Coisa de gaja, claro.
A Neura de Natal, dá-se cerca de dois, três dias antes do Natal, quando a hormona natalícia entra em queda. Não sei se será do açúcar, mas a pessoa perde todo o brilho e entusiasmo que a caracterizou nos últimos dois meses (sim, dois!) e começa a ficar rabujenta, a resmungar contra tudo e contra todos.
- É porque está um frio dos diabos e temos de distribuir prendas;
- É porque queremos ver um filme agarradinhos à mantinha e temos de ir preparar a ceia;
- É porque o jantar é bacalhau e eu só me apetecia comer um bitoque (de Natal, claro, com carne de rena, por supuesto!! LOL!)
- É porque entramos em ansiedade por ver os presentes ali a olhar para nós;
- É porque entramos em ansiedade por pensar o que vão os outros achar das nossas prendas;
- É porque há muita gente que vive esta época com pouco fervor e até hipocrisia;
- É porque (cruzes, credo!) acabei de descobrir que posso ser uma dessas pessoas - se não fosse hipócrita teria passado o Natal a distribuir sopa quente aos sem-abrigo, e em vez disso, consolei-me no quentinho da minha casa, da dos pais e da dos sogros, com a generosidade proporcionada pelo espírito consumista.
- É porque há prendas que não dizem: "lembra-te de mim" ou "gosto de ti", mas sim "foi o que se arranjou" ou "não estive para me chatear", quando eu preferia muito mais apenas um cartão, ou uma mensagem sentida, que me desejasse saúde e sorte, do fundinho do coração.
A NN, como o André já lhe chama, dá cabo de mim no Natal. Porque é difícil ser boa pessoa, e fazer desta quadra aquilo que ela devia realmente ser. Este ano ainda não consegui. Conforta-me o facto de saber que para o ano haverá outro Natal, outra oportunidade, com mais um quebra-cabeças do "Oferecer o quê a quem?" e tudo o que me stressa e desgosta nesta época.
Mas sei também que vou embrulhar mais prendas com primor e dedicação, que vou comer mais azevias, que vou ver a árvore de Natal a brilhar no escuro, em alternância com a Música no Coração, que sabe sempre bem ver nesta altura.
Tudo voltará, até a minha neura de Natal.
Mas agora, que já se abriram os presentes, que já se deitaram fora os embrulhos que até agora não cabiam no contentor, que toda a magia acabou e nós voltámos a vestir a roupa do dia-a-dia, começa a crescer em mim uma neurazinha do estilo: "Que raio vou vestir no fim-de-ano? Ainda não comprei a lingerie azul e depois vou ter azar o ano inteiro! Que desgraça! E se vai fazer frio? Eu não me aguento e ainda apanho uma pneumonia! E o siso??? Que ideia a minha de andar na pipocada e partir o dente do siso!! Em vésperas de mudar de ano é que vou arrancar o dente? Será que fico menos ajuizada? Uma coisa é certa, entro no ano novo mais leve!! Hehehe!!"
O André ouve-me pacientemente, sem comentar, enquanto eu despejo o meu pensamento em directo. Ele já percebeu que eu não preciso de outro interlocutor para dar seguimento à minha diarreia verbal e deixa-me ir, como uma folha rio abaixo até ficar presa na margem.
Quando páro, diz calmamente:
"-Já acabaste a NN e agora já estás na NR, Neura de Reveillon!"
Ai, ai...
Neura, neura, neura...
Neura até ao Natal...
26 dezembro 2007
24 dezembro 2007
Boas Festas!
Desejo a todos um Natal cheio de saúde, alegria e e prendas, claro!
E que este desejo se realize em todos os dias do ano 2008!
E já agora, não se esqueçam de serem boas pessoas. O mundo está a precisar...
E de pouparem água e os outros recursos. A natureza agradece...
E de terem muitos filhos. O Sócrates ia adorar... (!!)
Um beijinho grande e um abraço para todos.
Sofia Ré
20 novembro 2007
Filhos: ter ou não ter, eis a questão.
"29 anos? Já está em boa idade para ter filhos!"
Os putos bombardeiam-me com esta treta e não são os únicos. A mãe e a sogra também já andam desesperadas. Há umas semanas atrás tive uma gastrenterite e, consequentemente, uma onda de má disposição. A sentença da minha mãe foi logo: será que estás grávida?
Não, não estou grávida. Não gosto de pensar nisso, porque se um dia quiser estar, e não puder, vou ficar de rastos. Assim, se viver bem comigo sem filhos, eles nunca me farão falta.
...
Filhos fazem sempre falta. É a lei natural das coisas. Se eu quiser ser suficientemente egoísta e dedicar todo o dinheiro que ganho a viagens ao estrangeiro em vez de o torrar em fraldas, carrinhos de bebé, cueiros, toalhitas Dodot, cremes anti-estrias da mustela, champôs com cheirinho a bebé, chupetas... Ou ainda melhor: se quiser ser suficientemente egoísta para não desgraçar o corpinho que tenho estado a afinar, manter sempre o peito acima do nível do umbigo e não ficar com (ainda) mais estrias, estarei a romper com a ordem antropológica e social das coisas.
Vejamos: o meu egoísmo teria imensos benefícios nesta idade, especialmente na década dos trinta que eu passei a considerar como o expoente máximo da vida de uma pessoa, pois é a loucura dos vinte, financeiramente sustentável. Porém, quando envelhecesse, quem me restaria? Quem me faria o jantar de Natal? Quem me trocaria a fralda? Quem me cortava o bife em pedacinhos pequeninos? Quem cuidaria de mim?
O egoísmo paga-se. E todos estão mais ou menos obrigados a ter filhos perante esta premissa, para que haja quem os substitua e quem seja mais tarde responsável por eles.
Socialmente, a obrigatoriedade é a mesma: Se eu não tiver filhos quem vai pagar a minha reforma? Porque aqui a questão não está em eu não ter filhos, mas na pressão que a sociedade nos coloca para o fazer. Porque é socialmente aceitável e esperado, para o bem de todos. Para que a pirâmide demográfica assente sobre uma sólida base de bebés que paguem a reforma a todos os trabalhadores da Função Pública que por sorte / azar ainda não morreram. O Cavaco é que a sabia bem: "é esperar que morram"! Sim, porque se estão à espera de que eu tenha filhos... LOL!
Isto é o dilema da pressão exterior. Mas admitindo que a pessoa se deixava levar por isso, vem o dilema interior.
Olhamos em volta e as criancinhas desanimam-nos. Raros são os exemplos de educação que fogem ao estereótipo de putos mimados, birrentos, consumistas e manipuladores. Gostaria de pensar que se eu tivesse filhos os saberia educar. Mas quando eles têm colegas na escola que posso eu fazer?
Não lhe dou uma Playstation e depois é o único desgraçado que não a tem. Não lhe compro roupa de marca e é o único que não sabe (como eu) o que é ter um par de calças Lévi's - acho que isto ainda consegue ser mais raro do que nunca ter posto um cigarro aceso na boca!!
O puto vai ser um desgraçado pela vida fora, vai ser gozado na escola e claro que não vão faltar as rasteiras no intervalo.
Além do mais cria-se um recalcamento, como aquele que a minha mãe originou em mim por nunca me querer comprar uma Barbie. Fiquei profundamente sentida com isso, porque era a única da turma que não tinha o raio da boneca. E lembro-me ainda hoje de ter pedido pelo Natal a Barbie e a sua piscina, que vinha enquadrada numa lindíssima pérgula cor de rosa, e a minha mãe tirou-me logo daí a ideia: "Essa boneca é muito feia e escanzelada!" LOL! Como ela estava certa.
Ela ficou com a razão, eu com o recalcamento, e aos dezasseis anos comprei uma Barbie com o meu dinheiro, com a desculpa de lhe querer fazer vestidos (andava numa onda de querer ser estilista, note-se!). E assim se faz uma psicoterapia relâmpago que me custou cerca de 1 conto e seiscentos! Ou seria 3 contos (16 euros)... Não sei. Estou curada, é o que interessa.
Está provado que as criancinhas não devem ser privadas de todas as suas parvoeiras (excepto drogas, claro!). Porém, se isso acontecer (as parvoeiras, não as drogas!), elas também não morrem, mas vão atirar-nos isso à cara até ao último dos nossos dias. É o que eu tenho feito à minha mãe e tem-me sabido sempre bem!
Depois há a questão dos valores e da moral. Como raio se incutem estas coisas nos putos de hoje? Como se explica a um puto uma coisa que eu levei vinte anos a perceber? Como garantimos que o seu amor-próprio é forte e lhe dá toda a segurança do mundo para não viver fases de ansiedade como a mãe? Como explicamos ao puto, que a pessoa de que nunca ouvimos falar é mais importante e valiosa que todas as que surgem nas revistas cor-de-rosa, apenas porque se dedica a fazer o que está certo. Como ensino o puto a pensar pela sua consciência sem o tornar num insubordinado (esta eu ainda ando a aprender...)? Como explicamos que fazer o que está certo, normalmente não dá recompensa nenhuma? Que fazer o que está certo, já é a recompensa, mesmo quando isso nos custa os olhos da cara, os nossos sentimentos, e as nossas ambições? Como explicamos que pessoas sem valor nenhum apareçam na televisão com um estatuto de estrela apenas porque foram as escolhidas de um casting? Como se explica isto a um puto? Como lhe explicamos que o caminho não é por aí? Que é mais importante sermos sinceros connosco próprios do que sermos famosos? Que o sucesso se mede naquilo que fazemos bem e não naquilo que nos aplaudem?
Como se explicam coisas destas a um puto?
Sim, porque da sexualidade não é preciso explicar nada: eles aprendem tudo na escola!!
Ontem estava a ver a MTV e dei de caras com um programa no mínimo caricato. Perturba-me que existam pessoas realmente assim, mas eu vejo aquilo como se fosse um programa de Wrestling: é tudo a fingir, ninguém é assim tão parvo.
Estão 5 gajas num autocarro e um gajo cá fora na esperança de escolher uma. Vem uma das gajas que, recordando que a primeira imagem é a mais importante, decide dizer olá e tirar as cuecas vermelhas e entregá-las ao gajo. Felizmente o gajo dispensou-a na hora, mas eu pergunto: como se evita que as nossas filhas sejam umas destrambelhadas do juízo???? Eu acho que não lhe dava jantar durante uma semana e obrigava-a a comprar as suas próprias cuecas para o resto da vida: se anda aí a dá-las é porque tem possibilidades para isso!!
Ter filhos não é o mesmo que ter cães: damos banho aos filhos mais do que uma vez por ano. No entanto, é um bom treino para aprendermos a estabelecer limites. Temos de ser firmes, não podemos voltar atrás, não podemos deixar passar em branco, temos de ser bem explícitos quanto às regras e não admitir qualquer tipo de desrespeito ou violência na nossa direcção. Consegui educar um serra da estrela que é o cão mais doce deste mundo e uma cadela que é a mais ciumenta deste mundo. Olho para eles e vejo dois cães felizes que (e isto é o mais importante!) sabem o quanto eu gosto deles, sempre! E embora a minha Sissi no cio, salte para cima do Fredy para lhe explicar como é, até hoje nunca a vi entregar cuecas a ninguém no primeiro encontro!
Acho que ninguém devia ter filhos senão souber educar um cão, mas se assim fosse eu hoje não estava aqui. Os meus pais são do mais permissivo e tolerante com os bichos. Já estou a vê-los de avós... vão fazer tudo o que os netos quiserem...
Isto para dizer que ficar grávida é muito mais do que obter um positivo num teste. É engravidar de uma torrente de problemas, preocupações, falta de tempo, falta de dinheiro, mas também de sorrisos, de gargalhadas, de infinitos "oh mãe, anda cá!", de orgulho, de sucessos, e fracassos que se tornam em sucessos.
No meio disto tudo, abortam-se as viagens e a vida profissional fica consideravelmente condicionada. A sociedade e a tradição ensinam-nos que vale a pena.
Eu acho que não. Ter filhos é uma tremenda responsabilidade que não pode ser assumida só porque se quer sustentar a Segurança Social, ou fazer a vontade aos sogros e aos pais. Sim, porque a minha vontade agora ainda é viajar!
Temos de saber a profundidade do poço em que nos metemos, porque ter filhos é um projecto non stop. Não podemos dizer: "Já não brinco mais!", porque vamos andar a brincar aos pais e às mães a sério, até ao fim dos nossos dias!
Eu sempre fui mais de brincar às médicas, mas verdade seja dita: quando era a minha vez de ser doente, fingia sempre que estava grávida (!!!).
Os putos bombardeiam-me com esta treta e não são os únicos. A mãe e a sogra também já andam desesperadas. Há umas semanas atrás tive uma gastrenterite e, consequentemente, uma onda de má disposição. A sentença da minha mãe foi logo: será que estás grávida?
Não, não estou grávida. Não gosto de pensar nisso, porque se um dia quiser estar, e não puder, vou ficar de rastos. Assim, se viver bem comigo sem filhos, eles nunca me farão falta.
...
Filhos fazem sempre falta. É a lei natural das coisas. Se eu quiser ser suficientemente egoísta e dedicar todo o dinheiro que ganho a viagens ao estrangeiro em vez de o torrar em fraldas, carrinhos de bebé, cueiros, toalhitas Dodot, cremes anti-estrias da mustela, champôs com cheirinho a bebé, chupetas... Ou ainda melhor: se quiser ser suficientemente egoísta para não desgraçar o corpinho que tenho estado a afinar, manter sempre o peito acima do nível do umbigo e não ficar com (ainda) mais estrias, estarei a romper com a ordem antropológica e social das coisas.
Vejamos: o meu egoísmo teria imensos benefícios nesta idade, especialmente na década dos trinta que eu passei a considerar como o expoente máximo da vida de uma pessoa, pois é a loucura dos vinte, financeiramente sustentável. Porém, quando envelhecesse, quem me restaria? Quem me faria o jantar de Natal? Quem me trocaria a fralda? Quem me cortava o bife em pedacinhos pequeninos? Quem cuidaria de mim?
O egoísmo paga-se. E todos estão mais ou menos obrigados a ter filhos perante esta premissa, para que haja quem os substitua e quem seja mais tarde responsável por eles.
Socialmente, a obrigatoriedade é a mesma: Se eu não tiver filhos quem vai pagar a minha reforma? Porque aqui a questão não está em eu não ter filhos, mas na pressão que a sociedade nos coloca para o fazer. Porque é socialmente aceitável e esperado, para o bem de todos. Para que a pirâmide demográfica assente sobre uma sólida base de bebés que paguem a reforma a todos os trabalhadores da Função Pública que por sorte / azar ainda não morreram. O Cavaco é que a sabia bem: "é esperar que morram"! Sim, porque se estão à espera de que eu tenha filhos... LOL!
Isto é o dilema da pressão exterior. Mas admitindo que a pessoa se deixava levar por isso, vem o dilema interior.
Olhamos em volta e as criancinhas desanimam-nos. Raros são os exemplos de educação que fogem ao estereótipo de putos mimados, birrentos, consumistas e manipuladores. Gostaria de pensar que se eu tivesse filhos os saberia educar. Mas quando eles têm colegas na escola que posso eu fazer?
Não lhe dou uma Playstation e depois é o único desgraçado que não a tem. Não lhe compro roupa de marca e é o único que não sabe (como eu) o que é ter um par de calças Lévi's - acho que isto ainda consegue ser mais raro do que nunca ter posto um cigarro aceso na boca!!
O puto vai ser um desgraçado pela vida fora, vai ser gozado na escola e claro que não vão faltar as rasteiras no intervalo.
Além do mais cria-se um recalcamento, como aquele que a minha mãe originou em mim por nunca me querer comprar uma Barbie. Fiquei profundamente sentida com isso, porque era a única da turma que não tinha o raio da boneca. E lembro-me ainda hoje de ter pedido pelo Natal a Barbie e a sua piscina, que vinha enquadrada numa lindíssima pérgula cor de rosa, e a minha mãe tirou-me logo daí a ideia: "Essa boneca é muito feia e escanzelada!" LOL! Como ela estava certa.
Ela ficou com a razão, eu com o recalcamento, e aos dezasseis anos comprei uma Barbie com o meu dinheiro, com a desculpa de lhe querer fazer vestidos (andava numa onda de querer ser estilista, note-se!). E assim se faz uma psicoterapia relâmpago que me custou cerca de 1 conto e seiscentos! Ou seria 3 contos (16 euros)... Não sei. Estou curada, é o que interessa.
Está provado que as criancinhas não devem ser privadas de todas as suas parvoeiras (excepto drogas, claro!). Porém, se isso acontecer (as parvoeiras, não as drogas!), elas também não morrem, mas vão atirar-nos isso à cara até ao último dos nossos dias. É o que eu tenho feito à minha mãe e tem-me sabido sempre bem!
Depois há a questão dos valores e da moral. Como raio se incutem estas coisas nos putos de hoje? Como se explica a um puto uma coisa que eu levei vinte anos a perceber? Como garantimos que o seu amor-próprio é forte e lhe dá toda a segurança do mundo para não viver fases de ansiedade como a mãe? Como explicamos ao puto, que a pessoa de que nunca ouvimos falar é mais importante e valiosa que todas as que surgem nas revistas cor-de-rosa, apenas porque se dedica a fazer o que está certo. Como ensino o puto a pensar pela sua consciência sem o tornar num insubordinado (esta eu ainda ando a aprender...)? Como explicamos que fazer o que está certo, normalmente não dá recompensa nenhuma? Que fazer o que está certo, já é a recompensa, mesmo quando isso nos custa os olhos da cara, os nossos sentimentos, e as nossas ambições? Como explicamos que pessoas sem valor nenhum apareçam na televisão com um estatuto de estrela apenas porque foram as escolhidas de um casting? Como se explica isto a um puto? Como lhe explicamos que o caminho não é por aí? Que é mais importante sermos sinceros connosco próprios do que sermos famosos? Que o sucesso se mede naquilo que fazemos bem e não naquilo que nos aplaudem?
Como se explicam coisas destas a um puto?
Sim, porque da sexualidade não é preciso explicar nada: eles aprendem tudo na escola!!
Ontem estava a ver a MTV e dei de caras com um programa no mínimo caricato. Perturba-me que existam pessoas realmente assim, mas eu vejo aquilo como se fosse um programa de Wrestling: é tudo a fingir, ninguém é assim tão parvo.
Estão 5 gajas num autocarro e um gajo cá fora na esperança de escolher uma. Vem uma das gajas que, recordando que a primeira imagem é a mais importante, decide dizer olá e tirar as cuecas vermelhas e entregá-las ao gajo. Felizmente o gajo dispensou-a na hora, mas eu pergunto: como se evita que as nossas filhas sejam umas destrambelhadas do juízo???? Eu acho que não lhe dava jantar durante uma semana e obrigava-a a comprar as suas próprias cuecas para o resto da vida: se anda aí a dá-las é porque tem possibilidades para isso!!
