu faço questão de exaltar para não se perderem nos enredos daquela escola.
Hoje estou feliz! Não me canso de o dizer.
Não tenho aulas para preparar, e tenho um sol lindo a especar para mim. As flores desabrocham nas árvores e eu sinto que tudo é um sinal de festejo por este dia.
Amanhã é outro dia, novas obrigações, deveres, horários a cumprir.
Mas hoje... deixem-me continuar a sonhar que o desemprego é ser feliz!
Acabei o meu contrato e a infindável telenovela "Tirem-me deste filme!".
Tragédias, comédias, dramas (sim, dramas que eu apanhei tudo, desde colegas a funcionárias, até as senhoras da Secretaria lavadas em lágrimas!). Que cena!
Estranha esta escola em que tudo não corria como era esperado, em que tive de esgravatar pelos meus direitos consagrados em lei, e em que tive de ensinar funcionárias administrativas a lidar com os meandros dos decretos, dos contratos, das contagens de tempo de serviço. Oh, meu Deus! A mim pagam-me para ensinar alunos, não para ensinar pessoas a fazer o trabalho delas.
Mais uma resmunguice, mais um bate-pé de final de contrato e ainda saí de lá com o que queria (mais uma vez - a teimosia faz milagres!).
Deixo para trás uma escola a que me habituei, mas em relação à qual não consigo articular verbos com algum rasgo de afectividade. Fez-se, acabou-se, está despachada!
Como em tudo, há sempre as coisas boas, que mesmo sendo pequeninas não perdem a sua preciosidade. Hoje despedi-me da D. Maria das fotocópias, da D. Carla do bloco B (Quiiiiiinze!!!!, gritava ela à entrada do pavilhão para mandar entrar os alunos para a minha sala - B15). Deixaram-me a lágrima no olho, mas quão estranho, no entanto para mim óbvio, ser eu a desejar-lhes felicidades e um futuro prometedor.
Parece estranho, e para mim continua a ser óbvio, que uma professora que acaba um contrato, sai para o desemprego, não tem perspectivas nenhumas de trabalho, nem sequer uma candidatura pendente, esteja a distribuir por todos os que têm a vida de trabalho assegurada, desejos de boa sorte e felicidades.
Vá-se lá saber, saí de lá com aquele sorriso nos lábios... aquele sorriso estúpido que escarrapachamos na cara cada vez que nos acontece uma coisa boa e não conseguimos disfarçar.
Hoje estou a sorrir e sei que o próximo contrato que está à minha espera pode até ser um verdadeiro inferno, mas hoje estou a sorrir e hoje só me preocupo em tornar esse sorriso sincero.
Apagam-se as luzes, fecha-se a cortina. Faz-se o caminho em direcção a casa pela última vez. Não se guardam saudades de um tempo, de um sítio. Apenas experiências, pessoas e alunos. Vivências pontuais, que eu faço questão de exaltar para não se perderem nos enredos daquela escola.
Hoje estou feliz! Não me canso de o dizer.
Não tenho aulas para preparar, e tenho um sol lindo a especar para mim. As flores desabrocham nas árvores e eu sinto que tudo é um sinal de festejo por este dia.
Amanhã é outro dia, novas obrigações, deveres, horários a cumprir.
Mas hoje... deixem-me continuar a sonhar que o desemprego é ser feliz!
09 fevereiro 2009
Yellow Brick Road ou Revolutionary Road?
Não me falta a mim que dizer.
Não me falta assunto, tema ou histórias para contar.
Tenho tido tempo, mas aquele que me sobra aproveito-o para parar, ou para fazer o jantar.
E como tenho precisado destas linhas para me escrever, para me acertar...
Não se escreve em cinco minutos de tempo livre, nem em 10, nem em meia hora, se a nossa disposição não está para aí virada, se não estou concentrada. Tenho de mergulhar em mim, ver o que sinto, como estou, o que quero, e nem sempre isso é possível, agradável ou pertinente.
