09 fevereiro 2009

Yellow Brick Road ou Revolutionary Road?

Não me falta a mim que dizer.
Não me falta assunto, tema ou histórias para contar.
Tenho tido tempo, mas aquele que me sobra aproveito-o para parar, ou para fazer o jantar.
E como tenho precisado destas linhas para me escrever, para me acertar...


Não se escreve em cinco minutos de tempo livre, nem em 10, nem em meia hora, se a nossa disposição não está para aí virada, se não estou concentrada. Tenho de mergulhar em mim, ver o que sinto, como estou, o que quero, e nem sempre isso é possível, agradável ou pertinente.

Nos últimos dias ando a proibir-me de ter uma depressão sazonal. As gajas são muito atreitas a isso e a compras de compensação. Algo acontece e logo as lágrimas descem pela minha cara como os miudos nos escorregas, felizes, contentes, entusiasmados. E eu triste, desalentada.

...Como se diz isto sem soar mal?...
Vou terminar o contrato na próxima sexta-feira-treze.

Auspicioso, hã? Terminar com tudo num dia de azar só pode mesmo dar sorte, não é verdade?
Nem penso no futuro, nem quero pensar que vou mais uma vez para o Centro de Emprego fazer o pedido de retoma do subsídio, com todos os outros que lá estão por necessidade, conveniência ou simplesmente para mamar na grande teta do Estado. Sinto-me mal por ver mães desempregadas com filhos no colo, homens maduros a quem ninguém dá emprego, pessoas cansadas, demasiado ou o suficiente para terem deixado de tentar ser alguém na vida.
Lá vai o tempo em que me aperaltava para este dia, nos meus saltos altos, na minha roupa no mínimo luxuosa para todo aquele enquadramento, e até na leitura que levava para ocupar o tempo de espera. Na mellhor da hipóteses, era sempre trabalho, qualquer livro com cheiro a filosofia ou metodologias de investigação.
Acabei por perceber que isto era uma afronta. Eu percebi isto, sem saber se "isto" realmente lá está para eu perceber. Não me sentia enquadrada e isso deixava-me desconfortável, mais do que aos outros desempregados que partilhavam a mesma triste sina comigo.

Agora vou ao Centro de Desemprego assim "pró-tronguita". Pelo menos dá para não me sentir uma privilegiada, que acreditem ou não é para mim uma sensação horrível, digna da mais plena auto-comiseração.

O contrato ainda não acabou, tenho a última semana pela frente. Aguentar firme são as palavras de ordem. Esta escola criou em mim muitos desagrados, mas aqui se firma mais um vez a capacidade inata e inaleinável que o ser humano tem de se afeiçoar ao outro. Nem nesta escola, que tanto me contrariava nos primeiros tempos, eu vou conseguir sair como se nada fosse. Arrisco-me a dizer que ninguém consegue.
Já avisei os miúdos que a outra professora vai regressar e como me doeu a carinha deles: "A stora vai deixar de nos dar Área de Projecto, mas EVT não, pois não?" Os alunos não compreendem porque me vou embora e perguntam porque não posso ficar a dar aulas com a outra professora. No fundo, um eu muito infantil que guardo dentro de mim, faz as mesmas perguntas e resmunga da mesma maneira. Mas isto é assim, e mesmo que pense muito, muito, muito, não pode de facto ser de outra forma.

A única coisa que me dói é sentir nos alunos a mesma desorientação que eu sinto e, contra tudo o que me apetece fazer, aguentar firme. Explicar-lhes seremanente, a eles e ao meu esperneante inconsciente, que tudo isto existe, tudo isto é triste, tudo isto é fado.

Foi o destino que me pôs e vai tirar dali. Se me afeiçoei aos putos, pior para mim.
Tenho saudades deles e ainda nem me fui embora...
Da minha boca saem construções frásicas próprias de um moribundo no leito da morte: "Já cá não estarei para ver, mas prometam-me que vão saber de cor os pares de cores complementares, as cores frias e as cores quentes."

Talvez tudo isto chegasse para me pôr deprimida, sem que a falta de sol de há uns meses tivesse alguma culpa nisso, mas este ano não me tenho permitido a esse luxo. Não me tenho permitido ir abaixo. Não me tenho permitido ficar ansiosa ou preocupada e a minha determinação é tal (graças aos valiosos ensinamentos da experiência e da tentativa-erro) que já nem estou a tomar comprimidos. Isto por si só, é uma grande vitória. Mesmo que momentânea, não deixo de a saborear como um prato requintado de iguarias raras.

Há uma serenidade em mim, uma aceitação, que não deve ser confundida com um baixar dos braços. Esta calma que me invade nasce de uma compreensão da vida para além das suas miudezas. Uma visão que transcende o casar e ter filhos, a sala de estar com sala de jantar, ou os pais sentados na mesa dos noivos. No fundo, os rituais e costumes que nos foram ensinados. Atravesso uma fase em que aquilo que eu quero para mim, choca inevitavelmente com aquilo que esperam de mim, e ainda assim, eu continuo a pensar pela minha própria cabeça e a seguir as minhas próprias ideias.

Ontem vi o Revolutionary Road e a moral da história é que quem pensa pela sua própria cabeça acabar a morrer no fim. Argumento desmoralizante mas, no fundo, realista.
A sociedade deposita em nós a fé de seguirmos sempre pelo caminho certo, que mais não é do que o previamente estabelecido. Porque o caminho pré-estabelecido encerra em si tantos desgostos e desilusões, prefiro procurar atalhos, mesmo que nunca mais regresse ao caminho ou venha a encontrar o meu destino.

Não me apoquento em procurar o destino.
Na próxima sexta-feira, 13, tenho um encontro marcado com ele.

P.S. - Um beijinho para a Maria que faz anos no "meu mês das depressões". Nunca mais me lembrei disto, sem articular um sorriso. :)

Mais um P.S. - Um beijinho para a Susana, a melhor coisa que me aconteceu nesta escola. Foi-me concedido o privilégio de com ela partilhar aulas, conversas, cusquices, risotas, compras e almoços. Tudo isto guardo comigo como um bem inestimável. E Susana: eu adoro aquela máquina de secar as mãos, mas tu foste de longe o verdadeiro ex-libris daquela escola!! :)

2 comentários:

Le_M_do_Fit disse...

Preciso de sol...

Susana Barreto disse...

sim amiga a máquina aquecia-nos as manitas, mas tu aqueceste o meu coração (não me interpretem mal, lolll) mas fizemos uma boa parceria, correu tudo mt bem! sinto muita falta da nossa turminha...Isto de andar cá e lá já me cansa e desmotiva :(
Desejo-te ,muita sorte e que encontres uma escola de jeito!!!
Bejufinhaaa