Ter filhos não é o mesmo que ter cães: damos banho aos filhos mais do que uma vez por ano. No entanto, é um bom treino para aprendermos a estabelecer limites. Temos de ser firmes, não podemos voltar atrás, não podemos deixar passar em branco, temos de ser bem explícitos quanto às regras e não admitir qualquer tipo de desrespeito ou violência na nossa direcção. Consegui educar um serra da estrela que é o cão mais doce deste mundo e uma cadela que é a mais ciumenta deste mundo. Olho para eles e vejo dois cães felizes que (e isto é o mais importante!) sabem o quanto eu gosto deles, sempre! E embora a minha Sissi no cio, salte para cima do Fredy para lhe explicar como é, até hoje nunca a vi entregar cuecas a ninguém no primeiro encontro!
Acho que ninguém devia ter filhos senão souber educar um cão, mas se assim fosse eu hoje não estava aqui. Os meus pais são do mais permissivo e tolerante com os bichos. Já estou a vê-los de avós... vão fazer tudo o que os netos quiserem...
Isto para dizer que ficar grávida é muito mais do que obter um positivo num teste. É engravidar de uma torrente de problemas, preocupações, falta de tempo, falta de dinheiro, mas também de sorrisos, de gargalhadas, de infinitos "oh mãe, anda cá!", de orgulho, de sucessos, e fracassos que se tornam em sucessos.
No meio disto tudo, abortam-se as viagens e a vida profissional fica consideravelmente condicionada. A sociedade e a tradição ensinam-nos que vale a pena.
Eu acho que não. Ter filhos é uma tremenda responsabilidade que não pode ser assumida só porque se quer sustentar a Segurança Social, ou fazer a vontade aos sogros e aos pais. Sim, porque a minha vontade agora ainda é viajar!
Temos de saber a profundidade do poço em que nos metemos, porque ter filhos é um projecto non stop. Não podemos dizer: "Já não brinco mais!", porque vamos andar a brincar aos pais e às mães a sério, até ao fim dos nossos dias!
Eu sempre fui mais de brincar às médicas, mas verdade seja dita: quando era a minha vez de ser doente, fingia sempre que estava grávida (!!!).
17 novembro 2007
As anedotas das minhas "crianças"
As minhas crianças (este ano) vão dos 15 aos 23. Eu chamo-lhes sempre "meus meninos" e eles sabem que são os "meus putos", tenham filhos, borbulhas ou barba rija.
Parto-me a rir com eles e adoro turmas assim: com uma boa dose de bom humor com cheirinho a "wit". Adoro aprender com eles e saber finalmente o que são cacauettes. Se soubesse que isto era francês tinha perguntado à Cláudia, mas como andava a relacionar com "caca", nunca mais lá chegava.
Enfim.
As minhas crianças, as únicas que me aventuro a ter de momento, vêm sempre contar a "última", porque sabem que solto o meu riso ruidoso sempre que oiço estas parvoeiras. São os 10 segundos de fama de cada aluno na aula, que têm o dom de me pôr sempre sorridente e de atrair boas energias para começar a aula - Geometria Descritiva, entenda-se, é preciso captar muiiiiiiiiiiiiiiiita energia!
Aqui ficam algumas das pérolas do meu dia-a-dia no trabalho:
O que faz um hipopótamo em cima de uma tartaruga?
"Hip Hop Tuga!"
Porque é que a manteiga não vai à discoteca?
Para não ser barrada à entrada.
O que diz um tubarão para o outro?
"Tu baralhas-me"
O que diz um Tomate para o outro?
"Tu matas-me"
O que diz uma chita para a outra?
"Tu chitas-me"
Uma impressora a outra?
- Essa folha é tua ou é impressão minha?
E uma porta a outra?
- Importas-te?
Era uma trovoada tão forte, tão forte, tão forte, que em vez de caírem raios, caíam diâmetros!
O que é um paraquedista de etnia cigana?
Um paralelo.
O que diz o café para o Nescafé?
Nescafé n' és nada!
Parto-me a rir com eles e adoro turmas assim: com uma boa dose de bom humor com cheirinho a "wit". Adoro aprender com eles e saber finalmente o que são cacauettes. Se soubesse que isto era francês tinha perguntado à Cláudia, mas como andava a relacionar com "caca", nunca mais lá chegava.
Enfim.
As minhas crianças, as únicas que me aventuro a ter de momento, vêm sempre contar a "última", porque sabem que solto o meu riso ruidoso sempre que oiço estas parvoeiras. São os 10 segundos de fama de cada aluno na aula, que têm o dom de me pôr sempre sorridente e de atrair boas energias para começar a aula - Geometria Descritiva, entenda-se, é preciso captar muiiiiiiiiiiiiiiiita energia!
Aqui ficam algumas das pérolas do meu dia-a-dia no trabalho:
O que faz um hipopótamo em cima de uma tartaruga?
"Hip Hop Tuga!"
Porque é que a manteiga não vai à discoteca?
Para não ser barrada à entrada.
O que diz um tubarão para o outro?
"Tu baralhas-me"
O que diz um Tomate para o outro?
"Tu matas-me"
O que diz uma chita para a outra?
"Tu chitas-me"
Uma impressora a outra?
- Essa folha é tua ou é impressão minha?
E uma porta a outra?
- Importas-te?
Era uma trovoada tão forte, tão forte, tão forte, que em vez de caírem raios, caíam diâmetros!
O que é um paraquedista de etnia cigana?
Um paralelo.
O que diz o café para o Nescafé?
Nescafé n' és nada!
08 novembro 2007
Os gajos não percebem nada!
Estou aqui com 15 minutinhos livres para desabafar um bocadinho, antes de me pôr a caminho do Pilates.
Ser gaja dá trabalho!
Já nem falo das manicures, pedicures, depilações, cabelos, cremes de hidratação e de cosmética, período e afins, sapatos de salto alto que magoam mas que nos fazem mais esbeltas, calças que mostram o rabo quando nos sentamos, porque nos esquecemos de verificar isso nos provadores... enfim. Um sem número de coisas dão a volta à cabeça das gajas, mas aos gajos, nada.
Há dias em que a pessoa anda mesmo murchinha, ou doentinha, e não há vontade para fazer nada. Mas assim que a pessoa se põe boa, logo começa o detector de trabalho a funcionar.
É o pó que já se acumula em camada que hoje faz toda a diferença; são as compras que já enchem a lista, que hoje fazem toda a diferença; são os cabelos no chão, que hoje fazem toda a diferença; são as roupas de inverno que estavam à espera de ser arrumadas, que hoje fazem toda a diferença; os parapeitos da janela, as máquinas de roupa, a organização de gavetas... tudo hoje fazia diferença.
Deu-me para aspirar a casa toda e lavar o chão de seguida, às seis e meia da tarde, quando já é de noite.
Pergunta o gajo:
- O que é que te deu para andares a fazer limpezas a esta hora?
A gaja... pronto. Pode suspirar. Só lhe resta isso, porque ele nunca vai perceber.
(...)
Uma gaja vai a uma loja (que hoje fazia toooooooda a diferença!), experimenta um carradão de roupa e leva, entre outras peças, um casaco. Quando está para pagar, a senhora da caixa informa-a:
- Este casaco baixou hoje o preço.
Sorriem entre elas, de uma forma cúmplice, algo que os gajos interpretam por cortesia.
O preço do casaco baixou 40%.
A gaja vai para casa feliz.
Ser gaja dá trabalho!
Já nem falo das manicures, pedicures, depilações, cabelos, cremes de hidratação e de cosmética, período e afins, sapatos de salto alto que magoam mas que nos fazem mais esbeltas, calças que mostram o rabo quando nos sentamos, porque nos esquecemos de verificar isso nos provadores... enfim. Um sem número de coisas dão a volta à cabeça das gajas, mas aos gajos, nada.
Há dias em que a pessoa anda mesmo murchinha, ou doentinha, e não há vontade para fazer nada. Mas assim que a pessoa se põe boa, logo começa o detector de trabalho a funcionar.
É o pó que já se acumula em camada que hoje faz toda a diferença; são as compras que já enchem a lista, que hoje fazem toda a diferença; são os cabelos no chão, que hoje fazem toda a diferença; são as roupas de inverno que estavam à espera de ser arrumadas, que hoje fazem toda a diferença; os parapeitos da janela, as máquinas de roupa, a organização de gavetas... tudo hoje fazia diferença.
Deu-me para aspirar a casa toda e lavar o chão de seguida, às seis e meia da tarde, quando já é de noite.
Pergunta o gajo:
- O que é que te deu para andares a fazer limpezas a esta hora?
A gaja... pronto. Pode suspirar. Só lhe resta isso, porque ele nunca vai perceber.
(...)
Uma gaja vai a uma loja (que hoje fazia toooooooda a diferença!), experimenta um carradão de roupa e leva, entre outras peças, um casaco. Quando está para pagar, a senhora da caixa informa-a:
- Este casaco baixou hoje o preço.
Sorriem entre elas, de uma forma cúmplice, algo que os gajos interpretam por cortesia.
O preço do casaco baixou 40%.
A gaja vai para casa feliz.
30 outubro 2007
A Madrinha I
Vou a caminho do trabalho a pensar que ser professora é tão complicado como trabalhar na máfia. Há uma organização estabelecida e é difícil ir contra ela. Os miúdos querem os testes dados (literalmente), querem saber de antemão as perguntas que vão sair e ameaçam desistir da escola porque eu lhes complico a vida nesse sentido. Claro que a única coisa que obtenho é exactamente aquilo que o ministério e o órgão de gestão da escola não querem: um insucesso declarado nos testes, e abandono escolar.
Mas então, penso eu, enquanto conduzo o carro em stand by, deverei eu ceder? Ser menos instransigente na divulgação do teste? Deixar cair umas dicas demasiado explícitas? Tudo a bem do sucesso escolar, e da prevenção do abandono? A solução é tentadora quando, para mais, vou ser avaliada pelos resultados dos meus alunos, que eu própria terei de justificar. Todos ficavam felizes: os alunos, que passam; a escola, que os mantém lá; e eu, que sou positivamente avaliada por obter bons resultados. A isto chama-se corresponder às expectativas, porque em Portugal cumprir as regras não é questão, chegar aos objectivos é que é. Quanto aos meios utilizados... isso já é outra conversa.
E a honestidade? - pergunta-me a consciência aflita.
Sim, e a honestidade?
Caramba, uma pessoa que queira viver em paz com a sua consciência, tem de se confrontar com os alunos que querem abandonar a escola, em jeito de chantagem psicológica, o que revela não me conhecerem nem um pouquinho, porque a minha resposta nunca é de compactuar com situações menos claras.
E pior, tenho de ver uma avaliação minha prejudicada pelas classificações de alunos que não querem estudar, e mais ridículo ainda, sendo esta a opção deles, sou eu que a devo justificar.
Quando a ministra diz que quer melhorar os resultados dos alunos, e diminuir o abandono, não especifica se quer manter (ou diria antes introduzir) uma cultura de rigor e exigência. É do estilo: façam-no seja de que maneira for. Tipo máfia.
Vivo trabalhando contra o sistema. Faço aquilo que para mim está certo o que já é em si uma grave demonstração de desobediência. Mas um dia, quando me questionarem, posso dizer que foi por eu achar que estava certo. Prefiro ser penalizada por pensar pela minha cabeça, do que pela dos outros.
Chateia-me solenemente que estas coisas continuem a acontecer e toda a gente esteja mais preocupada com rankings e estatísticas do que com a real desgraça que vai pelas nossas escolas. A cultura do paracer instalou-se e é para ficar.
A atitude dos alunos é sintomática disso. Eles sabem e jogam com a fragilidade da posição dos professores, meros palhaços atribuidores de classificações pré-definidas (mais de 50% de negativas é que não... lá temos nós de fazer o relatório!).
A estatísca em Portugal é uma farsa. Deveria ser um instrumento de diagnóstico, mas ao manipular os resultados que objectivo poderá ter? O da legitimação das políticas, claro.
Nas estatísticas, tudo corre bem, todos os alunos passam, mesmo aqueles que mereciam reprovar. E nós perpetuamos isto, dando razão à "Madrinha", só porque temos muito a perder se decidirmos pensar por nós e agir em conformidade.
Ainda ontem ouvi uma comparação excelente no rádio sobre o rumo que leva o ensino. O poder político, ao longo destes anos tem negligenciado a qualidade do ensino em favor da quantidade, dos números e das estatísticas. Fá-lo porque não se apercebe da gravidade das consequências, porque pensa no ensino com uma ligeireza que faz da Escola uma enorme cadeia de serviços de babysitting.
Imaginemos que estes políticos começavam a legislar sobre as escolas de condução: "queremos é sucesso, queremos que não desistam!"
Inventa-se o programa Novas Oportunidades para todos aquelas a quem a carta já foi apreendida, que têm a oportunidade de voltar à escola de condução para ter outra de novo. Lembram-se do programa Mais de 23, para quem já reprovou mais de 23 vezes no exame de código, e que pode finalmente aceder ao exame de condução.
E toda a gente tinha carta, e toda a gente andava por aí a conduzir.
A comparação parece-me óbvia demais para a Ministra, e todos os outros que antes dela se sentaram nessa cadeira, não verem que os acidentes no Saber não provocam menos danos do que os acidentes na estrada.
Daqui a uns veremos inseridos no mundo profissional uma série de "alunos de domingo", "Alunos do cabulling" qua artilhavam as canetas e estojos com artifícios só para passar à frente dos outros, e uma gigantesca cambada de "aceleras", que em vez de terem parado nos vermelhos do final do ano pisaram sempre a fundo, com o consentimento das autoridades.
Mas então, penso eu, enquanto conduzo o carro em stand by, deverei eu ceder? Ser menos instransigente na divulgação do teste? Deixar cair umas dicas demasiado explícitas? Tudo a bem do sucesso escolar, e da prevenção do abandono? A solução é tentadora quando, para mais, vou ser avaliada pelos resultados dos meus alunos, que eu própria terei de justificar. Todos ficavam felizes: os alunos, que passam; a escola, que os mantém lá; e eu, que sou positivamente avaliada por obter bons resultados. A isto chama-se corresponder às expectativas, porque em Portugal cumprir as regras não é questão, chegar aos objectivos é que é. Quanto aos meios utilizados... isso já é outra conversa.
E a honestidade? - pergunta-me a consciência aflita.
Sim, e a honestidade?
Caramba, uma pessoa que queira viver em paz com a sua consciência, tem de se confrontar com os alunos que querem abandonar a escola, em jeito de chantagem psicológica, o que revela não me conhecerem nem um pouquinho, porque a minha resposta nunca é de compactuar com situações menos claras.
E pior, tenho de ver uma avaliação minha prejudicada pelas classificações de alunos que não querem estudar, e mais ridículo ainda, sendo esta a opção deles, sou eu que a devo justificar.
Quando a ministra diz que quer melhorar os resultados dos alunos, e diminuir o abandono, não especifica se quer manter (ou diria antes introduzir) uma cultura de rigor e exigência. É do estilo: façam-no seja de que maneira for. Tipo máfia.
Vivo trabalhando contra o sistema. Faço aquilo que para mim está certo o que já é em si uma grave demonstração de desobediência. Mas um dia, quando me questionarem, posso dizer que foi por eu achar que estava certo. Prefiro ser penalizada por pensar pela minha cabeça, do que pela dos outros.
Chateia-me solenemente que estas coisas continuem a acontecer e toda a gente esteja mais preocupada com rankings e estatísticas do que com a real desgraça que vai pelas nossas escolas. A cultura do paracer instalou-se e é para ficar.
A atitude dos alunos é sintomática disso. Eles sabem e jogam com a fragilidade da posição dos professores, meros palhaços atribuidores de classificações pré-definidas (mais de 50% de negativas é que não... lá temos nós de fazer o relatório!).
A estatísca em Portugal é uma farsa. Deveria ser um instrumento de diagnóstico, mas ao manipular os resultados que objectivo poderá ter? O da legitimação das políticas, claro.
Nas estatísticas, tudo corre bem, todos os alunos passam, mesmo aqueles que mereciam reprovar. E nós perpetuamos isto, dando razão à "Madrinha", só porque temos muito a perder se decidirmos pensar por nós e agir em conformidade.
Ainda ontem ouvi uma comparação excelente no rádio sobre o rumo que leva o ensino. O poder político, ao longo destes anos tem negligenciado a qualidade do ensino em favor da quantidade, dos números e das estatísticas. Fá-lo porque não se apercebe da gravidade das consequências, porque pensa no ensino com uma ligeireza que faz da Escola uma enorme cadeia de serviços de babysitting.
Imaginemos que estes políticos começavam a legislar sobre as escolas de condução: "queremos é sucesso, queremos que não desistam!"
Inventa-se o programa Novas Oportunidades para todos aquelas a quem a carta já foi apreendida, que têm a oportunidade de voltar à escola de condução para ter outra de novo. Lembram-se do programa Mais de 23, para quem já reprovou mais de 23 vezes no exame de código, e que pode finalmente aceder ao exame de condução.
E toda a gente tinha carta, e toda a gente andava por aí a conduzir.
A comparação parece-me óbvia demais para a Ministra, e todos os outros que antes dela se sentaram nessa cadeira, não verem que os acidentes no Saber não provocam menos danos do que os acidentes na estrada.
Daqui a uns veremos inseridos no mundo profissional uma série de "alunos de domingo", "Alunos do cabulling" qua artilhavam as canetas e estojos com artifícios só para passar à frente dos outros, e uma gigantesca cambada de "aceleras", que em vez de terem parado nos vermelhos do final do ano pisaram sempre a fundo, com o consentimento das autoridades.
16 outubro 2007
O Monstro da Caixa das Bolachas
Gostava de entrar num barquinho e navegar.
Como se não houvesse amanhã.
Afundar-me numa onda e vir à tona como um golfinho.
Sou uma menina mimosa, medricas e melindrada. Assusto-me com facilidade e só nos sonhos enfrento os inimigos e as tempestades. Na vida real sou a primeira a esconder-me do perigo.
Ser responsável é saber responder pelos seus actos. E eu nem sempre quero responder pelos meus. Falta-me a cara de pau, onde me sobra a vergonha e o orgulho.
Se eu não fosse tão estupidamente orgulhosa, a vergonha nem fazia comichão, mas a mim dá-me uma coceira...
Tento fechar o meu orgulho com uma tampinha. Imagino-o na caixa das bolachas, porque nunca vi nenhuma querer galgar cá para fora.
O orgulho ali fechado, arrumadinho, e eu cá fora, sem bolachas para comer.
...
Passar vergonha é difícil de engolir.
Vai uma bolacha?
Como se não houvesse amanhã.
Afundar-me numa onda e vir à tona como um golfinho.
Sou uma menina mimosa, medricas e melindrada. Assusto-me com facilidade e só nos sonhos enfrento os inimigos e as tempestades. Na vida real sou a primeira a esconder-me do perigo.
Ser responsável é saber responder pelos seus actos. E eu nem sempre quero responder pelos meus. Falta-me a cara de pau, onde me sobra a vergonha e o orgulho.