Nos últimos dias ando a proibir-me de ter uma depressão sazonal. As gajas são muito atreitas a isso e a compras de compensação. Algo acontece e logo as lágrimas descem pela minha cara como os miudos nos escorregas, felizes, contentes, entusiasmados. E eu triste, desalentada.
...Como se diz isto sem soar mal?...
Vou terminar o contrato na próxima sexta-feira-treze.
Auspicioso, hã? Terminar com tudo num dia de azar só pode mesmo dar sorte, não é verdade?
Nem penso no futuro, nem quero pensar que vou mais uma vez para o Centro de Emprego fazer o pedido de retoma do subsídio, com todos os outros que lá estão por necessidade, conveniência ou simplesmente para mamar na grande teta do Estado. Sinto-me mal por ver mães desempregadas com filhos no colo, homens maduros a quem ninguém dá emprego, pessoas cansadas, demasiado ou o suficiente para terem deixado de tentar ser alguém na vida.
Lá vai o tempo em que me aperaltava para este dia, nos meus saltos altos, na minha roupa no mínimo luxuosa para todo aquele enquadramento, e até na leitura que levava para ocupar o tempo de espera. Na mellhor da hipóteses, era sempre trabalho, qualquer livro com cheiro a filosofia ou metodologias de investigação.
Acabei por perceber que isto era uma afronta. Eu percebi isto, sem saber se "isto" realmente lá está para eu perceber. Não me sentia enquadrada e isso deixava-me desconfortável, mais do que aos outros desempregados que partilhavam a mesma triste sina comigo.
Agora vou ao Centro de Desemprego assim "pró-tronguita". Pelo menos dá para não me sentir uma privilegiada, que acreditem ou não é para mim uma sensação horrível, digna da mais plena auto-comiseração.
O contrato ainda não acabou, tenho a última semana pela frente. Aguentar firme são as palavras de ordem. Esta escola criou em mim muitos desagrados, mas aqui se firma mais um vez a capacidade inata e inaleinável que o ser humano tem de se afeiçoar ao outro. Nem nesta escola, que tanto me contrariava nos primeiros tempos, eu vou conseguir sair como se nada fosse. Arrisco-me a dizer que ninguém consegue.
Já avisei os miúdos que a outra professora vai regressar e como me doeu a carinha deles: "A stora vai deixar de nos dar Área de Projecto, mas EVT não, pois não?" Os alunos não compreendem porque me vou embora e perguntam porque não posso ficar a dar aulas com a outra professora. No fundo, um eu muito infantil que guardo dentro de mim, faz as mesmas perguntas e resmunga da mesma maneira. Mas isto é assim, e mesmo que pense muito, muito, muito, não pode de facto ser de outra forma.
A única coisa que me dói é sentir nos alunos a mesma desorientação que eu sinto e, contra tudo o que me apetece fazer, aguentar firme. Explicar-lhes seremanente, a eles e ao meu esperneante inconsciente, que tudo isto existe, tudo isto é triste, tudo isto é fado.
Foi o destino que me pôs e vai tirar dali. Se me afeiçoei aos putos, pior para mim.
Tenho saudades deles e ainda nem me fui embora...
Da minha boca saem construções frásicas próprias de um moribundo no leito da morte: "Já cá não estarei para ver, mas prometam-me que vão saber de cor os pares de cores complementares, as cores frias e as cores quentes."
Talvez tudo isto chegasse para me pôr deprimida, sem que a falta de sol de há uns meses tivesse alguma culpa nisso, mas este ano não me tenho permitido a esse luxo. Não me tenho permitido ir abaixo. Não me tenho permitido ficar ansiosa ou preocupada e a minha determinação é tal (graças aos valiosos ensinamentos da experiência e da tentativa-erro) que já nem estou a tomar comprimidos. Isto por si só, é uma grande vitória. Mesmo que momentânea, não deixo de a saborear como um prato requintado de iguarias raras.
