13 março 2008

Sou fogosa, pois sou!

O professor olhava curioso para mim. Era um colega, mas os cabelos brancos inibem-me de o tratar em plena igualdade.
"-Tu estás... inflamada, hã?"

Eu ainda estava a rematar o meu raciocínio, visivelmente exaltada, perante outras duas colegas, contratadas como eu. A sala de professores tem sido um autêntico barril de pólvora, mas ontem os contratados foram o rastilho.
Cobaias, ratos de laboratório, contratados, é tudo o mesmo. Desgraçados a quem se vai aplicar uma avaliação para ser testada, melhorada e só depois aplicada aos outros, aqueles... os professores a sério.
Nós somos os tapa-buracos. E claro que isto me faz querer partir pratos e bater com tábuas na parede!

O professor lá olhava para mim e admirava-se com o meu sangue quente. A sabedoria da idade traz sempre uma certa resignação. Não, não é bem resignação, é serenidade.
Ele não aceitava as dificuldades, pelo contrário. Ele contestava, queixava-se, mas não se incendiava como eu. Creio que a pessoa aprende com o tempo a queixar-se sem sentir a mais pálida vontade de querer mudar o que a incomoda.
Continuo a pensar no olhar daquele professor. Aquele olhar condescendente de quem olha para uma jovem que se incomoda com o que está errado e que tudo pensa poder mudar, para o que basta querer.

Sou fogosa, pois sou! De espírito! Estou sempre de chama acesa, à espera de uma ventania, com o balde de gasolina na mão.
Há alturas em que é mesmo para largar fogo e gastar o combustível todo, até ficar rouca e vermelha como um tomate. E depois acalmo, quietinha como as cinzas.
Gosto de me incendiar por dentro, de carbonizar toda a minha raiva.
Sou assim, e pior que tudo, não faço questão nenhuma de mudar.

No Verão passado, em Amesterdão, enquanto procurava lugar num autocarro, dei sem querer um encontrão numa senhora que estava sentada. Desfiz-me em desculpas e lá do fundo vejo um homem olhar para mim a dizer:
"Italiaána véra!"

Acabei por esclarecer ao italiano intrometido que eu era portuguesa, ao que o homem reagiu sorridente com um:
"Portuguésa? Batatas fritas!"

Moral da História: Quando se é uma portuguesa inflamada como eu, o mais certo é acabar com o juízo todo fritadinho!

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