Se eu não fosse tão estupidamente orgulhosa, a vergonha nem fazia comichão, mas a mim dá-me uma coceira...
Tento fechar o meu orgulho com uma tampinha. Imagino-o na caixa das bolachas, porque nunca vi nenhuma querer galgar cá para fora.
O orgulho ali fechado, arrumadinho, e eu cá fora, sem bolachas para comer.
...
Passar vergonha é difícil de engolir.
Vai uma bolacha?
02 outubro 2007
A papinha toda feita!
Os miúdos, se é que se pode chamar miúdos a todos os que diferem menos de uma década de mim, seja para baixo ou para cima, querem a papinha toda feita.
-"A stora não vai dar um papel com estas regras?"
A "stora" sou eu, a catraia.
"Estas regras" são aquelas frases chave que tenho estado a badalar durante todas as aulas, sempre a relembrar o que já aprenderam. Caramba, até eu já me farto de me ouvir a dizer sempre a mesma coisa.
À pergunta estúpida / ingénua do aluno comecei por responder com um sorriso benevolente, ao que parece que o rapaz até levou a mal. Quer-se dizer: venho eu para ali dar aulas e nem dou apontamentos? Nem resumos? Nem quadros explicativos?
A razão do meu sorriso está numa só: aquela pergunta só faz sentido nos dias de hoje. Ou, vá lá, nos primeiros dias do secundário, porque depressa percebemos que as coisas são para sermos nós a fazê-las, seja tirar apontamentos, seja tomar atenção nas aulas para o efeito, seja fazer as nossas próprias cábulas e mnemónicas.
Foi assim que eu aprendi.
Foi assim que eu fui aluna.
E é por isto que hoje, ter sido boa aluna, é um grande handicap para mim como professora.
Há perguntas que os alunos me fazem em que eu me preocupo mais com a validade da pergunta do que com a urgência na resposta.
Hoje tudo isto faz sentido. Meninos respondões, malcriados, sejam miúdos, ou graúdos de já terem filhos deles.
Hoje, se eu repetir numa aula 20 vezes que o "céu é azul" perante uma turma de 20 alunos, constato que, no mínimo:
- dez alunos pedem: "Stora, podia explicar outra vez que eu não ouvi?"
- quatro alunos perguntam: "Mas a stora está a falar do céu ou do sol?
- seis alunos não se pronunciam: ou estão a tomar atenção ou estão, de facto, na lua.
Se pergunto: "Já todos sabem que o céu é azul? Mesmo, mesmo, mesmo? Como se a vossa vida dependesse disso??", obtemos o famoso assentimento à circo:
"- Siiiiiiiiiiiiiiiiiimmmmmm!!!!!!!"
E pergunto eu:
"- Então, de que cor é o céu?"
Para mal dos meus pecados:
- 7 dizem azul
- 8 dizem outra cor
- 3 pedem para explicar de novo
- 2 dizem que pensavam que eu estava a perguntar sobre a lua.
E ainda querem apontamentos...
Deve ser por estarem demasiado esgotados para prestar atenção nas aulas!
Geometria Descritiva é uma disciplina que envolve raciocício, vizualização, abstracção. Puxa pelo calcalhar de Aquiles dos meninos. E em vez de fazerem como a minha outra turma, que encara as dificuldades como desafios a superar, não: preferem contornar os obstáculos da maneira mais fácil que é não os ultrapassar de todo.
Não se perde em conhecimentos da disciplina (que é o menos relevante nisto tudo), mas sim na disciplina de si.
Por isso expresso aqui o meu agradecimento a todos os meus professores que me obrigaram a ficar com calo de escrever, que se recusaram a ditar definições, que me fizeram concentrar-me nas aulas e gerir a memória de forma a reter tudo o que ouvia, e a escrevê-lo de forma organizada, coerente e esteticamente aprazível (sim, com cores), e na hora.
Há um filme (péssimo!), "Evan Almighty", em que a personagem de Deus (cuja genialidade está em ser negro, mas que eu ainda transformava em mulher) explica o que faz para dar às pessoas o que elas querem:
Se pedirmos paciência a Deus, Ele vai-nos dar oportunidades de sermos pacientes.
É dar a rede, e não o peixe.
Eu, que já sou graúda, também gosto da papinha feita: Nestum todo lambusado de mel e propólis. Fora isso, dedico-me à pesca.
-"A stora não vai dar um papel com estas regras?"
A "stora" sou eu, a catraia.
"Estas regras" são aquelas frases chave que tenho estado a badalar durante todas as aulas, sempre a relembrar o que já aprenderam. Caramba, até eu já me farto de me ouvir a dizer sempre a mesma coisa.
À pergunta estúpida / ingénua do aluno comecei por responder com um sorriso benevolente, ao que parece que o rapaz até levou a mal. Quer-se dizer: venho eu para ali dar aulas e nem dou apontamentos? Nem resumos? Nem quadros explicativos?
A razão do meu sorriso está numa só: aquela pergunta só faz sentido nos dias de hoje. Ou, vá lá, nos primeiros dias do secundário, porque depressa percebemos que as coisas são para sermos nós a fazê-las, seja tirar apontamentos, seja tomar atenção nas aulas para o efeito, seja fazer as nossas próprias cábulas e mnemónicas.
Foi assim que eu aprendi.
Foi assim que eu fui aluna.
E é por isto que hoje, ter sido boa aluna, é um grande handicap para mim como professora.
Há perguntas que os alunos me fazem em que eu me preocupo mais com a validade da pergunta do que com a urgência na resposta.
Hoje tudo isto faz sentido. Meninos respondões, malcriados, sejam miúdos, ou graúdos de já terem filhos deles.
Hoje, se eu repetir numa aula 20 vezes que o "céu é azul" perante uma turma de 20 alunos, constato que, no mínimo:
- dez alunos pedem: "Stora, podia explicar outra vez que eu não ouvi?"
- quatro alunos perguntam: "Mas a stora está a falar do céu ou do sol?
- seis alunos não se pronunciam: ou estão a tomar atenção ou estão, de facto, na lua.
Se pergunto: "Já todos sabem que o céu é azul? Mesmo, mesmo, mesmo? Como se a vossa vida dependesse disso??", obtemos o famoso assentimento à circo:
"- Siiiiiiiiiiiiiiiiiimmmmmm!!!!!!!"
E pergunto eu:
"- Então, de que cor é o céu?"
Para mal dos meus pecados:
- 7 dizem azul
- 8 dizem outra cor
- 3 pedem para explicar de novo
- 2 dizem que pensavam que eu estava a perguntar sobre a lua.
E ainda querem apontamentos...
Deve ser por estarem demasiado esgotados para prestar atenção nas aulas!
Geometria Descritiva é uma disciplina que envolve raciocício, vizualização, abstracção. Puxa pelo calcalhar de Aquiles dos meninos. E em vez de fazerem como a minha outra turma, que encara as dificuldades como desafios a superar, não: preferem contornar os obstáculos da maneira mais fácil que é não os ultrapassar de todo.
Não se perde em conhecimentos da disciplina (que é o menos relevante nisto tudo), mas sim na disciplina de si.
Por isso expresso aqui o meu agradecimento a todos os meus professores que me obrigaram a ficar com calo de escrever, que se recusaram a ditar definições, que me fizeram concentrar-me nas aulas e gerir a memória de forma a reter tudo o que ouvia, e a escrevê-lo de forma organizada, coerente e esteticamente aprazível (sim, com cores), e na hora.
Há um filme (péssimo!), "Evan Almighty", em que a personagem de Deus (cuja genialidade está em ser negro, mas que eu ainda transformava em mulher) explica o que faz para dar às pessoas o que elas querem:
Se pedirmos paciência a Deus, Ele vai-nos dar oportunidades de sermos pacientes.
É dar a rede, e não o peixe.
Eu, que já sou graúda, também gosto da papinha feita: Nestum todo lambusado de mel e propólis. Fora isso, dedico-me à pesca.
12 setembro 2007
Mais uma moeda, mais uma voltinha!
Com cinco palavrinhas apenas
se escreve a minha felicidade
que não sendo das palavras pequenas
é a que sinto hoje, de verdade!!
Santo André cartoze horas anual
A Felicidade é uma coisa parva que se sente cá dentro e que nos estampa um sorriso estúpido, mesmo quando estamos sentados na sanita ou estamos a passar a ferro.
Eu costumo vê-la como uns óculos que só deixam ver as coisas boas. Quando estamos felizes tudo são pontos altos, vantagens e bons motivos para sorrir.
Acabei de ficar feliz, por ver realizado um secreto desejo: o de permanecer na escola do ano passado, que apesar de muita ansiedade, também me trouxe muitas alegrias. Tinha deixado tantas amizades para trás... estava mesmo com pena... os beijinhos da Lurdes, o sorriso da Guida, o pulso firme da Arlete, a força da Madalena, as conversas do Carlos, a serenidade da Francisca, a letra ilegível do Pedro, o vocabulário do outro Carlos, as boquinhas da Rosa, a seriedade do Jorge, o bronze da Gracinda, a simpatia da Dulce, a boa disposição da D. Fátima e a D. Leila!!! Ahh!!! A D. Leila!!!!...
E claro está... os meus alunos! O meu 12º foi à sua vida, mas ainda lá tenho a minha direcção de turma e os meus currículos!!
A felicidade tem um nome, e hoje está escrito à frente do meu, na primeira lista das cíclicas. Como se Deus (neste assunto o Síndrome Pré-Menstrual está fora de questão! - ver post anterior) se tivesse deslumbrado com o meu sorriso ao ver-me andar num carrossel e me tivesse pagado mais uma voltinha!
Eu, criança, simplista, e enquanto não enjoo, estou naturalmente a ADORAR!!!!!
:)
P.S. - Gosto tanto de andar de avião... pode ser que o Síndrome Pré-Menstrual patrocine qualquer coisinha!!
se escreve a minha felicidade
que não sendo das palavras pequenas
é a que sinto hoje, de verdade!!
Santo André cartoze horas anual
A Felicidade é uma coisa parva que se sente cá dentro e que nos estampa um sorriso estúpido, mesmo quando estamos sentados na sanita ou estamos a passar a ferro.
Eu costumo vê-la como uns óculos que só deixam ver as coisas boas. Quando estamos felizes tudo são pontos altos, vantagens e bons motivos para sorrir.
Acabei de ficar feliz, por ver realizado um secreto desejo: o de permanecer na escola do ano passado, que apesar de muita ansiedade, também me trouxe muitas alegrias. Tinha deixado tantas amizades para trás... estava mesmo com pena... os beijinhos da Lurdes, o sorriso da Guida, o pulso firme da Arlete, a força da Madalena, as conversas do Carlos, a serenidade da Francisca, a letra ilegível do Pedro, o vocabulário do outro Carlos, as boquinhas da Rosa, a seriedade do Jorge, o bronze da Gracinda, a simpatia da Dulce, a boa disposição da D. Fátima e a D. Leila!!! Ahh!!! A D. Leila!!!!...
E claro está... os meus alunos! O meu 12º foi à sua vida, mas ainda lá tenho a minha direcção de turma e os meus currículos!!
A felicidade tem um nome, e hoje está escrito à frente do meu, na primeira lista das cíclicas. Como se Deus (neste assunto o Síndrome Pré-Menstrual está fora de questão! - ver post anterior) se tivesse deslumbrado com o meu sorriso ao ver-me andar num carrossel e me tivesse pagado mais uma voltinha!
Eu, criança, simplista, e enquanto não enjoo, estou naturalmente a ADORAR!!!!!
:)
P.S. - Gosto tanto de andar de avião... pode ser que o Síndrome Pré-Menstrual patrocine qualquer coisinha!!
09 setembro 2007
Estranha forma de vida
Se a minha vida tivesse banda sonora, esta seria uma das músicas do álbum.
Recordo com uma pintinha de tristeza, aquela que me permito demonstrar, os dias que passava a brincar e ouvia a minha avó a cantar este fado entretida nas lides da casa.
Na altura eu era miúda, e a letra pouco me dizia. Hoje os dois primeiros versos fazem em mim um eco particularmente irónico.
Setembro chega e com ele chegam as exigências, dos outros, mas principalmente as minhas. O sol do Verão apenas me exige que fique abrigada no guarda-sol, com protector 50+, até que sejam cinco e meia da tarde. É uma tarefa simples e prazeirosa. Mas acabando o Verão, chegam os apertos no estômago, os nós na garganta, a memória turva, a concentração intermitente. Porquê? Sei lá porquê! Talvez seja por vontade de Deus!! Mas também é possível que seja Síndrome Pré-Menstrual! Uma destas duas omnipotentes e omnipresentes causas, é certo!
Foi por vontade de Deus
Que eu vivo nesta ansiedade
Que todos os ais são meus
Que é toda minha a vontade
Foi por vontade de Deus
Que estranha forma de vida
Tem este meuu coração
Vive de vida perdida
Quem lhe daria o condão
Que estranha forma de vida
Coração independente
Coração que não comando
Vives perdido entre a gente
Teimosamente sangrando
Coração independente
Eu não te acompanho mais
Pàra deixa de bater
Se não te acompanho vais
Porque teimas em correr
Eu não te acompanho mais
Se não sabes onde vais
Pára deixa de bater
Eu não te acompanho mais
Amália Rodrigues
Por muito independente que seja o coração (e que o ateste o sistema nervoso autónomo) não há ainda forma de dizer basta, "pára, deixa de bater". Não podemos dizer "Coito", que com esta idade já tem interpretações muito menos seguras. Não se pode dizer "não brinco mais", porque agora é a sério.
É sempre tudo a sério.
Mas tenho saudades de brincar...
E por isso conservo esta estranha forma de vida, com uma eterna correspondência no passado, pensando como adulta complicada nos problemas, e como criança simplista nas soluções.
Tenho um emaranhado de problemas comigo.
Será que vale dizer "trava congela e obedece"?
Recordo com uma pintinha de tristeza, aquela que me permito demonstrar, os dias que passava a brincar e ouvia a minha avó a cantar este fado entretida nas lides da casa.
Na altura eu era miúda, e a letra pouco me dizia. Hoje os dois primeiros versos fazem em mim um eco particularmente irónico.
Setembro chega e com ele chegam as exigências, dos outros, mas principalmente as minhas. O sol do Verão apenas me exige que fique abrigada no guarda-sol, com protector 50+, até que sejam cinco e meia da tarde. É uma tarefa simples e prazeirosa. Mas acabando o Verão, chegam os apertos no estômago, os nós na garganta, a memória turva, a concentração intermitente. Porquê? Sei lá porquê! Talvez seja por vontade de Deus!! Mas também é possível que seja Síndrome Pré-Menstrual! Uma destas duas omnipotentes e omnipresentes causas, é certo!
Foi por vontade de Deus
Que eu vivo nesta ansiedade
Que todos os ais são meus
Que é toda minha a vontade
Foi por vontade de Deus
Que estranha forma de vida
Tem este meuu coração
Vive de vida perdida
Quem lhe daria o condão
Que estranha forma de vida
Coração independente
Coração que não comando
Vives perdido entre a gente
Teimosamente sangrando
Coração independente
Eu não te acompanho mais
Pàra deixa de bater
Se não te acompanho vais
Porque teimas em correr
Eu não te acompanho mais
Se não sabes onde vais
Pára deixa de bater
Eu não te acompanho mais
Amália Rodrigues
Por muito independente que seja o coração (e que o ateste o sistema nervoso autónomo) não há ainda forma de dizer basta, "pára, deixa de bater". Não podemos dizer "Coito", que com esta idade já tem interpretações muito menos seguras. Não se pode dizer "não brinco mais", porque agora é a sério.
É sempre tudo a sério.
Mas tenho saudades de brincar...
E por isso conservo esta estranha forma de vida, com uma eterna correspondência no passado, pensando como adulta complicada nos problemas, e como criança simplista nas soluções.
Tenho um emaranhado de problemas comigo.
Será que vale dizer "trava congela e obedece"?
06 setembro 2007
A fase mística anda no ar...
Espiolham-se as listas.
As deste ano, as do outro...
Como se alguém quisesse prever o que ia acontecer hoje ou amanhã, apenas por ler nos jornais a sequência de eventos passados.
Já é fácil para mim dizer que estou desempregada. Com um sorriso!
Já é fácil assumir que o horário não cai no meu bolso logo no final de Agosto. Com um sorriso!
O que não consigo ainda é viver nesta espera: no dilema de prever milhentos cenários possíveis de escolas boas, más; com alunos bons, maus; longe ou perto de casa, alugando quarto ou não, fazendo 100 km ou indo a pé. Com um sorriso...
Dizem-me as pessoas:
"- Deixa lá, hás-de conseguir um horário!"
E apesar de este ser o responsável por me pagar as contas, acho que agora é muito mais importante conseguir viver este desespero com o tal sorriso.
Viver os maus momentos com esse brilho no rosto não dá direito a certificado com distinção, não dá direito a aplauso, nem ovação.
Não há reconhecimento por tamanha pequena coisa, porque no final o grande benefício de ser livre é nosso.
Livre de tristezas mesquinhas, livre da opinião dos outros, livre da aceitação ou reprovação alheias.
Ser livre, com todos os falhanços sociais que isso pode implicar, é o meu (próximo) objectivo de vida. O que não deixa de ser curioso numa pessoa que sempre buscou o sucesso de projecção.
Acontece que os meus quase, quase 29 anos de idade ensinaram-me que os outros passarem-nos uma mão pela cabeça não é um objectivo em si. E muitas das vezes isso só se consegue à custa de sacrifícios que não nos dão o mínimo prazer e que até podem colidir com as nossas ideias e valores.
Os meus quase, quase 29 aninhos (reparem no esforço de mentalização!) ensinaram-me uma única coisa:
Ser livre é ser um eterno escravo...
...mas só da nossa consciência.
As deste ano, as do outro...
Como se alguém quisesse prever o que ia acontecer hoje ou amanhã, apenas por ler nos jornais a sequência de eventos passados.
Já é fácil para mim dizer que estou desempregada. Com um sorriso!
Já é fácil assumir que o horário não cai no meu bolso logo no final de Agosto. Com um sorriso!
O que não consigo ainda é viver nesta espera: no dilema de prever milhentos cenários possíveis de escolas boas, más; com alunos bons, maus; longe ou perto de casa, alugando quarto ou não, fazendo 100 km ou indo a pé. Com um sorriso...
Dizem-me as pessoas:
"- Deixa lá, hás-de conseguir um horário!"
E apesar de este ser o responsável por me pagar as contas, acho que agora é muito mais importante conseguir viver este desespero com o tal sorriso.
Viver os maus momentos com esse brilho no rosto não dá direito a certificado com distinção, não dá direito a aplauso, nem ovação.
Não há reconhecimento por tamanha pequena coisa, porque no final o grande benefício de ser livre é nosso.
Livre de tristezas mesquinhas, livre da opinião dos outros, livre da aceitação ou reprovação alheias.
Ser livre, com todos os falhanços sociais que isso pode implicar, é o meu (próximo) objectivo de vida. O que não deixa de ser curioso numa pessoa que sempre buscou o sucesso de projecção.