Há uma serenidade em mim, uma aceitação, que não deve ser confundida com um baixar dos braços. Esta calma que me invade nasce de uma compreensão da vida para além das suas miudezas. Uma visão que transcende o casar e ter filhos, a sala de estar com sala de jantar, ou os pais sentados na mesa dos noivos. No fundo, os rituais e costumes que nos foram ensinados. Atravesso uma fase em que aquilo que eu quero para mim, choca inevitavelmente com aquilo que esperam de mim, e ainda assim, eu continuo a pensar pela minha própria cabeça e a seguir as minhas próprias ideias.
Ontem vi o Revolutionary Road e a moral da história é que quem pensa pela sua própria cabeça acabar a morrer no fim. Argumento desmoralizante mas, no fundo, realista.
A sociedade deposita em nós a fé de seguirmos sempre pelo caminho certo, que mais não é do que o previamente estabelecido. Porque o caminho pré-estabelecido encerra em si tantos desgostos e desilusões, prefiro procurar atalhos, mesmo que nunca mais regresse ao caminho ou venha a encontrar o meu destino.
Não me apoquento em procurar o destino.
Na próxima sexta-feira, 13, tenho um encontro marcado com ele.
P.S. - Um beijinho para a Maria que faz anos no "meu mês das depressões". Nunca mais me lembrei disto, sem articular um sorriso. :)
Mais um P.S. - Um beijinho para a Susana, a melhor coisa que me aconteceu nesta escola. Foi-me concedido o privilégio de com ela partilhar aulas, conversas, cusquices, risotas, compras e almoços. Tudo isto guardo comigo como um bem inestimável. E Susana: eu adoro aquela máquina de secar as mãos, mas tu foste de longe o verdadeiro ex-libris daquela escola!! :)
Não me falta assunto, tema ou histórias para contar.
Tenho tido tempo, mas aquele que me sobra aproveito-o para parar, ou para fazer o jantar.
E como tenho precisado destas linhas para me escrever, para me acertar...
Não se escreve em cinco minutos de tempo livre, nem em 10, nem em meia hora, se a nossa disposição não está para aí virada, se não estou concentrada. Tenho de mergulhar em mim, ver o que sinto, como estou, o que quero, e nem sempre isso é possível, agradável ou pertinente.
Nos últimos dias ando a proibir-me de ter uma depressão sazonal. As gajas são muito atreitas a isso e a compras de compensação. Algo acontece e logo as lágrimas descem pela minha cara como os miudos nos escorregas, felizes, contentes, entusiasmados. E eu triste, desalentada.
...Como se diz isto sem soar mal?...
Vou terminar o contrato na próxima sexta-feira-treze.
Auspicioso, hã? Terminar com tudo num dia de azar só pode mesmo dar sorte, não é verdade?
Nem penso no futuro, nem quero pensar que vou mais uma vez para o Centro de Emprego fazer o pedido de retoma do subsídio, com todos os outros que lá estão por necessidade, conveniência ou simplesmente para mamar na grande teta do Estado. Sinto-me mal por ver mães desempregadas com filhos no colo, homens maduros a quem ninguém dá emprego, pessoas cansadas, demasiado ou o suficiente para terem deixado de tentar ser alguém na vida.
Lá vai o tempo em que me aperaltava para este dia, nos meus saltos altos, na minha roupa no mínimo luxuosa para todo aquele enquadramento, e até na leitura que levava para ocupar o tempo de espera. Na mellhor da hipóteses, era sempre trabalho, qualquer livro com cheiro a filosofia ou metodologias de investigação.
Acabei por perceber que isto era uma afronta. Eu percebi isto, sem saber se "isto" realmente lá está para eu perceber. Não me sentia enquadrada e isso deixava-me desconfortável, mais do que aos outros desempregados que partilhavam a mesma triste sina comigo.
Agora vou ao Centro de Desemprego assim "pró-tronguita". Pelo menos dá para não me sentir uma privilegiada, que acreditem ou não é para mim uma sensação horrível, digna da mais plena auto-comiseração.
