Bom.
Tentei abafar a minha indignação, para não elevar os valores da ansiedade. Dizia para comigo: "não te rales, que em última instância quem se lixa és tu, mais a tua camada de nervos."
E aguentei o Primeiro-Ministro a desviar astutamente a argumentação para longe do foco das minhas críticas, aguentei todo o botox da Ministra, aguentei com o interesse dos pais nesta avaliação, porque quem vai lucrar nisto tudo são os seus educandos.
Aguentei com tudo e chego perto daquele ponto em que se tem vergonha de ser português e participar na vida de um país que é governado por pessoas que querem ascender à condição superior de Salvadores da Pátria, a qualquer preço.
Cheguei àquele ponto em que começo a pensar: Alemanha? França? Ou Espanha?
Em que equaciono a conjugação da minha vida com a do André, para irmos para um sítio diferente, melhor, e em que as coisas funcionam pela razão certa e não por interesses corporativos ou individuais.
Estou desgostada com tudo à minha volta, e só me apetece berrar até à histeria! Mas a calma é um poderoso revigorante. A justiça cósmica, como lhe costumo chamar, assegura-me que tudo se paga, e que a má fé é sempre julgada com mão pesada.
Verei, por isso, num futuro, breve ou longínquo (também não interessa), as repercussões que esta avaliação irá ter no sistema educativo português.
Uma cambada de analfabetos que se arrastam de ano em ano até ao doutoramento.
Os pais sabem-no bem, mas preferem que os filhos passem sem problemas e com boas notas para entrar em medicina, ou coisa que o valha. Olham para o seu umbigo, porque entram nas guerrinhas competitivas do estilo: "o meu filho foi o melhor da turma, passou sem uma única negativa."
Hoje em dia sei, e todos deviam ter essa clara consciência, de que isto não significa exactamente que o aluno detenha em si os saberes necessários, que tenha desenvolvido em pleno as suas capacidades e competências, que tenha conseguido ser uma pessoa melhor, mais justa, mais solidária, mais correcta em todos os aspectos da sua vida. Este é apenas um dos cenários, o melhor, e o que a Ministra mais se agarra para justificar a subida do sucesso escolar, e a descida do abandono. Não duvido que ele acontece, e que não é propriamente uma raridade. O que a ministra não se pode coibir é de aceitar que há outros cenários arrepiantes que podem justificar as estatísticas, e infelizmente, também não são raridades. A ingenuidade das estruturas governativas, não pode nem deve ser confundida com optimismo, porque eles, mais do que ninguém, sabem o que vai acontecer. E pior, estou em crer que formularam esta lei com o propósito de tirar partido exactamente daquilo que eles se recusam a aceitar: de que quando um humano é posto à prova em último grau, ele não se põe a pensar no bem da humanidade. Ele apenas procura sobreviver.
E na lei da Selva, vence sempre o mais forte, o que para quem ainda não percebeu, não é na maior parte das vezes o melhor, mas o que tem menos escrúpulos.
Dói-me a falta de seriedade com que sou governada, dói-me o autoritarismo a que, até na vida pessoal, sempre fui aversa. Dói-me a ignorância e a impunidade, que é o que de pior podemos dar aos alunos como exemplo.
Não tenho filhos, mas a tê-los preferia que fossem bem preparados do que tivessem boas notas. Que soubessem desenrascar-se e arranjar soluções para tudo, em vez de culpabilizarem os professores por tudo e por nada. Não me venham com tretas, porque eu também já fui aluna, ou pensam que andam a enganar quem?
Preferia que as minhas crianças soubessem que o sucesso é a única coisa que não lhes deve ser garantida no sistema educativo, porque depende exclusivamente deles.
Nenhum mau aluno com óptimos professores pode ser bom aluno se não se empenhar, se não estudar, se não estiver motivado.
Qualquer aluno que tiver estas três condições conseguirá sempre singrar tenha bons ou maus professores. Será mais difícil, não nego, mas no final o sucesso será mais saboroso.
Estou danada com tudo e por tudo isto.
Estou danada com a atitude de "ser mais papista que o Papa" por parte das escolas e com atitude de "chico-espertice" à portuguesa.
Lamento dizê-lo, e isto vai muito mais além do que as guerrilhas partidárias: temos o que merecemos. Fosse qual fosse a cor no poder, as coisas não iam mudar. O que me revolta é que o próprio sistema esteja a engendrar a sua própria sobrevivência. Vamos todos produzir mentes pobres e acríticas para que tudo se mantenha.
Assim, quando for feita uma estatística aos portugueses para dizerem de sua justiça o que melhorou com actuações governativas deste tipo, a maior parte (Estão a ver bem?? A maior parte!!!!!! Oh, que raiva!) diga que foram as Finanças Públicas e a Educação.
Se eu comesse dia sim dia não, e não gastasse nem luz, nem água, nem gás, as minhas finanças também melhoravam. Mas o desafio não está só em melhorá-las: está na "engenharia" (veja-se como o homem é incompetente até no seu próprio terreno) de conseguir cortar naquilo que não é essencial ou vital. Toda a gente está feliz desde que não cortem no que as atinge.
Toda a gente está feliz com a educação. Toda a gente passa e isso só os atinge de uma forma: positiva, ou pelo menos é o mito mais consensual.
Há pessoas a pensar assim e ainda acham que a Educação vai bem??
Poupem-me!
1 comentário:
Que prazer ler e rever-me no que dizes.
Quanto à emigração, aconselho-ta vivamente, enquanto não tiveres coisas que te prendam a este país.
Atenção ao currículo da Ministra: http://www.portugal.gov.pt/Portal/PT/Governos/Governos_Constitucionais/GC17/Composicao/Perfil/MariaLurdesRodrigues.htm.
Se reparares, é uma senhora socióloga sem qualquer artigo sobre a educação; além disso, é, na minha opinião, uma socióloga sem grandes horizontes, atendendo a que atribui o problema da educação a um só factor sem considerar a conjuntura sociológica onde a educação se contextualiza inexoravelmente.
Luís
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