Acontece que os meus quase, quase 29 anos de idade ensinaram-me que os outros passarem-nos uma mão pela cabeça não é um objectivo em si. E muitas das vezes isso só se consegue à custa de sacrifícios que não nos dão o mínimo prazer e que até podem colidir com as nossas ideias e valores.
Os meus quase, quase 29 aninhos (reparem no esforço de mentalização!) ensinaram-me uma única coisa:
Ser livre é ser um eterno escravo...
...mas só da nossa consciência.
29 agosto 2007
A propósito de...
Raio X ao esófago com papa baritada.
Diz que sabia a iogurte magro com açúcar, mas também há a versão de saber a giz.
Ao fim de sete horas de jejum (que o exame estava marcado para as 13h30 - sim, da tarde!) aquilo sabia mas era a mel! Foi de penalty até ver o fundo ao copo!
Nham!!
O maná dos tempos modernos ou, "prontos", vá lá, dos esfomeados!
Diz que sabia a iogurte magro com açúcar, mas também há a versão de saber a giz.
Ao fim de sete horas de jejum (que o exame estava marcado para as 13h30 - sim, da tarde!) aquilo sabia mas era a mel! Foi de penalty até ver o fundo ao copo!
Nham!!
O maná dos tempos modernos ou, "prontos", vá lá, dos esfomeados!
22 agosto 2007
Holanda: Prós e contras (parte II)
Sabe-se lá porquê, quando me perguntam se gostei da Holanda a minha cabeça hesita em dizer logo que sim.
Claro que foi uma viagem fantástica, com deliciosos passeios, com vistas e panorâmicas diferentes, com uma cultura diferente...
A Holanda é pequena (metade de Portugal), está no centro da Europa (a meio termo, sem extremismos e com o máximo de tolerância de todas as posições e escolhas). A Holanda, em Agosto, não faz vibrar a paisagem com a intensidade cromática dos campos de bolbos, e por isso, é um país das pequenas coisas.
Eu própria, não sou como a Holanda. Eu tomo muitos partidos, sou oito ou oitenta, compro guerras à conta das minhas ideias ou posições e instigo discussões sobre tudo aquillo que não concordo.
A qualidade de estar no meio, de ser equilibrado, tem um preço. Mas é mais barato do que aquele que pagamos por assumir extremos.
A Holanda, poderá vir a revelar-se uma boa surpresa com o passar dos tempos, mas por enquanto guardo o ressentimento da desilusão. A Leiteira de Vermeer, as verdadeiras motivações de Van Gogh...
No entanto, apesar da verdade ao vivo ter desacreditado toda a verdade dos livros e da minha cabeça, restam as pequenas coisas, que antes eram ofuscadas, e agoram ganham um brilho próprio aos meus olhos.
Depois de muito espernear, esquecem-se os girassóis, que ainda me está prometido ver os de fundo azul em Munique, e valorizam-se as, até então, pequenas coisas. Frans Hals foi uma total descoberta e eterna delícia de observar.
A pincelada gestual de uma precisão incrível, faz dos seus quadros pontes com o presente. Ali, ao vivo, a 20 cm da matéria cromática, eu senti a presença, o movimento, a acção. Como se o pintor, gestualizasse ad eternum, cada pequena mancha de tinta. Percorrer os brilhos desta faixa é percorrer a tela com os olhos de Frans Hals e essa é uma experiência memorável.
A pujança e vivacidade da cor aqui representadas na imagem ficam muito aquém daquilo que ficou gravado na minha retina. Ainda assim aqui fica um pequeno testemunho.
Aprendemos a gostar dos quadros pelas suas imagens nos livros, como se essas representações pudessem substituir na íntegra os originais. Hoje olho para as fotografias da minha avó e a única coisa que me ocorre é que elas nunca poderão representar nem uma fracção de milésimo daquilo que ela era.
PRÓ: Sentir a mão de Frans Hals e observar de perto o tratamento da matéria por Rembrandt, quer no tratamento dos fundos com riscado, quer nas espessas massas de cor quase expressionistas.
CONTRA: conhecer um Van Gogh que se vendia ao sabor das tendências, inseguro e hesitante. Conheci finalmente a humanidade de quem eu fantasiara como um génio. Porém, fica a lição: viver e morrer como um fracassado, não é impeditivo de se chegar ao sucesso.
A Holanda não foi uma experiência grandiosa, mas pode ser que com o tempo eu consiga ver mais do que esplendor das pequenas coisas.
Claro que foi uma viagem fantástica, com deliciosos passeios, com vistas e panorâmicas diferentes, com uma cultura diferente...
A Holanda é pequena (metade de Portugal), está no centro da Europa (a meio termo, sem extremismos e com o máximo de tolerância de todas as posições e escolhas). A Holanda, em Agosto, não faz vibrar a paisagem com a intensidade cromática dos campos de bolbos, e por isso, é um país das pequenas coisas.
Eu própria, não sou como a Holanda. Eu tomo muitos partidos, sou oito ou oitenta, compro guerras à conta das minhas ideias ou posições e instigo discussões sobre tudo aquillo que não concordo.
A qualidade de estar no meio, de ser equilibrado, tem um preço. Mas é mais barato do que aquele que pagamos por assumir extremos.
A Holanda, poderá vir a revelar-se uma boa surpresa com o passar dos tempos, mas por enquanto guardo o ressentimento da desilusão. A Leiteira de Vermeer, as verdadeiras motivações de Van Gogh...
No entanto, apesar da verdade ao vivo ter desacreditado toda a verdade dos livros e da minha cabeça, restam as pequenas coisas, que antes eram ofuscadas, e agoram ganham um brilho próprio aos meus olhos.
Depois de muito espernear, esquecem-se os girassóis, que ainda me está prometido ver os de fundo azul em Munique, e valorizam-se as, até então, pequenas coisas. Frans Hals foi uma total descoberta e eterna delícia de observar.
A pincelada gestual de uma precisão incrível, faz dos seus quadros pontes com o presente. Ali, ao vivo, a 20 cm da matéria cromática, eu senti a presença, o movimento, a acção. Como se o pintor, gestualizasse ad eternum, cada pequena mancha de tinta. Percorrer os brilhos desta faixa é percorrer a tela com os olhos de Frans Hals e essa é uma experiência memorável.
A pujança e vivacidade da cor aqui representadas na imagem ficam muito aquém daquilo que ficou gravado na minha retina. Ainda assim aqui fica um pequeno testemunho.
Aprendemos a gostar dos quadros pelas suas imagens nos livros, como se essas representações pudessem substituir na íntegra os originais. Hoje olho para as fotografias da minha avó e a única coisa que me ocorre é que elas nunca poderão representar nem uma fracção de milésimo daquilo que ela era.
PRÓ: Sentir a mão de Frans Hals e observar de perto o tratamento da matéria por Rembrandt, quer no tratamento dos fundos com riscado, quer nas espessas massas de cor quase expressionistas.
CONTRA: conhecer um Van Gogh que se vendia ao sabor das tendências, inseguro e hesitante. Conheci finalmente a humanidade de quem eu fantasiara como um génio. Porém, fica a lição: viver e morrer como um fracassado, não é impeditivo de se chegar ao sucesso.
A Holanda não foi uma experiência grandiosa, mas pode ser que com o tempo eu consiga ver mais do que esplendor das pequenas coisas.
10 agosto 2007
Holanda: Prós e contras (parte I)
Um casal, um emigrante, uma casa à borla, 8 dias de férias sem programa, dinheiro e um destino... humm... do caraças! A KLM afigurou-se como a companhia aérea mais barata (com os bilhetes marcados desde Abril, pudera!!) e lá fomos nós apanhar um avião à bela hora das 2h15 da manhã. Chegamos cerca das seis da matina a Schiphol (tentem dizer com a pronúncia: "Ssrripól") e temos o belo do Trevi à nossa espera. Que bom que é, ver uma cara familiar e ouvir uma língua maravilhosa, depois de ter aturado o comandante do avião a explicar em dutch que em Amesterdão estavam 18 graus e tempo incerto com chuviscos, quando eu havia deixado para trás uma terra com 30 graus à meia noite no dia anterior!
Foi uma aventura de uma semana que venho aqui registar. A minha memória por vezes falha (já estou a caminho dos 29...) e sei que vou gostar de ler tudo isto mais tarde, para saber o eco (ainda que com uma pronúncia execrável!) que este país teve em mim.
PRÓ: O excelente sistema de transportes. Com o strippenkaart dava para viajar em todos os autocarros, eléctricos (tram) e metro. E havia bué deles por hora!!!
CONTRA: Esta língua horrível que, ao contrário da alemã, não me conseguiu seduzir nem no oitavo dia. Felizmente toda a gente falava inglês. Mas os espanhóis também falam e não é por isso que os percebo melhor. No meio de um atropelamento de palavras e frases à moda holandadesa, lá dava para descodificar o inglês subjacente! Não é tão mau como faço parecer, mas chateia-me que as pessoas só se preocupem em reproduzir palavras na sua forma e não na pronúncia correcta.
28 julho 2007
Investimentos sem futuro...
Estou oficialmente de férias!
Literalmente, na teoria, e finalmente na prática.
Fui "convidada" para a constituição de turmas e o que se perdeu foram muitas aulas de ginástica, umas boas tardes de praia, o matar de saudades da bordoada matinal do Mourinho, e umas boas semanas de férias.
Todos os dias das 9 às 17, 18 ou 19 horas, tudo foi possível. Hoje saí às 21 horas. O André à minha espera para jantar e eu a trabalhar numa sexta-feira à noite, no dia 30 de Julho. Para quem não sabe eu sou professora e oiço com frequência a boca do "grandes férias!"
A partir de hoje nada volta a ser o mesmo. Vou andar à roda como a lotaria, e com sorte volto a calhar noutra escola. Novas pessoas, novos relacionamentos, novos amigos...
Hoje não foi o simples último dia antes das férias.
Foi o último dia. Ponto.
Quando se passa tanto tempo numa escola, como passei nas últimas semanas, acaba-se por saber os nomes de todos os funcionários e colegas, mas também as suas vidas e dilemas. Os meus relacionamentos profissionais são a prazo e expiram a 31 de Agosto.
Hoje, por exemplo, fui tomar o pequeno almoço numa pastelariazinha amorosa em frente à escola, e uma colega que conheço de vista (de a ver o ano inteiro), veio sentar-se na minha mesa. Acabámos por meter conversa, trocar impressões e estabelecer um contacto que nunca foi possível até agora. Enquanto falava com ela interrogava-me: para quê conhecer mais esta pessoa se isso só vai fazer diferença até ao fim do dia?
É um investimento sem futuro. É deitar dinheiro ao ar. E mesmo assim, deitei.
Trocámos desejos de boas férias, sentidos como se fossem para os nossos melhores amigos.
E nunca mais a vou ver...
Não lido bem com estes relacionamentos descartáveis a que a profissão me obriga. Todos os anos me dou ao trabalho de conhecer as pessoas, os seus nomes, as suas vidas, as suas tristezas, as razões que as movem.
E todos os anos, no fim do ano, sou obrigada a agarrar nisso tudo como se fossem papéis velhos e deitá-los ao lixo.
São pessoas, são vidas. Não são para deitar fora.
A afeição é um sentimento difícil de impedir. E mesmo que eu não queira, meto sempre conversa com os funcionários todos que me passam pela vista e mesmo não lhes sabendo o nome, fico-lhes a saber a vida. Trago comigo um pouquinho deles e tenho pena que nada disto agora faça sentido.
Evitei fazê-lo durante todo o ano, porque já sei como a história acaba e já tenho as minhas estratégias de auto-preservação. Mas a trabalhar de manhã à noite com as mesmas pessoas, e tendo um feitio extrovertido, é difícil não fazer amizades de última hora.
Quando penso seriamente nisso, vejo que nem posso classificar como amizades. São relações feitas de pequenos câmbios de desabafos, trivialidades e sorrisos.
Pequenos investimentos de risco, que vencem no dia de hoje.
Que faço eu então com os juros capitalizados?
Ponho numa conta poupança?
Não.
Ponho debaixo do colchão, para não me lembrar da afeição.
Nas relações todos os investimentos são de risco, mas desde que o saldo disponível seja positivo há sempre dinheiro para novos investimentos.
Sim, porque eu ando na escola há anos, mas nunca mais aprendo. ;)
Literalmente, na teoria, e finalmente na prática.
Fui "convidada" para a constituição de turmas e o que se perdeu foram muitas aulas de ginástica, umas boas tardes de praia, o matar de saudades da bordoada matinal do Mourinho, e umas boas semanas de férias.
Todos os dias das 9 às 17, 18 ou 19 horas, tudo foi possível. Hoje saí às 21 horas. O André à minha espera para jantar e eu a trabalhar numa sexta-feira à noite, no dia 30 de Julho. Para quem não sabe eu sou professora e oiço com frequência a boca do "grandes férias!"
A partir de hoje nada volta a ser o mesmo. Vou andar à roda como a lotaria, e com sorte volto a calhar noutra escola. Novas pessoas, novos relacionamentos, novos amigos...
Hoje não foi o simples último dia antes das férias.
Foi o último dia. Ponto.
Quando se passa tanto tempo numa escola, como passei nas últimas semanas, acaba-se por saber os nomes de todos os funcionários e colegas, mas também as suas vidas e dilemas. Os meus relacionamentos profissionais são a prazo e expiram a 31 de Agosto.
Hoje, por exemplo, fui tomar o pequeno almoço numa pastelariazinha amorosa em frente à escola, e uma colega que conheço de vista (de a ver o ano inteiro), veio sentar-se na minha mesa. Acabámos por meter conversa, trocar impressões e estabelecer um contacto que nunca foi possível até agora. Enquanto falava com ela interrogava-me: para quê conhecer mais esta pessoa se isso só vai fazer diferença até ao fim do dia?
É um investimento sem futuro. É deitar dinheiro ao ar. E mesmo assim, deitei.
Trocámos desejos de boas férias, sentidos como se fossem para os nossos melhores amigos.
E nunca mais a vou ver...
Não lido bem com estes relacionamentos descartáveis a que a profissão me obriga. Todos os anos me dou ao trabalho de conhecer as pessoas, os seus nomes, as suas vidas, as suas tristezas, as razões que as movem.
E todos os anos, no fim do ano, sou obrigada a agarrar nisso tudo como se fossem papéis velhos e deitá-los ao lixo.
São pessoas, são vidas. Não são para deitar fora.
A afeição é um sentimento difícil de impedir. E mesmo que eu não queira, meto sempre conversa com os funcionários todos que me passam pela vista e mesmo não lhes sabendo o nome, fico-lhes a saber a vida. Trago comigo um pouquinho deles e tenho pena que nada disto agora faça sentido.
Evitei fazê-lo durante todo o ano, porque já sei como a história acaba e já tenho as minhas estratégias de auto-preservação. Mas a trabalhar de manhã à noite com as mesmas pessoas, e tendo um feitio extrovertido, é difícil não fazer amizades de última hora.
Quando penso seriamente nisso, vejo que nem posso classificar como amizades. São relações feitas de pequenos câmbios de desabafos, trivialidades e sorrisos.
Pequenos investimentos de risco, que vencem no dia de hoje.
Que faço eu então com os juros capitalizados?
Ponho numa conta poupança?
Não.
Ponho debaixo do colchão, para não me lembrar da afeição.
Nas relações todos os investimentos são de risco, mas desde que o saldo disponível seja positivo há sempre dinheiro para novos investimentos.
Sim, porque eu ando na escola há anos, mas nunca mais aprendo. ;)
09 julho 2007
"Marcha à Ré" é sempre em frente!
As férias são como o Natal:
O interesse é não ficar em casa. Claro que se corre o risco de ficar cansada com a viagem (e a segunda-feira não perdoa), mas o cansaço é sempre disfrutado, e não sofrido.
Chegamos moídos, mas felizes. E isto é um descanso!
Por sítios em que a paisagem inspiradora nos estampa um sorriso no rosto; onde acordamos às 6 da manhã com o barulho dos pássaros e das vacas que ainda não pararam de mugir e se aproximam cada vez mais; onde todos nos acarinham e nos dizem "Bem haja!" e "Boa Viagem!" por onde quer que passemos; onde os desconhecidos com que nos cruzamos na rua nos dizem "Bom dia" (imaginem pôr isto em prática em Lisboa!!); onde se recordam férias e episódios de há 20 anos atrás, relembrando o cheiro intenso do lagar de azeite, ou da frescura da água tirada da bilha de barro e bebida pelo púcaro; onde um exército de pequeninas aranhas e mosquitos nos fica a guardar o habitáculo da tenda; onde nos vemos obrigados a partilhar o lavatório da casa-de-banho com uma rela, que teima em escalar azulejos e pedra mármore, com toda a certeza para se conseguir ver ao espelho!
Por tudo isto, o fim de semana passado me soube a férias. Tanto, que só quando entrei hoje no portão da escola é que me conformei que tinham acabado.
... Humm.
É que tinha ficado com a impressão que no paraíso não havia volta atrás.
- quando um homem quiser;
- uma mulher deixar;
- e o dinheiro permitir.
O interesse é não ficar em casa. Claro que se corre o risco de ficar cansada com a viagem (e a segunda-feira não perdoa), mas o cansaço é sempre disfrutado, e não sofrido.
Chegamos moídos, mas felizes. E isto é um descanso!
Por sítios em que a paisagem inspiradora nos estampa um sorriso no rosto; onde acordamos às 6 da manhã com o barulho dos pássaros e das vacas que ainda não pararam de mugir e se aproximam cada vez mais; onde todos nos acarinham e nos dizem "Bem haja!" e "Boa Viagem!" por onde quer que passemos; onde os desconhecidos com que nos cruzamos na rua nos dizem "Bom dia" (imaginem pôr isto em prática em Lisboa!!); onde se recordam férias e episódios de há 20 anos atrás, relembrando o cheiro intenso do lagar de azeite, ou da frescura da água tirada da bilha de barro e bebida pelo púcaro; onde um exército de pequeninas aranhas e mosquitos nos fica a guardar o habitáculo da tenda; onde nos vemos obrigados a partilhar o lavatório da casa-de-banho com uma rela, que teima em escalar azulejos e pedra mármore, com toda a certeza para se conseguir ver ao espelho!
Por tudo isto, o fim de semana passado me soube a férias. Tanto, que só quando entrei hoje no portão da escola é que me conformei que tinham acabado.
... Humm.
É que tinha ficado com a impressão que no paraíso não havia volta atrás.
30 junho 2007
Modéstia e presunção
O estômago ressoa... a televisão do vizinho também. Oiço o meu dedilhar no teclado com um episódio qualquer do House como paisagem.
Estou chateada, pois 'tá claro que estou chateada.
Há quem goste de cães, e há quem prefira gatos. Há quem veja as Donas de Casa Desesperadas ou quem não perca um Dr. House.