O contrato ainda não acabou, tenho a última semana pela frente. Aguentar firme são as palavras de ordem. Esta escola criou em mim muitos desagrados, mas aqui se firma mais um vez a capacidade inata e inaleinável que o ser humano tem de se afeiçoar ao outro. Nem nesta escola, que tanto me contrariava nos primeiros tempos, eu vou conseguir sair como se nada fosse. Arrisco-me a dizer que ninguém consegue.
Já avisei os miúdos que a outra professora vai regressar e como me doeu a carinha deles: "A stora vai deixar de nos dar Área de Projecto, mas EVT não, pois não?" Os alunos não compreendem porque me vou embora e perguntam porque não posso ficar a dar aulas com a outra professora. No fundo, um eu muito infantil que guardo dentro de mim, faz as mesmas perguntas e resmunga da mesma maneira. Mas isto é assim, e mesmo que pense muito, muito, muito, não pode de facto ser de outra forma.
A única coisa que me dói é sentir nos alunos a mesma desorientação que eu sinto e, contra tudo o que me apetece fazer, aguentar firme. Explicar-lhes seremanente, a eles e ao meu esperneante inconsciente, que tudo isto existe, tudo isto é triste, tudo isto é fado.
Foi o destino que me pôs e vai tirar dali. Se me afeiçoei aos putos, pior para mim.
Tenho saudades deles e ainda nem me fui embora...
Da minha boca saem construções frásicas próprias de um moribundo no leito da morte: "Já cá não estarei para ver, mas prometam-me que vão saber de cor os pares de cores complementares, as cores frias e as cores quentes."
Talvez tudo isto chegasse para me pôr deprimida, sem que a falta de sol de há uns meses tivesse alguma culpa nisso, mas este ano não me tenho permitido a esse luxo. Não me tenho permitido ir abaixo. Não me tenho permitido ficar ansiosa ou preocupada e a minha determinação é tal (graças aos valiosos ensinamentos da experiência e da tentativa-erro) que já nem estou a tomar comprimidos. Isto por si só, é uma grande vitória. Mesmo que momentânea, não deixo de a saborear como um prato requintado de iguarias raras.
Há uma serenidade em mim, uma aceitação, que não deve ser confundida com um baixar dos braços. Esta calma que me invade nasce de uma compreensão da vida para além das suas miudezas. Uma visão que transcende o casar e ter filhos, a sala de estar com sala de jantar, ou os pais sentados na mesa dos noivos. No fundo, os rituais e costumes que nos foram ensinados. Atravesso uma fase em que aquilo que eu quero para mim, choca inevitavelmente com aquilo que esperam de mim, e ainda assim, eu continuo a pensar pela minha própria cabeça e a seguir as minhas próprias ideias.
Ontem vi o Revolutionary Road e a moral da história é que quem pensa pela sua própria cabeça acabar a morrer no fim. Argumento desmoralizante mas, no fundo, realista.
A sociedade deposita em nós a fé de seguirmos sempre pelo caminho certo, que mais não é do que o previamente estabelecido. Porque o caminho pré-estabelecido encerra em si tantos desgostos e desilusões, prefiro procurar atalhos, mesmo que nunca mais regresse ao caminho ou venha a encontrar o meu destino.
Não me apoquento em procurar o destino.
Na próxima sexta-feira, 13, tenho um encontro marcado com ele.
P.S. - Um beijinho para a Maria que faz anos no "meu mês das depressões". Nunca mais me lembrei disto, sem articular um sorriso. :)
Mais um P.S. - Um beijinho para a Susana, a melhor coisa que me aconteceu nesta escola. Foi-me concedido o privilégio de com ela partilhar aulas, conversas, cusquices, risotas, compras e almoços. Tudo isto guardo comigo como um bem inestimável. E Susana: eu adoro aquela máquina de secar as mãos, mas tu foste de longe o verdadeiro ex-libris daquela escola!! :)