Talvez seja por estar à espera do próximo contrato, talvez seja por não ter meninos que me dêem cabo da cabeça, ou talvez eu seja mesmo assim.
Não tenho paciência. Ponto.
Afirmação verdadeira que nem precisa de complementos.
Mas ainda tenho menos paciência para ouvir pessoas a falarem daquilo que não sabem, sobretudo se forem coisas sobre as quais eu infelizmente sei mais, e ainda assim teimarem em me fazer de estúpida!
Eu, Ana Sofia, assumo aqui solenemente que odeio que me façam de estúpida.
"Releeeeva!" - digo de mim para mim. Mas eu não sei relevar. Não tenho por que me fazer de estúpida, se não sou.
E no entanto é o que eu faço a maioria das vezes.
Rebaixo-me, falo de mim sem escrúpulos, nem piedade. Refiro-me a este período da minha vida como desemprego e sempre com orgulho. Não me faço parecer mais do que eu sou. Mostro apenas todos os meus podres sem excepção. Sou assim. E ser assim é ser matéria-prima de qualidade para pessoas que se querem armar em boas, ou no mínimo, melhores do que são.
Eu aceito muito bem todas as pessoas com vidas, oportunidades, trabalhos, casas, guarda-roupa, famílias e cultura geral invejáveis. Cobiço-lhes os dons, mas gosto de aprender com elas. Há pessoas pelas quais sinto uma genuína admiração, porque essas pessoas são mesmo aquilo que parecem.
Há outras que se ficam só pelas aparências. E para essas eu não tenho paciência. Especialmente quando a aparência envolve fazerem dos outros estúpidos.
Isto acontece-me frequentemente por uma simples razão. No que diz respeito às minhas falhas, insucessos, ou defeitos, eu não sei o que é um eufemismo. Sei no entanto, o que é uma hipérbole...
Enfatizo o que há de pior em mim, e depois aparecem-me cromos a darem-me rodas de parva.
Meus amigos, não é bem assim...
E depois lá está. Aquilo que eu aturo, aturo, aturo, aturo, um dia explode. Nem sempre com a pessoa certa, nem sempre na altura certa. Mas falta-me a paciência para continuar a representar o papel de parva na encenação dos outros.
Acabou.
A partir de hoje não estou desempregada. Estou em período de interregno entre contratos. E que diferença faz dizer as coisas com outras palavras. As pessoas olham para nós logo com outro respeito.
Aprendi pela vida fora que o respeito conquista-se. E apenas por aqueles que se dão ao respeito.
Eu não me dou ao respeito.
Enxovalho-me aos olhos dos outros, como o faço comigo no escuro da noite.
Esbodego todos os meus podres, sem lamentos, nem pudores.
...
Não posso esperar que sejam os outros a refrear as suas atitudes, por muito reprováveis que sejam. Eu incito-os a isso.
Sou assim, mas tenho de mudar, porque mais do que me sentir magoada pela desconsideração dos outros, eu sinto-me magoada com a minha própria desconsideração por mim.
Essa sim, é a raiz de tudo.
Baixo a cabeça, inspiro fundo e (como o odeio!) assumo que errei.
Na minha cabeça era sempre preferível que as pessoas não se auto-promovessem em pseudo-intelectuais. Mas eles existem e andam aí...
Por isso Ana Sofia, faz um favor a ti própria, e pára de te fazeres de estúpida, porque para isso estão lá os outros!
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