Eu sou pelos cães e pelo Dr. House. Sou daquelas pessoas que acham os cães absolutamente adoráveis por estarem incondicionalmente lá para nós, e que rejeitam a identificação do típico desinteresse dos gatos com algum traço de personalidade vincada. Conheço pessoas que são como os gatos, ou como eu os vejo. Fingem ser importantes para aparentarem personalidade. Ainda estou na dúvida se conheço pessoas como os cães. Estar lá, incondicionalmente, sempre, é uma tarefa difícil. Bom, posso dizer que conheço pessoas como a minha Sissi, que quando está nas suas gravidezes psicológicas não me liga nenhuma. Fora isso, é uma querida!
Arrumo as pessoas em prateleiras. As que gostam de cães, as que gostam de gatos, as que se parecem com cães, as que se parecem com gatos, as que lutam pela vida, as que baixam os braços e esperam que ela aconteça, as que reclamam, as que agradecem, as que vivem o momento, as que passam os momentos todos a pensar em viver uma vida decente...
As prateleiras estão organizadas em altura, mas para quem as ocupa a altura é apenas uma condição de diferença e não de hierarquia. Eu só gosto de saber onde tenho as coisas.
Eu própria, gosto de me arrumar em prateleiras, mesmo que isso não passe de uma simples presunção da minha parte.
Neste momento, estou em arrumações, a acertar as coisas, a encontrar a prateleira certa para alguns e para mim.
E depois de hoje, do dia de ansiedade, dos pensamentos soltos e revoltos, das memórias inapagáveis, só quero ocupar a prateleira das meninas com umas sandálias brancas.
Lindas, claro!
As sandálias, por supuesto.
Vá, pronto, e as meninas também!
Podem pensar que me sobra a presunção, que eu, presumida, prefiro pensar que me falta a modéstia.
;)
Estou chateada, pois 'tá claro que estou chateada.
Há quem goste de cães, e há quem prefira gatos. Há quem veja as Donas de Casa Desesperadas ou quem não perca um Dr. House.
Eu sou pelos cães e pelo Dr. House. Sou daquelas pessoas que acham os cães absolutamente adoráveis por estarem incondicionalmente lá para nós, e que rejeitam a identificação do típico desinteresse dos gatos com algum traço de personalidade vincada. Conheço pessoas que são como os gatos, ou como eu os vejo. Fingem ser importantes para aparentarem personalidade. Ainda estou na dúvida se conheço pessoas como os cães. Estar lá, incondicionalmente, sempre, é uma tarefa difícil. Bom, posso dizer que conheço pessoas como a minha Sissi, que quando está nas suas gravidezes psicológicas não me liga nenhuma. Fora isso, é uma querida!
Arrumo as pessoas em prateleiras. As que gostam de cães, as que gostam de gatos, as que se parecem com cães, as que se parecem com gatos, as que lutam pela vida, as que baixam os braços e esperam que ela aconteça, as que reclamam, as que agradecem, as que vivem o momento, as que passam os momentos todos a pensar em viver uma vida decente...
As prateleiras estão organizadas em altura, mas para quem as ocupa a altura é apenas uma condição de diferença e não de hierarquia. Eu só gosto de saber onde tenho as coisas.
Eu própria, gosto de me arrumar em prateleiras, mesmo que isso não passe de uma simples presunção da minha parte.
Neste momento, estou em arrumações, a acertar as coisas, a encontrar a prateleira certa para alguns e para mim.
E depois de hoje, do dia de ansiedade, dos pensamentos soltos e revoltos, das memórias inapagáveis, só quero ocupar a prateleira das meninas com umas sandálias brancas.
Lindas, claro!
As sandálias, por supuesto.
Vá, pronto, e as meninas também!
Podem pensar que me sobra a presunção, que eu, presumida, prefiro pensar que me falta a modéstia.
;)
25 junho 2007
A minha turma é liiiiiinnda!!
O cheirinho a marchas ainda está no ar e o orgulho e bairrismo fazem-se sentir no meu coraçãozinho de professora. A Gala dos Finalistas de 9º ano decorreu no sábado passado e o pensamento que mais electrocutou os meus neurónios foi:
A minha turma é liiiiiiiiiinnda!
A semana foi intensa. O culminar de um trabalho de meses, que terminou com a decoração da sala para a festa. Andámos a cortar e a forrar estrelas em prateado para cubrir o tecto de um pavilhão amplo. Foi o delírio! Até os professores destacados como suplementes para as vigilâncias dos exames colaboraram nesta empreitada. Pensam que havia horas mortas na sala dos professores? Qual quê! Tudo ali de tesoura, x-acto e cola na mão!
As estrelas apareceram, e os livros de curso foram feitos, tudo graças aos professores. Houve quem andasse empoleirado no andaime a pendurar as decorações, outros a fazer slide shows que compilaram as fotos dos miúdos desde o 7º ano, e muito, muito, muito, muito mais trabalho que se traduziu nas milhentas pequenas coisas, que por vezes são o que mais empata nestas situações.
A noite de 6ª feira foi longa e o sábado foi dedicado aos arranjos finais que foram só desde a manhã, até ao final da tarde! Tempinho com a família? LOL! Eu já mal via o André durante a semana e posso dizer à boca cheia que não fui eu a que mais trabalhou!
Ninguém trabalhou para ter agradecimentos, mas custa sempre ouvir a deixa do:
"- Ah és professora? Grandes férias, hã?"
Ser professora é um estado que nos obriga a ver as coisas na perspectiva do que é preciso fazer e não do que nos mandam fazer. A chefe não pediu a ninguém para trabalhar ao sábado, e no entanto estavam lá professores e funcionários a trabalhar incansavelmente e sem dinheiro extra no final do mês. Escusado será dizer que a única coisa que ganhámos foi um cansaço extremo.
No sábado, eu já estava saturada de tudo e só me apetecia ficar a descansar em casa como qualquer trabalhador que não tem tantas férias como os professores :P
O tempo estava bom, a malta ia para a praia e eu de castigo na escola. Estava tão contrariada... Todos tínhamos consciência de que o trabalho seria inglório e que os miúdos nem iam dar valor a metade do nosso esforço. Mesmo assim, lá estivemos, sempre a dar no duro, e a apoiarmos-nos mutuamente.
Houve professoras extraordinárias que, literalmente, fizeram brilhar aquela festa. Completamente incansáveis e sempre bem dispostas. Eu fiz o que pude para colaborar com elas, mas reconheço-lhes aqui o empenho sem limites num trabalho que merece ser louvado.
Lá para as 8 e meia da noite, cheguei à festa, toda aperaltada! A Presidente do Conselho Executivo nem acreditava que a fulana de fato macaco com máscara no rosto, que esteve durante a tarde a pintar estrelas com spray prateado, era eu! Uma Cinderela contrariada, a trabalhar contrariadamente numa noite de sábado, deixando em espera um fim de semana merecido.
Mas, assim que descubro a minha mesa, vem uma aluna da minha Direcção de Turma ter comigo em pulgas:
"-Stôra!!!! Nós estamos lá ao fundo!"
Eu olhei para ela e só pude rasgar o maior sorriso sincero que encontrei: "ela estava tão linda!"
Lá fui eu, mãe-galinha, ter com os meus pequenotes e a sentença era sempre a mesma. Eles estavam lindos! Todos aperaltadinhos, nos seus penteados, vestidos, gravatas, sapatos e malas... um absoluto must!
Quando regressei à minha mesa, para dar início ao jantar, logo aí já tudo tinha valido a pena, já a contrariedade se havia escapulido de vergonha, porque eu era uma Directora de Turma babada e orgulhosa, a pensar com o coração cheiiinho (e por favor, leiam em jeito de pregão):
"A minha turma é liiiiiiiiiiiiinda!"
11 junho 2007
A vergonha das vergonhas!!
Hoje vinha eu da minha (bem sucedida!!!) reunião de Direcção de Turma, depois de uma manhã recheada de... (à falta de melhor palavra) "assertividade", quando um fulano me abordou. Eu já estava dentro do carro, de porta aberta, ao telefone e o homem não hesitou em interromper-me. Não percebi muito bem o que estava a dizer, pois enrolava-se nas palavras, e cheguei mesmo a pensar que estava prestes a ser assaltada, mas o que o homem tinha era fome.
"Não como há dias, não me pode pagar o almoço?"
Naquela situação estúpida de ouvir o André do outro lado a perguntar se eu o estava a ouvir, completamente baralhada sem saber a quem atender, respondi:
"-Dê-me só um minuto que eu já lhe pago o almoço, pode ser?"
De repente, ena pá... porra!!! Não tenho dinheiro!!
Quando eu não tenho dinheiro é não ter mesmo nada. Já tinha saltado de uma reunião para a outra só com um pão de leite com fiambre e manteiga (sem um suminho), porque o dinheiro do cartão da escola não dava para mais e eu tinha-me esquecido de levantar dinheiro.
Volto outra vez:
"- Olhe, não tenho dinheiro nenhum quer ver?" Mostro-lhe o interior da minha carteira, acabada de tirar da mala, e deixei-o ver o panorama da minha tristeza.
Uma moeda de 1 cent., outra de 5 cent., um botão e o Santo Onofre.
Será que o botão no mercado negro renderá alguma coisa? Como pretendia eu pagar o almoço a alguém nestes termos? Só se fosse pago em preces!!!
O homem olhou desiludido para mim, com aquele ar do estilo: "xiii, ainda estás pior que eu", enquanto eu insistia:
"- Fique com os 6 cêntimos!"
Sim, claro, porque o botão e o Santo Onofre são valiosíssimos, oh Ana Sofia, por favor, poupa-me!!
Eu faço-me passar cada vergonha...
O homem olhou para mim, como se eu estivesse a importuná-lo e afastou-se sem dizer mais nada.
"Caramba, pensei eu, nem os pobres aceitam o que tenho para dar...!" É curiosa esta forma de orgulho, que contraria a ganância do espírito do "grão a grão enche a galinha o papo". Talvez seja uma forma de auto-preservação: "ou me pagas o almoço, ou também não quero andar a juntar".
Não percebi, mas achei que a cena era insólita o suficiente para não ficar perdida no esquecimento. Ainda para mais quando o Santo Onofre esteve directamente envolvido neste enredo, e tendo sido ele o principal causador de tudo isto.
Para quem não sabe, a figura do Santo Onofre deve andar sempre connosco na carteira "para que nunca nos falte o dinheiro". Tem ainda a particularidade de não poder ser adquirido por nós. Tem de ser outra pessoa a oferecer-nos, neste caso, foi a minha mãe.
E anda aqui uma pessoa, na maior parte das vezes com o Santo Onofre a tomar banho nas notas e moedas do meu porta-moedas, e ele, no dia de hoje, faz-me uma desfeita destas!!!!
Oh, valha-me Santo Onofre!!!
P.S. - Quanto ao botão... bom, eu sou supersticiosa, mas não tanto. É mesmo desleixo de o coser no meu casaco verde :)
"Não como há dias, não me pode pagar o almoço?"
Naquela situação estúpida de ouvir o André do outro lado a perguntar se eu o estava a ouvir, completamente baralhada sem saber a quem atender, respondi:
"-Dê-me só um minuto que eu já lhe pago o almoço, pode ser?"
De repente, ena pá... porra!!! Não tenho dinheiro!!
Quando eu não tenho dinheiro é não ter mesmo nada. Já tinha saltado de uma reunião para a outra só com um pão de leite com fiambre e manteiga (sem um suminho), porque o dinheiro do cartão da escola não dava para mais e eu tinha-me esquecido de levantar dinheiro.
Volto outra vez:
"- Olhe, não tenho dinheiro nenhum quer ver?" Mostro-lhe o interior da minha carteira, acabada de tirar da mala, e deixei-o ver o panorama da minha tristeza.
Uma moeda de 1 cent., outra de 5 cent., um botão e o Santo Onofre.
Será que o botão no mercado negro renderá alguma coisa? Como pretendia eu pagar o almoço a alguém nestes termos? Só se fosse pago em preces!!!
O homem olhou desiludido para mim, com aquele ar do estilo: "xiii, ainda estás pior que eu", enquanto eu insistia:
"- Fique com os 6 cêntimos!"
Sim, claro, porque o botão e o Santo Onofre são valiosíssimos, oh Ana Sofia, por favor, poupa-me!!
Eu faço-me passar cada vergonha...
O homem olhou para mim, como se eu estivesse a importuná-lo e afastou-se sem dizer mais nada.
"Caramba, pensei eu, nem os pobres aceitam o que tenho para dar...!" É curiosa esta forma de orgulho, que contraria a ganância do espírito do "grão a grão enche a galinha o papo". Talvez seja uma forma de auto-preservação: "ou me pagas o almoço, ou também não quero andar a juntar".
Não percebi, mas achei que a cena era insólita o suficiente para não ficar perdida no esquecimento. Ainda para mais quando o Santo Onofre esteve directamente envolvido neste enredo, e tendo sido ele o principal causador de tudo isto.
Para quem não sabe, a figura do Santo Onofre deve andar sempre connosco na carteira "para que nunca nos falte o dinheiro". Tem ainda a particularidade de não poder ser adquirido por nós. Tem de ser outra pessoa a oferecer-nos, neste caso, foi a minha mãe.
E anda aqui uma pessoa, na maior parte das vezes com o Santo Onofre a tomar banho nas notas e moedas do meu porta-moedas, e ele, no dia de hoje, faz-me uma desfeita destas!!!!
Oh, valha-me Santo Onofre!!!
P.S. - Quanto ao botão... bom, eu sou supersticiosa, mas não tanto. É mesmo desleixo de o coser no meu casaco verde :)
05 junho 2007
Eu tenho um Kokas!
Há os bilhetinhos, os desenhos, os cartões, os desejos de felicidades, os pedidos do número de telemóvel e e-mail para não perder contacto, há os colares tirados do pescoço para oferecer à professora, há pulseiras exclusivamente feitas para ela, há plantinhas que foram oferecidas com tanto amor que passado um ano já consegui mais meia dúzia de rebentos para plantar noutros vasos.
Há tudo isto, mas este ano eu tive um Kokas!
Era esta a maravilhosa notícia que eu tinha para contar. E ao contrário do que escrevi no post anterior, esta até me deu preocupações. Preocupações suficientes para nem me apetecer escrever no blog.
Os professores, ao longo da sua carreira, vão recolhendo despojos de guerra.
Uma guerra nem sempre ganha, mas desbravada com suor e dedicação, ambos em demasia no meu caso.
O suor é próprio da ansiedade, mas a dedicação, se é que assim se pode chamar, não é nada apropriada. Não preciso de ler muitos livros para perceber que tenho traços de personalidade obsessiva. Aquilo que eu costumo chamar de dedicação é, no fundo, um comportamento obsessivo. Não consigo parar de pensar nos miúdos, nos seus problemas e no papel que eu posso ter para resolver tudo. Como se pudesse efectivamente resolver tudo...
Sinto que dou mais do que por vezes até quero dar, faço-o sem a mínima consciência e muitas vezes contra-vontade. Mas na minha desordem obsessivo-afectiva há sempre um momento (que não é mais do que isso) em que todos os dias em que vim para casa a reclamar dos alunos, sem me conseguir calar, a chorar por causa deles, a remoer no que me disseram, a matutar no que hei-de fazer para lhes pôr um sorriso na cara, simplesmente, valeram a pena.
Posso convencer-me disto o ano inteiro, mas no fundo, no fundo, só acredito nestes breves momentos.
Não sou profissionalizada. Não estou por isso super-hiper-mega qualificada para a docência. A minha licenciatura e pós-graduação dá direito a ter apenas uma habilitação que permite dar aulas. Daí esta insegurança. Será que sou boa professora? Será que só faço asneiras com os miúdos? Será que faço pior do que aqueles que não fazem nada? Isto não me consome, mas ao longo dos anos vai produzindo os seus efeitos.
Até hoje, ou pelo menos até dia 24 de Maio, o mais que tinha obtido dos meus alunos foram os tais despojos de guerra. Finalmente, alguém percebeu a minha onda e fez o favor de atirar-me uma festa! (ou como tão bem dizem os ingleses: "throw me a party")
Eu fiz o cattering com a doçaria regional de Azeitão, eles levaram os sumos, pusemos música e fizemos uma festa de despedida à maneira, com muitas lágrimas à mistura.
No meio disto tudo, deram-me o Kokas (o sapo mais fofinho e mais fashion que existe - reparem no cachecol cor de rosa!).
Contive-me para não chorar, porque desta vez acho que ia parar ao hospital. Fiquei tão emocionada, tão comovida pela homenagem... e mais fiquei por saber que no primeiro dia que nos conhecemos eu, para eles, encarnava o Belzebu - bicho com cornos que não hesita em marcar faltas de atraso! Depois de muiiiiiiiiiita paciência para levar estas cabecinhas a bom porto, a tentar incutir-lhes bons valores e a tentar ensiná-los a conhecerem-se e a serem melhores pessoas, acabei por ter de arranjar espaço no meu coraçãozinho, já de si pequenino, para uma turminha especial.
Queria chorar em casa, tudo o que faltou chorar em plena aula, mas apareceram as preocupações. Nesse dia deixei que a inveja pudesse manchar um gesto tão bonito, o que me impediu de me sensibilizar como devia e chorar, pelo menos, três baldes de água salgada.
Nesse dia a inveja dos outros entupiu os meus canos, como se me devesse sentir culpada pelos alunos terem criado uma relação especial comigo e não com outros.
Hoje, não vou falar dessas preocupações. Tiveram o seu tempo e o seu estrago.
Hoje só merece ser lembrado o momento e o Kokas, que costuma estar por aqui, no sofá, para me manter sempre em contacto com os miúdos.
Eu sei que eles não lêem isto, mas aqui fica um enorme beijinho cheio de carinho e desejos de felicidades para a vida futura destes meninos.
E para que conste, esta turma era tão especial, que nem precisavam da festa, nem do Kokas, para ficarem comigo. Já cá estavam há muito tempo! :)
Há tudo isto, mas este ano eu tive um Kokas!
Era esta a maravilhosa notícia que eu tinha para contar. E ao contrário do que escrevi no post anterior, esta até me deu preocupações. Preocupações suficientes para nem me apetecer escrever no blog.
Os professores, ao longo da sua carreira, vão recolhendo despojos de guerra.
Uma guerra nem sempre ganha, mas desbravada com suor e dedicação, ambos em demasia no meu caso.
O suor é próprio da ansiedade, mas a dedicação, se é que assim se pode chamar, não é nada apropriada. Não preciso de ler muitos livros para perceber que tenho traços de personalidade obsessiva. Aquilo que eu costumo chamar de dedicação é, no fundo, um comportamento obsessivo. Não consigo parar de pensar nos miúdos, nos seus problemas e no papel que eu posso ter para resolver tudo. Como se pudesse efectivamente resolver tudo...
Sinto que dou mais do que por vezes até quero dar, faço-o sem a mínima consciência e muitas vezes contra-vontade. Mas na minha desordem obsessivo-afectiva há sempre um momento (que não é mais do que isso) em que todos os dias em que vim para casa a reclamar dos alunos, sem me conseguir calar, a chorar por causa deles, a remoer no que me disseram, a matutar no que hei-de fazer para lhes pôr um sorriso na cara, simplesmente, valeram a pena.
Posso convencer-me disto o ano inteiro, mas no fundo, no fundo, só acredito nestes breves momentos.
Não sou profissionalizada. Não estou por isso super-hiper-mega qualificada para a docência. A minha licenciatura e pós-graduação dá direito a ter apenas uma habilitação que permite dar aulas. Daí esta insegurança. Será que sou boa professora? Será que só faço asneiras com os miúdos? Será que faço pior do que aqueles que não fazem nada? Isto não me consome, mas ao longo dos anos vai produzindo os seus efeitos.
Até hoje, ou pelo menos até dia 24 de Maio, o mais que tinha obtido dos meus alunos foram os tais despojos de guerra. Finalmente, alguém percebeu a minha onda e fez o favor de atirar-me uma festa! (ou como tão bem dizem os ingleses: "throw me a party")
Eu fiz o cattering com a doçaria regional de Azeitão, eles levaram os sumos, pusemos música e fizemos uma festa de despedida à maneira, com muitas lágrimas à mistura.
No meio disto tudo, deram-me o Kokas (o sapo mais fofinho e mais fashion que existe - reparem no cachecol cor de rosa!).
Contive-me para não chorar, porque desta vez acho que ia parar ao hospital. Fiquei tão emocionada, tão comovida pela homenagem... e mais fiquei por saber que no primeiro dia que nos conhecemos eu, para eles, encarnava o Belzebu - bicho com cornos que não hesita em marcar faltas de atraso! Depois de muiiiiiiiiiita paciência para levar estas cabecinhas a bom porto, a tentar incutir-lhes bons valores e a tentar ensiná-los a conhecerem-se e a serem melhores pessoas, acabei por ter de arranjar espaço no meu coraçãozinho, já de si pequenino, para uma turminha especial.
Queria chorar em casa, tudo o que faltou chorar em plena aula, mas apareceram as preocupações. Nesse dia deixei que a inveja pudesse manchar um gesto tão bonito, o que me impediu de me sensibilizar como devia e chorar, pelo menos, três baldes de água salgada.
Nesse dia a inveja dos outros entupiu os meus canos, como se me devesse sentir culpada pelos alunos terem criado uma relação especial comigo e não com outros.
Hoje, não vou falar dessas preocupações. Tiveram o seu tempo e o seu estrago.
Hoje só merece ser lembrado o momento e o Kokas, que costuma estar por aqui, no sofá, para me manter sempre em contacto com os miúdos.
Eu sei que eles não lêem isto, mas aqui fica um enorme beijinho cheio de carinho e desejos de felicidades para a vida futura destes meninos.
E para que conste, esta turma era tão especial, que nem precisavam da festa, nem do Kokas, para ficarem comigo. Já cá estavam há muito tempo! :)
24 maio 2007
Tenho uma coisa para vos contar!
Sou como os miúdos. Tinha de avisar já!
Agora estou cheia de sono, mas amanhã conto.
Beijinhos
P.S. - Não estou grávida!!!! (Normalmente, as pessoas, sabe-se lá porquê, quando eu faço estes mistérios lançam sempre a do "estás grávida" ou então "vais-te casar". O que eu vou contar é uma coisa booooooaaaa, que não deu preocupações nenhumas!!!
Agora estou cheia de sono, mas amanhã conto.
Beijinhos
P.S. - Não estou grávida!!!! (Normalmente, as pessoas, sabe-se lá porquê, quando eu faço estes mistérios lançam sempre a do "estás grávida" ou então "vais-te casar". O que eu vou contar é uma coisa booooooaaaa, que não deu preocupações nenhumas!!!
17 maio 2007
Ha-ha!
Há um riso cruel... cruel como só os miúdos sabem fazer. Miúdos de todas as idades com cabeça de crianças.
Riso impiedoso, que faz de tudo uma piada, sem olhar a meios ou consequências.
Quem conhece os Simpsons (uma série que nos brinda com a "beleza" da mediocridade humana) de certo reconhece estas características numa personagem muito específica. Sim, é aquele gajo que no momento em que alguém dá barraca ele aparece do nada só para dizer: "Ha-Ha!"
Já é famoso por isso, vejam bem! Dizem que é uma frase de marca.
Fui à procura do gajo e achei-lhe o nome: Nelson Muntz. Sempre é melhor do que chamar-lhe gajo, mas a este tipo de pessoas não reservos nomes mais adequados.
Não me comem por dentro os motivos pelos quais se dá a barraca, mas revira-me do avesso testemunhar crueldades desta ordem. Nas barbas da pessoa, a gozar com ela, qual perfeição personificada.
Olhamos para o Nelson e constatamos: não é giro, não é inteligente, não é bondoso.... Bom! Não se tendo nenhum destes dons, creio que só está aqui a ocupar espaço. Apesar disso existe, e nem Matt Goening teve a dignidade de o apagar das suas pranchas. O que até é compreensível, já que o homem se dedica à mediocridade!
Os Muntz que por aí andam, à semelhança do personagem do desenho animado, preenchem um papel secundário, cujo o único brilho é a forma caricata como expressam o seu gozo: Ha-ha! E isto é o ponto alto na vida deles. À parte disso, nem aparecem na maior parte das cenas.
Fico a pensar...
O puto é que se ri, mas todos os outros é que são verdadeiros personagens, com falas que não se resumem a interjeições.
Como já devem ter reparado, sou professora de um Nelson Muntz.
Mas hoje tenho-lhe cá um pó....
15 maio 2007
Saúde e sorte!
Acabei de receber o convite para a apresentação de uma tese de uma colega de mestrado: "Prótese - Ouvinte". Surdez, portanto, é o tema.
Os cegos no metro de Lisboa pedem dinheiro a troco de uma sentença.
Há o senhor baixinho e gordinho, há uma menina de olhos cirurgicamente fechados, há uma senhora de voz doce, mas o mais exuberante de todos é o jovem (ainda lhe posso chamar jovem, porque deve ter pouco mais que a minha idade) de olhos azulados pela cegueira, com o seu batuque.
A arte é uma evolução, porque a pessoa não se contenta. Não se trata de querer fazer melhor ou mais perfeito. É apenas uma questão de satisfação. Não dizemos: "ainda não está bem" mas sim, "ainda não está como eu quero".
Ora este jovem cego, cujo nome desconheço, mas que desde já baptizo de Baltazar (não é rei mago, mas tem cara disso - de Baltazar, claro!) tem vindo a evoluir nas arte de cativar o público.
A sociedade de hoje não se comove com facilidade. Há, por isso, que pôr em prática estratégias sempre inovadoras para responder aos desafios do público.
Sempre na alternância de sons graves e agudos, tudo começou com o:
"Tenha a bondaaaaade de me auxiliaaaa-re"
Depois evoluiu para:
"Agradeço a alguéeeem, que tenha a bondaaaaade de me auxiliaaaa-re"
Veio a crise e o artista, sempre atento, reformulou:
"Agradeço a alguéeeem, que tenha a bondaaaaade, ou a possibilidaaaade, de me auxiliaaaa-re"
Mas o artista tem de seguir as tendências. Vai daí pega-se num pau e numa lata e vá de batuque. Soa menos melodioso, mas parece-me que o objectivo é esse. A todos os nobres motivos para lhe darmos uma moeda, junta-se o do secreto desejo de o fazer parar.
Ecoava desde o fundo da carruagem e nem o barulho da hora de ponta o impede de perceber que estamos a remexer na carteira para lhe dar uma moeda. Cegos? Vêem tudo, mas com outros olhos. Senão vejamos:
Tlint!
A moeda está entregue. Duvido que sozinha vá fazer milagres.
Oiço o famoso "Saúde e sorte" (ao qual a senhora de voz doce até costuma acrescentar "para si e para todos os seus") e fico cheia.
Saúde e sorte...
Eles sabem mais do que eu o que é passar pelas provações da vida e quando me agradecem não me desejam dinheiro. Apenas tudo, e somente, o que o dinheiro não pode comprar.
Além da sapiência, toca-me também o poder do desejo de um desconhecido. Os desejos ou, se quiserem, as orações, das pessoas que nos são estranhas e, por isso, isentas de benefícios colaterais, são os mais puros e poderosos. Sinto-me tocada por todos os que me desejam bem, sem sequer me conhecerem. Até a senhora do parque de campismo em Idanha que me agradeceu por eu telefonar a dizer que já ia entrar depois das 19h, com um desarmante "Bem haja!".
Bem haja??? Eu? Mas ela nem me conhece!!!
Bem sei que estas expressões se dizem da boca para fora, mas eu gosto de as levar a sério, aliás, como gosto de fazer com tudo na vida.
Isto para dizer que na carruagem do metro há muito mais cegos do que aqueles que pedem bondade dos outros; e que a riqueza, na sua maior acepção, brinda os mais sábios e não os que se são ao luxo de ter dinheiro na carteira.
Para quê a lamechice e o moralismo? -perguntam vocês.
Para explicar que a ignorância, por vezes, não tem ouvidos nem para o batuque do Baltazar.
E porque as moedas sozinhas não fazem milagres, vejam 10 minutos do Telejornal e façam um desejo comigo para um desconhecido.
De certeza que vos vai ocorrer qualquer coisa.
Os cegos no metro de Lisboa pedem dinheiro a troco de uma sentença.
Há o senhor baixinho e gordinho, há uma menina de olhos cirurgicamente fechados, há uma senhora de voz doce, mas o mais exuberante de todos é o jovem (ainda lhe posso chamar jovem, porque deve ter pouco mais que a minha idade) de olhos azulados pela cegueira, com o seu batuque.
A arte é uma evolução, porque a pessoa não se contenta. Não se trata de querer fazer melhor ou mais perfeito. É apenas uma questão de satisfação. Não dizemos: "ainda não está bem" mas sim, "ainda não está como eu quero".
Ora este jovem cego, cujo nome desconheço, mas que desde já baptizo de Baltazar (não é rei mago, mas tem cara disso - de Baltazar, claro!) tem vindo a evoluir nas arte de cativar o público.
A sociedade de hoje não se comove com facilidade. Há, por isso, que pôr em prática estratégias sempre inovadoras para responder aos desafios do público.
Sempre na alternância de sons graves e agudos, tudo começou com o:
"Tenha a bondaaaaade de me auxiliaaaa-re"
Depois evoluiu para:
"Agradeço a alguéeeem, que tenha a bondaaaaade de me auxiliaaaa-re"
Veio a crise e o artista, sempre atento, reformulou:
"Agradeço a alguéeeem, que tenha a bondaaaaade, ou a possibilidaaaade, de me auxiliaaaa-re"
Mas o artista tem de seguir as tendências. Vai daí pega-se num pau e numa lata e vá de batuque. Soa menos melodioso, mas parece-me que o objectivo é esse. A todos os nobres motivos para lhe darmos uma moeda, junta-se o do secreto desejo de o fazer parar.
Ecoava desde o fundo da carruagem e nem o barulho da hora de ponta o impede de perceber que estamos a remexer na carteira para lhe dar uma moeda. Cegos? Vêem tudo, mas com outros olhos. Senão vejamos:
Tlint!
A moeda está entregue. Duvido que sozinha vá fazer milagres.
Oiço o famoso "Saúde e sorte" (ao qual a senhora de voz doce até costuma acrescentar "para si e para todos os seus") e fico cheia.
Saúde e sorte...
Eles sabem mais do que eu o que é passar pelas provações da vida e quando me agradecem não me desejam dinheiro. Apenas tudo, e somente, o que o dinheiro não pode comprar.
Além da sapiência, toca-me também o poder do desejo de um desconhecido. Os desejos ou, se quiserem, as orações, das pessoas que nos são estranhas e, por isso, isentas de benefícios colaterais, são os mais puros e poderosos. Sinto-me tocada por todos os que me desejam bem, sem sequer me conhecerem. Até a senhora do parque de campismo em Idanha que me agradeceu por eu telefonar a dizer que já ia entrar depois das 19h, com um desarmante "Bem haja!".
Bem haja??? Eu? Mas ela nem me conhece!!!
Bem sei que estas expressões se dizem da boca para fora, mas eu gosto de as levar a sério, aliás, como gosto de fazer com tudo na vida.
Isto para dizer que na carruagem do metro há muito mais cegos do que aqueles que pedem bondade dos outros; e que a riqueza, na sua maior acepção, brinda os mais sábios e não os que se são ao luxo de ter dinheiro na carteira.
Para quê a lamechice e o moralismo? -perguntam vocês.
Para explicar que a ignorância, por vezes, não tem ouvidos nem para o batuque do Baltazar.
E porque as moedas sozinhas não fazem milagres, vejam 10 minutos do Telejornal e façam um desejo comigo para um desconhecido.
De certeza que vos vai ocorrer qualquer coisa.
07 maio 2007
O Amor é verde!
Ontem estive num casamento. Escusado será dizer que infernizei a alma para encontrar a roupa certa. Os Macdonald´s de Inverno, todos os excessos em cajus e, especialmente, as bolachas com pepitas de chocolate (o propólis só é minimanente tragável deste modo) fizeram das suas e as minhas ancas ficaram a roçar, mais do que o esperado, no vestido fabuloso cor de framboesa, que é o mesmo que dizer, da cor do meu hall de entrada.
Vai daí, e porque eu sou anormal e injustificadamente narcisista (não sou uma top model, e mesmo assim não me resisto!), tive de inventar outra vestimenta só para ter o pretexto de pagar mais uns três euros e meio por cada foto em que eu estaria maravilhosamente diferente.
Pus-me a pensar, mas a minha paleta anda muito reduzida. E depois há que combinar com o estado de espírito e com o inner glow da pessoa. Bom, não preciso dizer mais: fui da cor da sala de estar!
Wal diz comigo: "Veeeeerrrrde!?!?!?" (Adoro a pronúncia brasileira!!)
Sim, verde. Pronto. Verde Alface, mas mais intenso!
Pergunta a Cláudia:
"Mas porque não é antes a saia verde?"
E eu respondo: Porque se fosse verde a minha anca ficava com metro e meio. Assim uma saia preta em viés fez-me parecer esguia e deslubrante como já não sou há... (vamos iludir-nos e trabalhar para o amor-próprio)... uns meses.
Claramente, Luis Sttau Monteiro sabia que a Matilde era no mínimo jeitosinha, para lhe vestir uma saia verde e ainda assim não cometer um fashion disaster.
Ora então lá fui eu de verde, e lá percorri as milhentas lojas em busca da gravata no exacto tom de verde da minha camisa.
Até aqui tudo corria bem: eu tomava os comprimidos, eles faziam efeito. Mas quando chego à Igreja e vejo pequenas margaridas verdes, arranjos embrulhados em juta verde e a gravata do noivo (deixem-me manter o suspense!)... verde, paniquei! (do verbo panicar, exclusivamente inventado para a minha pessoa e tendo em conta a minha condição de pirada!).
Mas isto não foi nada. Tanto tempo perdido só para a minha toillete de casal ser igual à decoração da igreja e do noivo?? Nahhh! A ironia agudizou-se quando eu vejo entrar pela igreja adentro uma camisa, verde, igual à minha, vestida numa rapariga morena que, curiosamente, não era eu!!
Oh, crueldade dos céus!!!!! Que mal fiz eu?????? À maneira da mais pura tragédia grega, os deuses brincaram com a minha ansiedade, mas a apoteose... ainda estava por vir.
Copo de água: Entro no salão maravilhosamente decorado de... (lancem as vossas apostas, e quem disse verde ganhou!) verde, verde da minha camisa. Há lá melhor pontaria que esta? Vir a combinar com a Igreja, o noivo e a sala do copo de água???
Claro que há! Há a pontaria de acertar nisto tudo e os noivos fazerem o favor de acertar nas duas pessoas com camisas iguais verdes no mesmo casamento verde e colocá-las na mesma mesa para elas ficarem verdes de vergonha!
Nem podia acreditar! Que cena mais constrangedora esta, de termos de nos encarar, sorrir e fingir que não reparámos na absurda coincidência. Mas não foi isto que aconteceu.
Brincando os deuses comigo, zombei eu das suas brincadeiras:
Dirijo-me alegremente à rapariga e sorrindo no ar mais descontraído disse-lhe:
"- Olhe, eu vou-me sentar na ponta oposta da mesa que é para não nos confundirem, está bem?"
Dá a mesma sensação de pisar um cocó de cão e fingir que é só pastilha elástica.
Pensam que terminei por aqui???
Claro que não. Mostraram os deuses alguma piedade por uma pobre rapariga de verde desgraçadamente ansiosa? Não.
Manda vir o fotógrafo!
- Piiccht! Olhe, faz o favor? - e voltando-me para a rapariga - Não se importa? Temos de registar isto para a posteridade!!
Da parte dela um sorriso, vá lá, amarelo, que se podia traduzir bem pela expressão "que remédio!"
E foi assim, com um disparo, que assassinei qualquer réstia de ansiedade.
Isto tudo porque, pelos vistos, o amor é verde.
E, por vezes, consegue desafinar tanto como a Natália de Andrade.
P.S. - Um beijinho para a Wal e para a Cláudia e um brinde às nossas conversas sobre verde.
P.S. 1 - Se encontrarem o mp3 da Natália de Andrade com "O nosso amor é verde", entrem em contacto comigo, porque é uma pérola que gostaria de guardar.
P.S. 2 - Quando o convite de casamento tiver um envelope de cor, desconfiem desde logo que será essa a escolhida para a decoração da festa de casamento. Eu não soube ler a dica.
P.S. 3 - Quando vierem as fotografias, claro que eu vou colocar aqui no blog.
P.S. 4 - Estavam duas raparigas de camisas iguais verdes no casamento. Mas eu era a mais gira! ;P
Vai daí, e porque eu sou anormal e injustificadamente narcisista (não sou uma top model, e mesmo assim não me resisto!), tive de inventar outra vestimenta só para ter o pretexto de pagar mais uns três euros e meio por cada foto em que eu estaria maravilhosamente diferente.
Pus-me a pensar, mas a minha paleta anda muito reduzida. E depois há que combinar com o estado de espírito e com o inner glow da pessoa. Bom, não preciso dizer mais: fui da cor da sala de estar!
Wal diz comigo: "Veeeeerrrrde!?!?!?" (Adoro a pronúncia brasileira!!)
Sim, verde. Pronto. Verde Alface, mas mais intenso!
Pergunta a Cláudia:
"Mas porque não é antes a saia verde?"
E eu respondo: Porque se fosse verde a minha anca ficava com metro e meio. Assim uma saia preta em viés fez-me parecer esguia e deslubrante como já não sou há... (vamos iludir-nos e trabalhar para o amor-próprio)... uns meses.
Claramente, Luis Sttau Monteiro sabia que a Matilde era no mínimo jeitosinha, para lhe vestir uma saia verde e ainda assim não cometer um fashion disaster.
Ora então lá fui eu de verde, e lá percorri as milhentas lojas em busca da gravata no exacto tom de verde da minha camisa.
Até aqui tudo corria bem: eu tomava os comprimidos, eles faziam efeito. Mas quando chego à Igreja e vejo pequenas margaridas verdes, arranjos embrulhados em juta verde e a gravata do noivo (deixem-me manter o suspense!)... verde, paniquei! (do verbo panicar, exclusivamente inventado para a minha pessoa e tendo em conta a minha condição de pirada!).
Mas isto não foi nada. Tanto tempo perdido só para a minha toillete de casal ser igual à decoração da igreja e do noivo?? Nahhh! A ironia agudizou-se quando eu vejo entrar pela igreja adentro uma camisa, verde, igual à minha, vestida numa rapariga morena que, curiosamente, não era eu!!
Oh, crueldade dos céus!!!!! Que mal fiz eu?????? À maneira da mais pura tragédia grega, os deuses brincaram com a minha ansiedade, mas a apoteose... ainda estava por vir.
Copo de água: Entro no salão maravilhosamente decorado de... (lancem as vossas apostas, e quem disse verde ganhou!) verde, verde da minha camisa. Há lá melhor pontaria que esta? Vir a combinar com a Igreja, o noivo e a sala do copo de água???
Claro que há! Há a pontaria de acertar nisto tudo e os noivos fazerem o favor de acertar nas duas pessoas com camisas iguais verdes no mesmo casamento verde e colocá-las na mesma mesa para elas ficarem verdes de vergonha!
Nem podia acreditar! Que cena mais constrangedora esta, de termos de nos encarar, sorrir e fingir que não reparámos na absurda coincidência. Mas não foi isto que aconteceu.
Brincando os deuses comigo, zombei eu das suas brincadeiras:
Dirijo-me alegremente à rapariga e sorrindo no ar mais descontraído disse-lhe:
"- Olhe, eu vou-me sentar na ponta oposta da mesa que é para não nos confundirem, está bem?"
Dá a mesma sensação de pisar um cocó de cão e fingir que é só pastilha elástica.
Pensam que terminei por aqui???
Claro que não. Mostraram os deuses alguma piedade por uma pobre rapariga de verde desgraçadamente ansiosa? Não.
Manda vir o fotógrafo!
- Piiccht! Olhe, faz o favor? - e voltando-me para a rapariga - Não se importa? Temos de registar isto para a posteridade!!
Da parte dela um sorriso, vá lá, amarelo, que se podia traduzir bem pela expressão "que remédio!"
E foi assim, com um disparo, que assassinei qualquer réstia de ansiedade.
Isto tudo porque, pelos vistos, o amor é verde.
E, por vezes, consegue desafinar tanto como a Natália de Andrade.
P.S. - Um beijinho para a Wal e para a Cláudia e um brinde às nossas conversas sobre verde.
P.S. 1 - Se encontrarem o mp3 da Natália de Andrade com "O nosso amor é verde", entrem em contacto comigo, porque é uma pérola que gostaria de guardar.
P.S. 2 - Quando o convite de casamento tiver um envelope de cor, desconfiem desde logo que será essa a escolhida para a decoração da festa de casamento. Eu não soube ler a dica.
P.S. 3 - Quando vierem as fotografias, claro que eu vou colocar aqui no blog.
P.S. 4 - Estavam duas raparigas de camisas iguais verdes no casamento. Mas eu era a mais gira! ;P
28 abril 2007
Alprazolam: o "vá para fora cá dentro" da minha mente!
Alprazolam.
Nome sem nexo, que não diz nada a não ser uma sentença.
Que raio é Alprazolam?
Nos dias de hoje, em meia dúzia de cliques consegue-se saber tudo, inclusive que Alprazolam é o princípio activo de muitos ansiolíticos, presente também no Xanax.
Eu ando a tomar o genérico do Xanax??
Por estúpido que pareça, saber disto deixa-me ainda mais ansiosa. Mas não o suficiente para me passar dos carretos, como de costume.
Passadas quase duas semanas de tratamento, decidi fazer um ponto da situação: quando antes me stressava por tudo e por nada e, muitas vezes, sem saber porquê, agora deixo-me apenas embalar nas ondas de uma serenidade generalizada. Claro que continuo com picos de nervos, mas sinto-os como os apitos dos barcos ao longe na costa. Estou tão deliciada a curtir a onda que nem dá para me preocupar.
Cada dia que passa é mais um dia de férias que dou ao meu coração, à minha cabeça e ao meu sistema nervoso.
Um dia de férias, cheio de sol, com água quentinha de fazer tomar banho até engelhar os dedos das mãos e dos pés.
Alprazolam não é a minha cura milagrosa. É tipo férias no Algarve, em pleno Verão, em boa companhia, em que os únicos ataques de suores se devem apenas às vagas de calor, e as crises de pânico só por não ter posto o protector solar no peito dos pés (!).
Nome sem nexo, que não diz nada a não ser uma sentença.
Que raio é Alprazolam?
Nos dias de hoje, em meia dúzia de cliques consegue-se saber tudo, inclusive que Alprazolam é o princípio activo de muitos ansiolíticos, presente também no Xanax.
Eu ando a tomar o genérico do Xanax??
Por estúpido que pareça, saber disto deixa-me ainda mais ansiosa. Mas não o suficiente para me passar dos carretos, como de costume.
Passadas quase duas semanas de tratamento, decidi fazer um ponto da situação: quando antes me stressava por tudo e por nada e, muitas vezes, sem saber porquê, agora deixo-me apenas embalar nas ondas de uma serenidade generalizada. Claro que continuo com picos de nervos, mas sinto-os como os apitos dos barcos ao longe na costa. Estou tão deliciada a curtir a onda que nem dá para me preocupar.
Cada dia que passa é mais um dia de férias que dou ao meu coração, à minha cabeça e ao meu sistema nervoso.
Um dia de férias, cheio de sol, com água quentinha de fazer tomar banho até engelhar os dedos das mãos e dos pés.
Alprazolam não é a minha cura milagrosa. É tipo férias no Algarve, em pleno Verão, em boa companhia, em que os únicos ataques de suores se devem apenas às vagas de calor, e as crises de pânico só por não ter posto o protector solar no peito dos pés (!).
20 abril 2007
Tou pirada!!!
Bate leve, levemente
Como uma coisa ruim
Será álcool?
Será gente?
Porra, nem a coca bate assim!
Fui ao médico:
Era ansiedade.
Eu sempre tive pancada, não é de agora. Agravou-se com a faculdade e piorou com o ano curricular do mestrado, em que estive a leccionar em 3 escolas de 3 distritos diferentes no mesmo ano lectivo.
Lá fui eu, toda convencida que mais umas caixinhas de Valdispert fariam o jeito. O calmante é natural mas já só me fazia efeito aos 6 por dia (não stressem, porque é fraquinho!). Quando contei os ataques de pânico, as tendências anti-sociais e os sintomas psicossomáticos, a médica fez aquela cara que os adultos costumam fazer às crianças antes de lhes darem uma colher de óleo de fígado de bacalhau. Lembram-se? É do estilo: "Tem de ser!"
Receitou-me um ansiolítíco e quando eu perguntei se era preciso fazer desmame, a médica estava mais preocupada em frisar que daqui a 3 meses até posso vir a aumentar a dose.
Cheguei a casa e chorei, claro. Ninguém gosta de saber que tem um sistema nervoso parassimpático (sim, que de simpático não tem nada), sobre o qual não se tem qualquer controlo racional, que pode desencadear sintomas embaraçosos como suar excessivamente e originar enormes manchas vermelhas no peito (a ponto de os alunos pensarem que tinha sido um escaldão, vejam bem!!).
"Tens de te mentalizar que tens de viver com isso" dizia ela. "Isso" são as pancadas do meu sistema. Máximo dos máximos posso adormecê-lo um bocadinho, mas não é coisa que se cure.
Boa!
Apesar de tudo, estou a ver os próximos 3 meses como umas férias para os meus nervos. São 3 meses em que poupo o meu coraçãozinho de bater descontroladamente fora das aulas de ginástica. Em que me vão dizer: "O quê? Ainda não fizeste o Projecto Curricular de Turma? Estás despedida!" e eu vou estar demasiado zen para entrar em paranóia com isso.
O meu problema com a ansiedade é eu pensar a 100 à hora e escalar de desgraça em desgraça. Quando penso que tenho alguma coisa para fazer, logo me ocorre que não tenho tempo, que talvez não consiga fazê-lo, que não tenho capacidades, e que as minhas chefias me vão questionar por isso, e que eu vou passar a vergonha de lhes dizer que não consigo dar conta do recado, e que elas me vão despedir e dizer "não serves para nada", e que eu assim não vou conseguir arranjar outro emprego, e que vou morrer à fome.
Agora com os comprimidinhos só tenho é sono, por que ainda estou na fase de adaptação e quando penso que tenho alguma coisa para fazer... faço-a, porque nem tenho cabeça para me pôr a pensar em mais do que isso.
É um descanso!!
Tenho três meses pela frente de time out. Que delícia! Poder viver sem ter a perspectiva de fim do mundo no horizonte dos meus dias!
:)
Como uma coisa ruim
Será álcool?
Será gente?
Porra, nem a coca bate assim!
Fui ao médico:
Era ansiedade.
Eu sempre tive pancada, não é de agora. Agravou-se com a faculdade e piorou com o ano curricular do mestrado, em que estive a leccionar em 3 escolas de 3 distritos diferentes no mesmo ano lectivo.
Lá fui eu, toda convencida que mais umas caixinhas de Valdispert fariam o jeito. O calmante é natural mas já só me fazia efeito aos 6 por dia (não stressem, porque é fraquinho!). Quando contei os ataques de pânico, as tendências anti-sociais e os sintomas psicossomáticos, a médica fez aquela cara que os adultos costumam fazer às crianças antes de lhes darem uma colher de óleo de fígado de bacalhau. Lembram-se? É do estilo: "Tem de ser!"
Receitou-me um ansiolítíco e quando eu perguntei se era preciso fazer desmame, a médica estava mais preocupada em frisar que daqui a 3 meses até posso vir a aumentar a dose.
Cheguei a casa e chorei, claro. Ninguém gosta de saber que tem um sistema nervoso parassimpático (sim, que de simpático não tem nada), sobre o qual não se tem qualquer controlo racional, que pode desencadear sintomas embaraçosos como suar excessivamente e originar enormes manchas vermelhas no peito (a ponto de os alunos pensarem que tinha sido um escaldão, vejam bem!!).
"Tens de te mentalizar que tens de viver com isso" dizia ela. "Isso" são as pancadas do meu sistema. Máximo dos máximos posso adormecê-lo um bocadinho, mas não é coisa que se cure.
Boa!
Apesar de tudo, estou a ver os próximos 3 meses como umas férias para os meus nervos. São 3 meses em que poupo o meu coraçãozinho de bater descontroladamente fora das aulas de ginástica. Em que me vão dizer: "O quê? Ainda não fizeste o Projecto Curricular de Turma? Estás despedida!" e eu vou estar demasiado zen para entrar em paranóia com isso.
O meu problema com a ansiedade é eu pensar a 100 à hora e escalar de desgraça em desgraça. Quando penso que tenho alguma coisa para fazer, logo me ocorre que não tenho tempo, que talvez não consiga fazê-lo, que não tenho capacidades, e que as minhas chefias me vão questionar por isso, e que eu vou passar a vergonha de lhes dizer que não consigo dar conta do recado, e que elas me vão despedir e dizer "não serves para nada", e que eu assim não vou conseguir arranjar outro emprego, e que vou morrer à fome.
Agora com os comprimidinhos só tenho é sono, por que ainda estou na fase de adaptação e quando penso que tenho alguma coisa para fazer... faço-a, porque nem tenho cabeça para me pôr a pensar em mais do que isso.
É um descanso!!
Tenho três meses pela frente de time out. Que delícia! Poder viver sem ter a perspectiva de fim do mundo no horizonte dos meus dias!
:)
12 abril 2007
E as ervas daninhas crescem...
Descobri esta semana o que já andava a desconfiar há algum tempo. O blog é um programa de entretenimento (pessoal) e não pode ser um muro de lamentações, onde entalo religiosamente os papelinhos dos meus cochichos.
Depois de ter sido descoberta no início do ano lectivo pelos meus alunos no Hi5, coisa que já nem me lembrava de me ter registado, fiquei muito céptica em relação à minha exposição no mundo virtual.
Isto até parece piada - eu que me escarrapacho toda nos cochichos - mas é um facto que tudo o que aqui digo pode ser lido por qualquer pessoa. E assim podia acontecer inofensivamente, se não houvesse pessoas com más intenções, e essas bem podem utilizar os meus cochichos como arma de arremesso.
Isto para dizer...
Isto para dizer tanta coisa, que não pode ser dita nestes termos.
Lembro-me dos cadernos e diários gráficos que carregava na faculdade, onde desabafava o que me ia na alma fosse onde fosse. Escrevia sem acanhamento, porque aquelas palavras destinavam-se só aos meus olhos. Dizia tudo de uma maneira pura, sem censuras, a cru.
O blog permite apagar, fazer um preview, acertar o parágrafo e os espaços... mas nunca num blog vou poder manchar as letras com lágrimas, como antigamente o fazia. Pequenas bolas que desbotam a tinta da caneta, desfocando as palavras acabadinhas de escrever.
Eu falava para mim: o literal "one woman show".
Ralhava comigo e dizia: "Ana Sofia, vê se aprendes!"
Odeio que me chamem por Ana Sofia, e no entanto é assim que me chamo, claro, quando ralho comigo!
Isto para dizer...
Isto para dizer que me apetecia escrever muita coisa, numa forma muito específica, mas ao pensar nas consequências, no que pode acontecer... Afinal isto é público. Quando Sócrates emendou o documento para a sua biografia não sonhava que ele hoje estaria escarrapachado nos jornais, não é? Eu, graças a Deus e a alguma réstia de sanidade, não sou primeira-ministra. Mas ser professora, à minha escala, reflecte a mesma visibilidade. Sou alguma espécie de autoridade, e as autoridades conservam-se com uma determinada imagem recatada, contida, por vezes grandiosa. Qualquer gaffe custa-nos a reputação. Porque os miúdos serão sempre miúdos e eles vivem dessas coisinhas, onde por momentos se sentem a dominar.
Isto para dizer...
que não disse nada e já disse demais.
Não me posso queixar de nada, mas a minha cabeça tortura-me com as mais ínfimas coisas. Consigo infernizar a minha própria vida e vivê-la com uma intensidade já patológica. Mas há tantas coisas, daquelas pequeninas, que apetece escrever, mas que só a mim pertencem e fazem sentido. Não posso, por isso, fingir que neste blog escrevo só para mim. Não nego que nos meus caderninhos também não escrevia só para mim. Muitas das vezes dirigia-me ao leitor, como se fosse alguém diferente da minha pessoa (!).
Isto para dizer...
Isto para dizer que as papoilas, no verde, remam contra a corrente. A papoila é uma flor que traduzida em pessoa, estaria descalça, de saia vermelha ao vento. A papoila alta e esguia tem um ar altivo, quase arrogante. Quando olho para elas entre o verde da paisagem vejo flores despeitadas, que contra tudo e todos se erguem desempoeiradas (como adoro este termo!) sem pedir autorização nem desculpa a ninguém.
Olho para as papoilas todos os dias e apetece-me ficar ali com elas, a bambolear-me, e a chatear as ervas daninhas por não ceder na cor.
Gostava mais de ser papoila.
Não sou.
E as ervas daninhas crescem...
Depois de ter sido descoberta no início do ano lectivo pelos meus alunos no Hi5, coisa que já nem me lembrava de me ter registado, fiquei muito céptica em relação à minha exposição no mundo virtual.
Isto até parece piada - eu que me escarrapacho toda nos cochichos - mas é um facto que tudo o que aqui digo pode ser lido por qualquer pessoa. E assim podia acontecer inofensivamente, se não houvesse pessoas com más intenções, e essas bem podem utilizar os meus cochichos como arma de arremesso.
Isto para dizer...
Isto para dizer tanta coisa, que não pode ser dita nestes termos.
Lembro-me dos cadernos e diários gráficos que carregava na faculdade, onde desabafava o que me ia na alma fosse onde fosse. Escrevia sem acanhamento, porque aquelas palavras destinavam-se só aos meus olhos. Dizia tudo de uma maneira pura, sem censuras, a cru.
O blog permite apagar, fazer um preview, acertar o parágrafo e os espaços... mas nunca num blog vou poder manchar as letras com lágrimas, como antigamente o fazia. Pequenas bolas que desbotam a tinta da caneta, desfocando as palavras acabadinhas de escrever.
Eu falava para mim: o literal "one woman show".
Ralhava comigo e dizia: "Ana Sofia, vê se aprendes!"
Odeio que me chamem por Ana Sofia, e no entanto é assim que me chamo, claro, quando ralho comigo!
Isto para dizer...
Isto para dizer que me apetecia escrever muita coisa, numa forma muito específica, mas ao pensar nas consequências, no que pode acontecer... Afinal isto é público. Quando Sócrates emendou o documento para a sua biografia não sonhava que ele hoje estaria escarrapachado nos jornais, não é? Eu, graças a Deus e a alguma réstia de sanidade, não sou primeira-ministra. Mas ser professora, à minha escala, reflecte a mesma visibilidade. Sou alguma espécie de autoridade, e as autoridades conservam-se com uma determinada imagem recatada, contida, por vezes grandiosa. Qualquer gaffe custa-nos a reputação. Porque os miúdos serão sempre miúdos e eles vivem dessas coisinhas, onde por momentos se sentem a dominar.
Isto para dizer...
que não disse nada e já disse demais.
Não me posso queixar de nada, mas a minha cabeça tortura-me com as mais ínfimas coisas. Consigo infernizar a minha própria vida e vivê-la com uma intensidade já patológica. Mas há tantas coisas, daquelas pequeninas, que apetece escrever, mas que só a mim pertencem e fazem sentido. Não posso, por isso, fingir que neste blog escrevo só para mim. Não nego que nos meus caderninhos também não escrevia só para mim. Muitas das vezes dirigia-me ao leitor, como se fosse alguém diferente da minha pessoa (!).
Isto para dizer...
Isto para dizer que as papoilas, no verde, remam contra a corrente. A papoila é uma flor que traduzida em pessoa, estaria descalça, de saia vermelha ao vento. A papoila alta e esguia tem um ar altivo, quase arrogante. Quando olho para elas entre o verde da paisagem vejo flores despeitadas, que contra tudo e todos se erguem desempoeiradas (como adoro este termo!) sem pedir autorização nem desculpa a ninguém.
Olho para as papoilas todos os dias e apetece-me ficar ali com elas, a bambolear-me, e a chatear as ervas daninhas por não ceder na cor.
Gostava mais de ser papoila.
Não sou.
E as ervas daninhas crescem...
07 abril 2007
Levanta-te e anda!
Esta era a frase que me ocorria quando tirei a foto, algures perdida entre Segura e o Rio Erges, no Parque Natural do Tejo Internacional.
As caminhadas no concelho de Idanha-a-Nova, refrescam-me o espírito e põe-me fresquinha para a última etapa lectiva, já prestes a começar.
Foram 20 km no fim de semana passado e ontem a afamada subida à serra da Arrábida. Já tenho os pecados todos pagos para o resto do ano!
Apesar do esforço, o que é facto é que stress é palavra que desapareceu do meu dicionário. E uma nova força de vontade toma conta de mim, para pôr mãos ao trabalho.
Que se lixem as preocupações, os receios, as hesitações. Há coisas maravilhosas neste mundo e nós nem damos por elas.
Parar para choramingar no caminho, a dizer coisas como: "Doem-me os pés, especialmente os dedos grandes e o mindinho do lado esquerdo!"; "Doem-me os glúteos por causa da aula do Diogo!"; "Está a chover a potes e nós não conseguimos achar uma árvore para nos abrigar!"; "Tenho fome e a comida acabou!"; "As vacas não têm cerca e estão a olhar para nós!"; "Quero tomar um banho!"; "Esqueci-me do bastão de caminhada no carro!"... são tudo coisas que não valem de nada. Choramingar para quê? Vamos ter de acabar a jornada e parar no caminho só nos vai atrasar mais.
Por isso, e porque eu choramingo por tudo e por nada (por ter fome, ter sede, ter sono, ter dor de cabeça, ter frio, por estar mal disposta, por as pilhas da máquina fotográfica terem acabado...) aqui fica a minha liçãozinha do dia:
Levanta-te e anda!
;)
As caminhadas no concelho de Idanha-a-Nova, refrescam-me o espírito e põe-me fresquinha para a última etapa lectiva, já prestes a começar.
Foram 20 km no fim de semana passado e ontem a afamada subida à serra da Arrábida. Já tenho os pecados todos pagos para o resto do ano!
Apesar do esforço, o que é facto é que stress é palavra que desapareceu do meu dicionário. E uma nova força de vontade toma conta de mim, para pôr mãos ao trabalho.
Que se lixem as preocupações, os receios, as hesitações. Há coisas maravilhosas neste mundo e nós nem damos por elas.
Parar para choramingar no caminho, a dizer coisas como: "Doem-me os pés, especialmente os dedos grandes e o mindinho do lado esquerdo!"; "Doem-me os glúteos por causa da aula do Diogo!"; "Está a chover a potes e nós não conseguimos achar uma árvore para nos abrigar!"; "Tenho fome e a comida acabou!"; "As vacas não têm cerca e estão a olhar para nós!"; "Quero tomar um banho!"; "Esqueci-me do bastão de caminhada no carro!"... são tudo coisas que não valem de nada. Choramingar para quê? Vamos ter de acabar a jornada e parar no caminho só nos vai atrasar mais.
Por isso, e porque eu choramingo por tudo e por nada (por ter fome, ter sede, ter sono, ter dor de cabeça, ter frio, por estar mal disposta, por as pilhas da máquina fotográfica terem acabado...) aqui fica a minha liçãozinha do dia:
Levanta-te e anda!
;)
26 março 2007
"Os Grandes Emigrantes"
Vi "Os Grandes Portugueses" e pus-me a pensar:
O nome do concurso é tendencioso: não há Grandes Portuguesas??? Como é possível que a lista de finalistas não inclua nenhuma??
Por trás de um grande português há sempre uma portuguesa espectacular, mas quem vive na sombra não tem direito aos holofotes. Porém, é na sombra que tudo se congemina e até o mundo nasceu da escuridão. Ver a mulher como a Origem é perigoso, pois dá-lhe um poder indesejado por muitos.
Na Bíblia o homem é a origem. Vem explícito, com todas as letras. Acontece que Adão é feito a partir de um pedaço de barro. Barro é terra, e terra é matéria. "Mãe" e "matéria" derivam da mesma palavra do latim: "mater". Mãe é a origem, porque é donde se nasce.
Isto, obviamente, não vem explícito com todas as letras e, como tal, é tratado como "Diz que é uma espécie de Código da Vinci". (Eu hoje estou muito domingueira!).
De "origem", os livros concederam apenas uma referência à mulher: a do pecado original. Sim, porque se ela tinha de ser a primeira nalguma coisa era a fazer asneira! Como se o hábito de catrapiscar a fruta dos outros fosse exclusivamente feminino!
Bom, adiante! Que isto é problema da humanidade e não só dos portugueses.
Lembrei-me então que, sendo Portugal um país pequeno, qualquer Grande Português não podia cá caber. E teria de abrir os seus horizontes, porque o país é de vistas curtas.
A próxima aposta da RTP devia ser "Os Grandes Emigrantes".
O pessoal em Portugal não emigra: pira-se.
E como pirar tanto dá para fugir como para dar em doido, aqui ficam uns nomes cuja classificação deixo ao vosso critério:
- Paula Rego (se ela ao menos articulasse um discurso com o mesmo vigor e coerência plástica da sua pintura....)
- Joaquim de Almeida (em Portugal tinha cara de pelintra, nos EUA é gangster - a isto se chama subir na vida)
- D. Sebastião (não me venham com tretas, o homem estava a ver o caso mal parado e deu à sola! A história do nevoeiro é só para enganar!)
- Durão Barroso (este nem precisou de inventar nevoeiro nenhum!)
- Carmem Miranda (é muiiiiiiiita fruta!!!)
- José Saramago (o homem não é emigrante, ele passa é férias nas Canárias o ano todo!!)
- Tony Carreira (claro, obviamente, o rei entre os emigrantes!)
Emigrar não tem a ver com gostar ou não deste cantinho à beira mar plantado. É simplesmente o reconhecer de que é o próprio país que estabelece impedimentos e coloca obstáculos ao nosso desenvolvimento pessoal e/ou profissional. Na prática é como sair de casa dos pais, mas à escala nacional.
Aqui fica, portanto, a minha homenagem a todos os que saíram para terem uma vida melhor, mesmo fazendo o sacrifício de abdicar de uma das gastronomias mais consensuais do mundo!
E um beijinho especial para os meus amigos emigrantes, que se piraram para a Holanda e para a Alemanha: fico à espera do dia em que será Portugal a beneficiar do vosso talento. ;)
O nome do concurso é tendencioso: não há Grandes Portuguesas??? Como é possível que a lista de finalistas não inclua nenhuma??
Por trás de um grande português há sempre uma portuguesa espectacular, mas quem vive na sombra não tem direito aos holofotes. Porém, é na sombra que tudo se congemina e até o mundo nasceu da escuridão. Ver a mulher como a Origem é perigoso, pois dá-lhe um poder indesejado por muitos.
Na Bíblia o homem é a origem. Vem explícito, com todas as letras. Acontece que Adão é feito a partir de um pedaço de barro. Barro é terra, e terra é matéria. "Mãe" e "matéria" derivam da mesma palavra do latim: "mater". Mãe é a origem, porque é donde se nasce.
Isto, obviamente, não vem explícito com todas as letras e, como tal, é tratado como "Diz que é uma espécie de Código da Vinci". (Eu hoje estou muito domingueira!).
De "origem", os livros concederam apenas uma referência à mulher: a do pecado original. Sim, porque se ela tinha de ser a primeira nalguma coisa era a fazer asneira! Como se o hábito de catrapiscar a fruta dos outros fosse exclusivamente feminino!
Bom, adiante! Que isto é problema da humanidade e não só dos portugueses.
Lembrei-me então que, sendo Portugal um país pequeno, qualquer Grande Português não podia cá caber. E teria de abrir os seus horizontes, porque o país é de vistas curtas.
A próxima aposta da RTP devia ser "Os Grandes Emigrantes".
O pessoal em Portugal não emigra: pira-se.
E como pirar tanto dá para fugir como para dar em doido, aqui ficam uns nomes cuja classificação deixo ao vosso critério:
- Paula Rego (se ela ao menos articulasse um discurso com o mesmo vigor e coerência plástica da sua pintura....)
- Joaquim de Almeida (em Portugal tinha cara de pelintra, nos EUA é gangster - a isto se chama subir na vida)
- D. Sebastião (não me venham com tretas, o homem estava a ver o caso mal parado e deu à sola! A história do nevoeiro é só para enganar!)
- Durão Barroso (este nem precisou de inventar nevoeiro nenhum!)
- Carmem Miranda (é muiiiiiiiita fruta!!!)
- José Saramago (o homem não é emigrante, ele passa é férias nas Canárias o ano todo!!)
- Tony Carreira (claro, obviamente, o rei entre os emigrantes!)
Emigrar não tem a ver com gostar ou não deste cantinho à beira mar plantado. É simplesmente o reconhecer de que é o próprio país que estabelece impedimentos e coloca obstáculos ao nosso desenvolvimento pessoal e/ou profissional. Na prática é como sair de casa dos pais, mas à escala nacional.
Aqui fica, portanto, a minha homenagem a todos os que saíram para terem uma vida melhor, mesmo fazendo o sacrifício de abdicar de uma das gastronomias mais consensuais do mundo!
E um beijinho especial para os meus amigos emigrantes, que se piraram para a Holanda e para a Alemanha: fico à espera do dia em que será Portugal a beneficiar do vosso talento. ;)
23 março 2007
Inauguração oficial da Primavera 2007!
A Primavera chegou e as aulas acabaram.
É uma festa!
Vem aí a tão ansiada pausa para ganhar forças para a recta final do 3º período. Estou a delirar de expectativa (com as mini-férias, claro!).
Vou promover, mais uma vez, o contacto com a Natureza na afamada subida à Serra da Arrábida, na Sexta-feira Santa. A malta já está há um ano à espera disto. Esperemos que desta vez o tempo ajude e ainda possamos distrufar de uns banhos de sol. No ano passado até chuva apanhámos.
Bom, isto promete. Por isso reservem já a vossa 6ª feira para o passeio mais "espiritual" aqui da zona. Recordo que "espiritual" é sinónimo de "radical ao ponto de rezarmos aos santinhos todos!
'Tou a brincar!!!!!
É uma galhofada e o melhor é que desbasta as calorias todas para nos enfrascarmos em Ferreros no Domingo de Páscoa!
Está feito o pré-aviso!
Beijocas
É uma festa!
Vem aí a tão ansiada pausa para ganhar forças para a recta final do 3º período. Estou a delirar de expectativa (com as mini-férias, claro!).
Vou promover, mais uma vez, o contacto com a Natureza na afamada subida à Serra da Arrábida, na Sexta-feira Santa. A malta já está há um ano à espera disto. Esperemos que desta vez o tempo ajude e ainda possamos distrufar de uns banhos de sol. No ano passado até chuva apanhámos.
Bom, isto promete. Por isso reservem já a vossa 6ª feira para o passeio mais "espiritual" aqui da zona. Recordo que "espiritual" é sinónimo de "radical ao ponto de rezarmos aos santinhos todos!
'Tou a brincar!!!!!
É uma galhofada e o melhor é que desbasta as calorias todas para nos enfrascarmos em Ferreros no Domingo de Páscoa!
Está feito o pré-aviso!
Beijocas
20 março 2007
Cochicho de uma noite de Inverno
Apetece-me cochichar de mansinho. E não sei o que dizer. Tudo parece atropelar-se num nó cego da garganta...
Estou calada, mas apetece-me falar.
Escrevo, mas não sei o que dizer.
Sinto-me triste, mas não consigo chorar.
Quero comer, mas não tenho fome.
Devia dormir e não tenho sono.
Eterna balança, vivo sempre em dois pólos. Aquele em que estou bem, sorridente, bem disposta, animada, optimista, divertida, dinâmica, activa e motivada. O outro... bom, no outro estou apenas (apenas!...) depressiva. Como estou agora.
Não é uma condição má. Não no grau em que está agora. Para mim, desde há muito que aprendi a viver esta condição como necessária. Um pouco de amargo, para sentir melhor o doce do mel.
As palavras parecem-me fazer sentido, mas porque será que não as sinto?
Falo comigo e digo a mim própria coisas que só esperaria ouvir de um psicanalista, com a diferença que eu não cobro balúrdios e trago o sofá sempre comigo. Tudo o que me digo faz sentido, mas porque não me dou ouvidos?
Porque a tristeza é um vício, tanto maior quanto menos pensado é. Queremos disfrutar da tristeza, queremos chafurdar na nossa melancolia e viver orgulhosamente com estes espinhos de dor cravados no nosso âmago.
Pronto, ok. Sem os espinhos.
Vivemos só orgulhosamente na merda.
O calão diz tudo. Não porque a palavra encerre muitos sentidos, mas porque a utilizamos de muitas maneiras e para muitos fins. E é nos fins menos próprios que a palavra parece realizar-se em pleno.
Estou na merda.
...
Não, não é assim que faço o diagnóstico.
Normalmente junto três palavrinhas fatais e digo de mim para mim:
Não estou bem.
Não estar bem não é estar na merda, mas quando o digo é porque já lá estou há algum tempo e só agora percebi.
Quero lá então saber se estou só com a merda pelos tornozelos ou se já tomei banho até à ponta dos cabelos. Uma vez na merda só pensamos em tudo o que nos faz sentir mal. Mais merda, menos merda, não vai fazer diferença e já que estamos tristes sem saber, o melhor é mesmo arranjar um pretexto, ou todos os que nos possamos lembrar.
E hoje lembrei-me que:
Tenho medo de ter feito erros irremediáveis pela vida fora.
Tenho medo de não ser a pessoa que acredito ou quero ser.
Tenho medo das doenças, dos hospitais, de morrer sem ninguém ao pé...(finalmente, estou a chorar! Oh, como eu precisava disto...).
Tenho medo de não poder ter filhos, mas...
Tenho medo de os ter e não ser uma boa mãe para eles.
Tenho medo de esquecer as pessoas só por estarem mortas e de esquecer todas as pequeninas coisas que fizeram o meu quotidiano com elas.
Tenho medo de... viver a minha vida alegremente e chegar ao fim e pensar que não era nada disto que eu queria viver.
Só temos uma vida, depois é GAME OVER.
Não nos podemos dar ao luxo de errar, não nos podemos dar ao luxo de desperdiçar um minuto.
Correcção: eu não me permito dar ao luxo de errar nem de desperdiçar um minuto.
E, no entanto, faço-o todos os dias, sem excepção.
Às vezes penso... que sou maluca, que não bato bem, que consigo tornar a minha vida miserável simplesmente porque não encaixo certas coisas.
E, no entanto, a loucura é definida por dados estatísticos.
É que está fora do padrão normal.
Mas digam-me:
É normal eu ter 28 anos e ainda não querer deixar de ser jovem?
É normal eu ter aqueles instintos básicos da maternidade e reprimi-los com um redondo investimento na carreira profissional?
É normal deixar de ver o casamento como um conto de fadas, para ver um acto burocrático?
É normal?
Sou realista, sou prática... demais. Porque tudo em mim é demais. Porque nunca soube, e duvido se alguma vez aprenderei, a viver no meio termo.
Sou assim. Tenho de viver comigo. E o mundo virtual tem de aturar os meus cochichos.
No meu sofá, olho de mim para mim e pergunto preocupada:
- É grave, doutora?
- É crónico.
- E o que posso fazer para melhorar?
- Viva mais... pense menos.
Estou calada, mas apetece-me falar.
Escrevo, mas não sei o que dizer.
Sinto-me triste, mas não consigo chorar.
Quero comer, mas não tenho fome.
Devia dormir e não tenho sono.
Eterna balança, vivo sempre em dois pólos. Aquele em que estou bem, sorridente, bem disposta, animada, optimista, divertida, dinâmica, activa e motivada. O outro... bom, no outro estou apenas (apenas!...) depressiva. Como estou agora.
Não é uma condição má. Não no grau em que está agora. Para mim, desde há muito que aprendi a viver esta condição como necessária. Um pouco de amargo, para sentir melhor o doce do mel.
As palavras parecem-me fazer sentido, mas porque será que não as sinto?
Falo comigo e digo a mim própria coisas que só esperaria ouvir de um psicanalista, com a diferença que eu não cobro balúrdios e trago o sofá sempre comigo. Tudo o que me digo faz sentido, mas porque não me dou ouvidos?
Porque a tristeza é um vício, tanto maior quanto menos pensado é. Queremos disfrutar da tristeza, queremos chafurdar na nossa melancolia e viver orgulhosamente com estes espinhos de dor cravados no nosso âmago.
Pronto, ok. Sem os espinhos.
Vivemos só orgulhosamente na merda.
O calão diz tudo. Não porque a palavra encerre muitos sentidos, mas porque a utilizamos de muitas maneiras e para muitos fins. E é nos fins menos próprios que a palavra parece realizar-se em pleno.
Estou na merda.
...
Não, não é assim que faço o diagnóstico.
Normalmente junto três palavrinhas fatais e digo de mim para mim:
Não estou bem.
Não estar bem não é estar na merda, mas quando o digo é porque já lá estou há algum tempo e só agora percebi.
Quero lá então saber se estou só com a merda pelos tornozelos ou se já tomei banho até à ponta dos cabelos. Uma vez na merda só pensamos em tudo o que nos faz sentir mal. Mais merda, menos merda, não vai fazer diferença e já que estamos tristes sem saber, o melhor é mesmo arranjar um pretexto, ou todos os que nos possamos lembrar.
E hoje lembrei-me que:
Tenho medo de ter feito erros irremediáveis pela vida fora.
Tenho medo de não ser a pessoa que acredito ou quero ser.
Tenho medo das doenças, dos hospitais, de morrer sem ninguém ao pé...(finalmente, estou a chorar! Oh, como eu precisava disto...).
Tenho medo de não poder ter filhos, mas...
Tenho medo de os ter e não ser uma boa mãe para eles.
Tenho medo de esquecer as pessoas só por estarem mortas e de esquecer todas as pequeninas coisas que fizeram o meu quotidiano com elas.
Tenho medo de... viver a minha vida alegremente e chegar ao fim e pensar que não era nada disto que eu queria viver.
Só temos uma vida, depois é GAME OVER.
Não nos podemos dar ao luxo de errar, não nos podemos dar ao luxo de desperdiçar um minuto.
Correcção: eu não me permito dar ao luxo de errar nem de desperdiçar um minuto.
E, no entanto, faço-o todos os dias, sem excepção.
Às vezes penso... que sou maluca, que não bato bem, que consigo tornar a minha vida miserável simplesmente porque não encaixo certas coisas.
E, no entanto, a loucura é definida por dados estatísticos.
É que está fora do padrão normal.
Mas digam-me:
É normal eu ter 28 anos e ainda não querer deixar de ser jovem?
É normal eu ter aqueles instintos básicos da maternidade e reprimi-los com um redondo investimento na carreira profissional?
É normal deixar de ver o casamento como um conto de fadas, para ver um acto burocrático?
É normal?
Sou realista, sou prática... demais. Porque tudo em mim é demais. Porque nunca soube, e duvido se alguma vez aprenderei, a viver no meio termo.
Sou assim. Tenho de viver comigo. E o mundo virtual tem de aturar os meus cochichos.
No meu sofá, olho de mim para mim e pergunto preocupada:
- É grave, doutora?
- É crónico.
- E o que posso fazer para melhorar?
- Viva mais... pense menos.